Na última semana, a prática comum adotada por casas noturnas de oferecer preços mais baixos para as mulheres nas baladas foi parar na Justiça. O estudante de Direito Roberto Casali Júnior conseguiu uma liminar na Justiça contra o organizador de um show, após se indignar com a cobrança diferenciada de ingressos em Brasília. Ele tentou comprar ingressos mais baratos com base na lei da igualdade e teve o pedido recusado. A juíza de direito substituta do Juizado Especial Cível (JEC), Caroline Santos Lima, concedeu uma liminar favorável a ele, com base no argumento de igualdade de gênero do consumidor.

 

Agora, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, divulgou uma nota em que orienta estabelecimentos do setor de lazer, como bares e casas noturnas, a não cobrar preços diferentes para homens e mulheres. Alegando que além de ilegal, a cobrança diferenciada por gênero fere o princípio da dignidade da pessoa humana e da isonomia/igualdade nas relações de consumo.

 

O principio que levou à decisão, a meu ver, está correto. Não brigamos por igualdade de direitos? Então, temos de arcar também com a igualdade de deveres. Mas, como tudo na vida, essa questão tem vieses.

 

Mulheres devem pagar o mesmo valor para qualquer produto e serviço, mas também tem que ter salários iguais aos homens no mesmo cargo. E vamos parar de hipocrisia, isto está longe de ser a nossa realidade.

 

Temos que pagar sim o mesmo valor, pois não somos parte do kit de marketing das casas noturnas para atrair pessoas que saem para “caçar”. Mas o tempo dirá se essa nova regra esvaziará ou não as baladas e o quanto a questão de gênero é respeitada no íntimo de homens e mulheres, ou apenas uma bravata que é linda apenas quando não atinge o bolso de ninguém.

 

No entanto, algumas mulheres que cresceram em um lar em que o pai sempre foi o provedor cuidadoso, esta simples questão acaba mexendo em baús psicológicos muito bem arquivados. Mesmo em pleno século XXI, cenários das mulheres empoderadas, existem profissionais independentes que ainda anseiam ser “cuidadas” por homens. Mesmo que não precisem de ninguém para pagar suas contas ou ser subsidiadas em uma balada. Complexo né?

 

* Mad Man: uma premiada série de televisão americana exibida de 2007 a 2014, pela AMC nos Estados Unidos e na Netflix e TV Cultura para os brasileiros. A série passa-se na década de 1960, inicialmente na agência de publicidade fictícia Sterling Cooper, localizada na Madison Avenue, em Nova York. O foco da série é o personagem Don Draper (Jon Hamm), diretor de criação da Sterling Cooper, bem como as pessoas que fazem parte de seu círculo social. A trama tem como foco a parte profissional das agências de publicidade e as vidas pessoais das personagens que trabalham nelas, à luz das mudanças sociais ocorridas nos Estados Unidos da época.

 

Acredito, então, que a questão toda é muito mais de bom senso e respeito às diferenças, não só de gênero, mas principalmente da forma de encarar a vida. Que nós, mulheres, tenhamos sempre o direito de sermos donas de nossos corpos e de sermos tão valorizadas (e remuneradas) quanto qualquer outro ser humano. Mas que possamos também sempre ter nossas escolhas respeitadas, mesmo que essa escolha seja ser tratada como uma dama do seriado Mad Man*.

 

 

 

 

 

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