É como dizem, mais novo a gente não fica, então, porque ter medo disso? Viver com medo não é uma boa forma de viver.

Como explica a pesquisadora em Gerontologia, Suyen A. Miranda, um dos pontos mais delicados no que se refere ao aspecto social do envelhecimento é a falta de informação, o que acaba gerando preconceito.

“Muita gente associa envelhecer a quem tem bastante idade, sendo que o momento quando temos o maior envelhecimento é justamente quando ele começa sua jornada de vida, na vida intrauterina. De algo microscópico de duas células nos tornamos milhões e chegamos ao mundo num tamanho que irá dobrar ou mais que isso em pouco menos de um ano”, afirma Suyen.

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De acordo com Suyen, envelhecer é toda a nossa trajetória de vida, e só envelhece pouco quem vive pouco. “As pessoas devem agradecer por envelhecerem, pois é uma dádiva viver muito e bem. Em diversos lugares do mundo infelizmente isso não ocorre”, frisa.

E quanto ao aspecto da saúde, a pesquisadora lembra que isso independe de idade. “Vemos crianças com problemas de saúde graves e idosos extremamente saudáveis. O que conta, em grande parte dos casos é como a pessoa vive ou viveu os anos que antecederam. Até aspectos hereditários se modificam a partir de como a pessoa lida com seu estado geral. A boa nova é que a medicina vem se desenvolvendo a passos largos trazendo novas tecnologias capazes de mapear o organismo, calcular desgastes, prevenir ocorrências e assim reverter processos”, explica.

Quanto ao medo de envelhecer, Suyen associa ao conceito de finitude e decrepitude na sociedade Ocidental, e a origem disso vem da Idade Média. “Até este tempo, na Antiguidade Clássica, as pessoas mais velhas eram reverenciadas. Elas representavam o saber e por terem vivido mais que a média (lembrando que até o século IX a vida não passava dos 45 anos), os mais velhos provavam, com sua idade, que eram indivíduos superiores, mais preparados e resistentes. Os filósofos gregos são um bom exemplo: todos com mais de 25 anos quando do auge da sua produção”, exemplifica.

Esse medo é histórico

A pesquisadora, que se dedica ao tema desde 2010, levantou dados que mostram o ponto da mudança social sendo a Idade Média, quando o mais importante era o sustento do feudo e a obediência ao poder do Rei, considerado poder divino.

Assim, mulheres e homens que conseguiam passar a barreira dos 30 anos apesar das doenças, da falta de boas condições sanitárias – no caso das mulheres, apesar dos diversos partos que era comum e esperado: mais braços para a lavoura do feudo – eram considerados problema social. Se ficassem viúvos, como iriam se manter?

A mulher velha ganha a alcunha de bruxa e acaba sendo a representação da velhice na nossa sociedade: pele enrugada e desgastada pelo sol, corpo corcunda por estar sempre abaixada na lavoura, verrugas no rosto oriundas das condições de vida, cabelos desalinhados grisalhos (algo que tem mais relação hereditária do que de tempo de vida), e tinha de ser sustentada pelas pessoas do feudo. Assim nasceu a grande perseguição às bruxas, que na verdade eram mulheres e homens velhos, e isso foi conveniente com o momento econômico da sociedade feudal.

Suyen A. Miranda enfatiza que, nestes tempos medievais, uma mulher ou homem com idade superior a 25 anos, e ainda por cima capaz de curar com chás ou exercícios respiratórios, já era candidato ideal para a fogueira. “A inquisição fez muitas vítimas
nestas condições…”, afirma.

“Graças a Deus houve o Renascimento e processos histórico sociais que estimularam novamente as artes, a ciência e sobretudo a maturidade com o conceito de qualidade de vida”.

No entanto, ainda carregamos nas histórias de contos de fadas muito do medo de envelhecer, que hoje tem mais de lenda do que verdade, a partir destas premissas:

1. Hoje as pessoas vivem mais e melhor, principalmente porque somente com a idade desenvolvemos maturidade emocional – Uma pessoa jovem sofre copiosamente com a rejeição, com os limites e questiona a si mesma por não se conhecer o suficiente, coisa que em maduros tem um peso muito menor. A idade nos traz tranquilidade e tira a necessidade de querer agradar a todos e tudo.

2. As novas gerações estão menos preparadas do ponto de vista acadêmico e mesmo social no mercado corporativo. Isso é notado concretamente nas vagas de emprego que, até os anos 80, descartavam quem tinha mais de 40 anos – por conta da condição do labor físico, do trabalho associado a vitalidade corporal, aproximação da aposentadoria entre os principais fatores limitadores. Hoje, como temos a tecnologia ao favor fazendo o trabalho pesado, questões relativas a capacidade física passam a ser secundárias. Há mais vagas para quem tem limitações e inclusive há grande procura dos empregadores por pessoas com deficiência que tenham motivação para aprendizado, trabalho e desenvolvimento profissional.

3. Políticas inclusivas mundiais que consideram a longevidade. Para uma empresa, preparar alguém para posteriormente ir embora, seja para a concorrência ou para a aposentadoria, é algo como jogar dinheiro fora. No entanto, se o preparo for para alguém com experiência e vontade de construir carreira usando inteligência emocional e com maior “prazo de validade” por ser idoso, com saúde e conhecimento, este investimento no profissional mais maduro se prova rentável tanto em curto, médio e longo prazos. Ainda há toda a facilidade proporcionada pelo Estatuto do Idoso, dando mais garantias e respeito para estes indivíduos tanto no âmbito profissional quanto social e pessoal.

4. A tecnologia a favor pois é um novo mercado consumidor. Os idosos vem construindo seu patrimônio e querem aproveitar bem a vida, o que faz deles um grande grupo de consumidores extremamente interessante para bens e serviços como condomínios, academias de ginástica, setor automotivo, alimentação, recreação e cuidados de saúde. Muitas famílias brasileiras tem sido mantidas graças à aposentadoria de seus idosos…”, finaliza a pesquisadora, diretora da consultoria Velhice com Carinho, de São Paulo.

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