Lugar de mulher também é na ciência, na física. É isso que mostra Jocelyn Bell Burnell, uma das principais astrofísicas do Reino Unido. Neste mês ela foi anunciada como ganhadora do Prêmio Breakthrough Especial de Física Fundamental, que nada mais é que o mais lucrativo para a ciência moderna.
“Eu não quero nem preciso do dinheiro e me pareceu que esse fosse, talvez, o melhor uso que eu poderia dar a ele”, disse Burnell à BBC News, completando que acredita que grupos como esses podem fazer a diferença com novas ideias nessa área do conhecimento.
O desafio para as mulheres na área científica é muito grande. O próprio reconhecimento às ideias que Jocelyn introduziu nesse campo chegou cinco décadas (sim, 50 anos…) depois da descoberta que ela fez dos “pulsares”, que é como são chamadas estrelas de nêutrons que transformam a energia rotacional em energia eletromagnética.
A premiação chega também mais de 40 anos depois de outra data que tem relação direta com essa descoberta: a concessão do Prêmio Nobel de Física a dois colegas homens que trabalharam com ela na pesquisa. Eles foram os únicos a receberem reconhecimento, apesar do papel extremamente importante que Jocelyn exerceu.
A astrofísica é professora da Universidade de Oxford, estudou doutorado na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e teve participação importante no grupo de pesquisadores que descobriu o primeiro pulsar.
Jocelyn e mais dois colegas desenvolveram um telescópio projetado para capturar ondas de rádio e métodos para ler e processar os dados recebidos, comprovando, assim, que estrelas e outros objetos astronômicos emitem não apenas luz visível, mas também ondas de rádio.
Jocelyn Burnell era a responsável pela análise dos dados do telescópio que ajudou a construir e foi a primeira a identificar e analisar esses objetos astronômicos.
Ela identificou um sinal fraco e bem diferente de tudo que já havia pesquisa e, em entrevista ao jornal britânico The Guardian, disse que só percebeu isso “porque estava sendo realmente cuidadosa e minuciosa” e sua descoberta foi anunciada em 1968.
Apesar da sua participação essencial na descoberta do fenômeno, apenas seu supervisor Antony Hewish, e seu colega, Martin Ryle, foram anunciados como vencedores do Nobel, em 1974. Ela ficou de fora. Apesar de a decisão ter sido criticada na época, não pela cientista, mas pela mídia, o assunto morreu por aí.
Até agora. Jocelyn finalmente será reconhecida pelo trabalho realizado há mais de 40 anos e que foi essencial para a descoberta científica pela qual seus colegas homens foram premiados.
Yuri Milner, um dos fundadores da premiação, disse no texto em que a britânica é anunciada como vencedora na categoria especial que “sua curiosidade, suas observações diligentes e sua análise rigorosa revelaram alguns dos objetos mais interessantes e misteriosos do Universo”. “A professora Bell Burnell merece esse reconhecimento”, pontuou ele.
O prêmio que Jocelyn irá receber, só havia sido entregue em outras quatro ocasiões. Em uma delas, o agraciado foi Stephen Hawking.