Para os amantes de vinhos, uma boa notícia: quatro variedades de uvas ressurgiram depois de décadas de esquecimento na região de Champagne, nordeste da França. Arbane, petit meslier, fromentot e blanc vrai podem até entrar nas indicações de sommeliers do mundo inteiro, mas certamente não serão as uvas favoritas dos ambientalistas. Desaparecidas desde a Primeira Guerra Mundial, elas voltaram graças – em parte – ao aquecimento global.
Para discutir esse tema de importância mundial, que envolve desde a preservação das áreas verdes, redução de emissão de gás carbônico, desperdício de alimentos, reciclagem, até cooperativismo, consumo consciente e senso de comunidade, o TEDxSP dedicou um dia inteiro para falar sobre o Futuro Melhor nesta semana.
“A mudança climática não ameaça a vida no planeta. Ameaça apenas a civilização humana”. Essa era a frase que aparecia na tela ao fundo enquanto Roberto Smeraldi, fundador da OSCIP Amigos da Terra e membro do Fórum Brasileiro sobre Mudanças Climáticas, discorria sobre as catástrofes ambientais e sociais e sua ligação com o aquecimento. O aumento de apenas 2 graus na temperatura terrestre pode ser uma “febre fatal” para muitos. Isso sem contar os prejuízos financeiros envolvidos, como o alagamento de cidades – Nova York, por exemplo – e a perda de plantações, o que elevaria o preço dos alimentos no mundo todo.
Em suas palestras à frente do The Climate Project, Al Gore, Nobel e ex-vice-presidente dos Estados Unidos, comenta, por exemplo, que a falta de água no Brasil está intimamente ligada ao desmatamento da Amazônia. Não é o planeta que vai sofrer porque o ciclo de água continuará o mesmo. É a humanidade que corre o risco de extinção, defende.
Para Glauco Kimura de Freitas, biólogo no WWF Brasil, é preocupante o que pode acontecer com os ecossistemas brasileiros, como o Pantanal. Além do turismo, alterações no clima podem prejudicar a produção de alimentos no Brasil, um dos maiores países importadores de commodities agrícolas. A agropecuária, que consome 70% da água disponível no planeta, será uma das mais afetadas se o regime de chuvas mudar de direção. E isso certamente se traduzirá em inflação de alimentos.
Caro ou barato, o fato é que o brasileiro desperdiça 30% dos alimentos que produz. O Brasil é um dos dez países que mais desperdiçam comida em todo o mundo. Para acabarmos com isso, Patrícia Quadri Coelho, idealizadora da Remeli, sugere ações em duas frentes: planejamento de refeições e conscientização da população. “Não faz o menor sentido no jeito que fazemos compra hoje”, destaca no TEDxSP, que aconteceu esta semana em São Paulo.
Para ela, precisamos responder com antecedência “o que queremos comer no jantar” para montarmos uma lista de compras mais realista e não levar pra casa o que não conseguiremos consumir. “Vivemos um paradoxo alimentar: morremos por falta (desnutrição) e também pelo seu excesso (obesidade)”, diz Patrícia. De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), 3,4 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar.
Com a inflação e juros altos roubando dinheiro da carteira dos brasileiros, enquanto o desemprego procura novas vítimas, ninguém pode se dar ao luxo de deixar algo apodrecer na geladeira. Por outro lado, a economia deixa de movimentar outros R$ 8 bilhões porque não reciclamos o que poderíamos, segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). O serviço de coleta só atende 8% dos municípios brasileiros.
Esses números tiraram o sono de Roger Koeppl, jovem empreendedor que fundou a YouGreen, uma cooperativa de reciclagem que tem como objetivo profissionalizar o cooperativismo e melhorar a vida dos catadores. Ele defendeu no TEDxSP a inspiração do modelo cooperativo no mundo dos negócios e dá algumas dicas: “Reconheça as pessoas pela função social. Valorize a participação de todos. Dedique-se ao máximo ao que você está fazendo”, fecha seu discurso em prol de um Futuro Melhor.