Eu não sei vocês, mas eu me cobro muito. Há dois anos, mais ou menos nessa época, eu tive meu primeiro grande surto. Havia um mês que eu estava desempregada e achei que seria bom ficar uns meses “pensando na vida”. Pois estava eu pensando na vida quando percebi que ela estava toda errada. “Eu nunca mais vou voltar a trabalhar”, pensava no meio daquela noite interminável. “Ninguém mais vai querer me contratar.” “Vou ter que voltar pra casa dos meus pais depois de 9 anos em SP.” “É, nem mais um namorado eu tenho para me dar apoio.” “É ninguém nunca vai querer namorar uma gorda e desempregada”. Sim, nestes momentos a gente sempre extrapola para todas as esferas da vida. Eu realmente senti o que é ser uma looser (termo muito usado em inglês para dizer que uma pessoa é perdedora, na vida).

 

Não, eu realmente, definitivamente, com certezamente não sou uma looser. Alguém que com recém-feitos 18 anos arrisca sair de uma cidade de 60 mil habitantes para ir para uma de 12 milhões tentar sorte definitivamente é vencedora, pelo menos de seus próprios medos. Mas, naquela noite eu não conseguia ver isso. E continuei me autoflagelando (nos pensamentos) por mais um tempo.

 

E não demorou para acontecer uma da quase clássicas ironias do destino (#WoodyAllenLover): recebi uma ligação totalmente inesperada, em que a moça na linha falava que eu havia ganho um prêmio de Jornalismo por uma matéria que eu escrevi. Era meu primeiro prêmio de jornalismo e eu nem lembrava mais que tinha me inscrito na competição.

 

Hoje, pouco mais de dois anos depois, eu subi de novo em mais três palcos. Três prêmios de Jornalismo em um mês. “UAU, você já pode pedir música no Fantástico!” É quando eu estava, na última segunda-feira, aguardando ser chamada para receber o troféu, coração a mil, eu pensei : “Nossa, poderia ter deixado de comer aquela pizza no fim de semana pra ficar mais magra nas fotos”. Sim, eu fui uma ridícula.

 

E, percebendo o quanto ridícula eu estava sendo em um momento que eu não tinha motivo algum para ser autoflageladora – pelo contrário, deveria estar radiando felicidade – eu também percebi como eu sou rígida comigo, como a única pessoa que realmente vê os erros, as falhas, as gordurinhas, sou eu mesma.

 

 

A minha reflexão hoje não é para deixarmos de ser autocríticas. De verdade, acredito que ninguém melhor que você para saber aonde pode melhorar. Mas, que consigamos também nos dar momentos de paz e satisfação quando realmente merecemos. É, sem dúvida alguma, um exercício diário. Mas reconhecer isso é um grande passo.

 

O autoconhecimento é o caminho mais certeiro para encontrarmos nosso equilíbrio, nossa felicidade. E naquela noite eu celebrei e ri de mim mesma. Aquela noite, dois anos atrás, parecia tão distante, tão improvável.

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