Na noite do domingo, 20 de setembro, a atriz Viola Davis é a primeira mulher negra a ganhar um Emmy como atriz dramática.

Quando minha filha de um ano entender o que é televisão e a mágica que acontece dentro dela espero que não seja breaking news de todos os noticiários “Primeira mulher negra que…”. Espero que seja algo comum e corriqueiro.

Espero que tenham tantas mulheres negras na televisão, assim como no teatro e no cinema, que ela saiba dizer o nome de pelo menos dez sem ter que pensar por muito tempo.

Espero que ela não me diga “Mamãe, quero alisar meu cabelo igual a atriz tal porque ela está na capa dessas cinco revistas e todos dizem que cabelo liso é mais bonito.”

Espero que ela não ouça “Você não pode fazer isso porque é mulher.” ou “Mulheres negras não podem fazer isso.”

Espero que ninguém nunca diga a ela a mesma coisa que um coreógrafo (muito famoso e querido por muitos bailarinos) me disse há mais ou menos quatro anos. “Ballet e mulher negra não combinam não é?! Vocês não são delicadas o suficiente.” E, se alguém disser isso para ela, que ela saiba responder à altura com educação e argumentos. Diferente da reação que tive quando tive o desprazer de ouvir isso: choque e tristeza.

Espero que no dia que minha filha veja televisão e entenda a mágica que acontece lá dentro que ela pense que se ela quiser fazer parte de tudo isso ela pode, sim. E, nesse dia, Mrs. Viola Davis estará ganhando o seu quinto, décimo, vigésimo Emmy, Oscar, Grammy.

Ontem, dia 20 de setembro de 2015, foi mais um dia para a minha lista de dias de construir representatividade para jovens negros. Demorou 65 anos para que esse dia chegasse, mas enfim chegou.

O dia em que uma mulher negra chamada Viola Davis ganhasse um Emmy de melhor atriz dramática. Assim como demorou 75 anos para que Misty Copeland fosse promovida a Prima Ballerina do American Ballet Theatre e este dia também chegou.

Esse prêmio não é somente dela, é de todas as mulheres negras que estavam presentes na cerimônia. De todas as mulheres negras (ou qualquer pessoa) que lute conosco e que de casa estavam assistindo, comemorando e aplaudindo cada palavra cheia de emoção que Viola disse em seu discurso.

Viola Davis cresceu na fazenda de sua avó localizada na Carolina do Sul, Estados Unidos. Foi aluna da Julliard School formando-se em 1993. Sua primeira personagem foi em 1996 no filme The Substance of Fire. Desde então, esteve presente em grandes produções como The Help pelo qual foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em filme de drama e ao Oscar de Melhor Atriz, o qual infelizmente não ganhou.

Sua personagem Professora Annalise Keating no seriado How to get away with a murder com certeza é a que rendeu maior destaque (e enfim um prêmio). A série, que estreia a segunda temporada neste mês pela ABC (exibido no Canal Sony Brasil), tem sido extremo sucesso não somente nos EUA, mas aqui no Brasil também.

Há alguns anos a produção audiovisual voltado para o público negro tem crescido nos EUA. Seriados como Empire, Scandal que estão no ar no momento e também seriados antigos como The Fresh Prince of Bel-Air e My Wife and Kids.

Viola Davis foi a primeira, mas não vai parar por aí. Porque existe Lupita Nyong’o, Olivia Pope, Halle Berry, Regina King, Uzo Aduba, Shona Rhimes e tantas outras atrizes tão talentosas e batalhadoras quanto.

E vai ter um dia (e será em breve) em que todos nós saberemos mais de dez nomes de atrizes negras, tanto brasileiras como estrangeiras.

Vai ter um dia que, para serem lembradas, estas atrizes negras não serão mencionadas pela sua beleza (conforme o padrão determina) e sim por seu talento, determinação.

“The only thing that separates women of color from anyone else is opportunity.”

Porque no dia em que houver oportunidade eu não vou precisar escrever um texto ressaltando o absurdo que em pleno 2015 ainda ouvimos “A primeira mulher negra que…”.

Não estou bancando a vítima. Não estou pedindo misericórdia e pena de ninguém.

Estou falando que não existe igualdade racialIsso é um problema. E ele não é somente meu.

E até o dia em que esse cenário mudar, nós mulheres negras continuaremos a lutar, nos dedicar, colocar a cara a tapa e vencer barreiras dia após dia como fazemos há anos.

 

 

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