Você acorda, toma seu banho – ou não. Se arruma.  Vai até a cozinha, pega   alguma coisa na geladeira e sai – está atrasada. A firma te espera. Chega com mil jobs na cabeça, se senta em frente ao computador e dali só sairá para o almoço, se é que não pedirá um japa express ou uma trash food mesmo. Perto do final do dia você descobre que ainda tem muito a fazer. Esquece o jantar. Em sua gaveta tem o suficiente para alimentar dragas africanas: balas, biscoitos, chocolates, salgadinhos…
Assim você vai levando, sem ter tempo para olhar pela janela e ver como está o tempo. Sem tempo para receber a ligação daquela amiga que insiste em te ligar no meio do expediente – aliás, que sem noção ela, não?! E sem tempo para conversas banais, você continua sua vida na firma. Se alegrando com ideias aprovadas e jobs bem-sucedidos, apagando as luzes do escritório e voltando para casa para descansar um pouquinho e voltar no outro dia, com a cabeça cheia de Jobs.
Numa rotina que parece perfeita não existe espaço para mais nada. Pra gente perceber que existe vida para além da firma, precisa de uns tapas da vida: uma separação por conta das ausências e horas-extras, uma úlcera nervosa, muitos kilos a mais e um coração fraco – tristeza. De repente você olha pro espelho e percebe que anos se passaram e você já nem sabe mais o número daquela amiga, que apesar de sem noção te fazia sorrir. Percebe que suas últimas ligações foram para os clientes chineses – chatos de galocha, que não te atenderiam se você não tivesse os ajudado a fechar tantos negócios. Percebe que suas relações se tornaram frágeis. Percebe que está sozinha. Que não existe mais nada além dos Jobs, te esperando – sim eles nunca te abandonarão. Então você respira fundo e insiste em não enxergar vida para além da firma. Foca em suas planilhas e vê que os resultados do último job geraram resultados ainda maiores. Como que num alívio insano você acredita: tá tudo certo. Tá tudo sob controle.

 

 

 

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