Misoginia é uma palavra de origem grega que significa “ódio pela mulher”. Tal sentimento de ódio torna-se uma ideologia de opressão e violência às mulheres. E, quando falamos de violência, não estamos apenas falando de maus tratos físicos – que são os mais fáceis de identificarmos – mas também estamos falando de violência política (alô, Eduardo Cunha), sociológica, midiática e cultural. Estes últimos tipos de violência à mulher são mais intangíveis e difíceis de serem percebidos.
Como amante de Literatura que sou, muitos já me perguntaram por que não gosto de livros como “Cinquenta Tons de Cinza”, de E. L. James. Os motivos mais imediatos são aspectos técnicos da obra – narrativa, construção de personagens, aprofundamento de enredo, dentre outros – que não me atraíram. Mas o objetivo deste texto não é falar sobre isso, e sim, sobre o motivo principal de todos: Christian Grey é um misógino e precisamos começar a repudiá-los.
A parte mais complicada de todas é: na grande maioria dos casos, o próprio homem não se reconhece como um misógino. A nossa sociedade atual tem uma série de pré-conceitos e estereótipos tão enraizada sobre as mulheres que a misoginia fica escondida no meio deles, soterrada por anos e anos de machismos. Exemplos: mulher trabalha menos que o homem, mulher merece ganhar menos do que o homem, sumir sem dar satisfação para a mulher não tem nada demais, mulher não pode transar no primeiro encontro que torna-se uma vagabunda, mulher não pode ocupar posição de poder, e assim vai. Infelizmente, a lista de exemplos seria imensa. Isso tudo (e muito mais) é misoginia.
Ou, então, podemos resumir a misoginia em uma frase: “Os homens podem, as mulheres não.”
Uma das características comuns em misóginos é que eles tornam-se sedutores e charmosos, pois costumam ver as mulheres como uma “presa” que precisa ser “caçada”. As semelhanças com o comportamento de Christian Grey são óbvias, acredito eu. Mesmo quem não leu o livro nem assistiu ao filme sabe que o ponto forte do Grey é ser um bonitão rico e interessante que conquista várias mulheres, incluindo Anastácia.
Outra característica de um misógino são as oscilações de humor no relacionamento: às vezes próximos e carinhosos, às vezes distantes e frios. Faz parte da misoginia, como disse acima, a violência psicológica e emocional. E ela vem assim, sutil no dia a dia. Em ambos, filme e livro, Grey demonstra estes comportamentos ao longo de seu relacionamento com Anastácia.
E, por fim, dentre outros traços de comportamento de um misógino, quero destacar o controle. Ele se vê no direito de ditar e de determinar o mundo da mulher: quais roupas ela pode e não pode usar, que amigos e amigas pode ou não pode ter, como e onde irá gastar seu dinheiro, e coisas desta ordem. Na estória de “Cinquenta Tons de Cinza”, Anastácia torna-se uma esposa que faz tudo o que o marido quer – não apenas na cama.
Me assusto com o poder da misoginia todos os dias. Ela é secreta e perigosa, e mesmo nós, mulheres, não a notamos como deveríamos. O sucesso que este livro e filme fizeram me deixa ainda mais assustada – milhares de mulheres suspiram por esse cara e a própria autora da história é uma mulher. Não devemos dar nome, valor e sucesso a algo deste tipo. Devemos fazer o oposto: lutar contra este tipo de influência na nossa sociedade. E isso deve começar por nós mesmas, as mulheres.
Agora é a hora de começarmos a fazer escolhas melhores, e por que não começar com a Literatura?