A maior recompensa em escrever para o Plano Feminino é conhecer mulheres inspiradoras todos os dias. Elas contam suas histórias e abrem suas almas, tudo para nos ajudar a ajudar outras mulheres. Lindo isso!
É o caso deste projeto do amor, a Amôras, idealizado pela Fabiana Bussamra Guerra, de 42 anos, que é redatora e planner criativa, trabalhando na criação de eventos.
Após perder sua mãe de uma forma muito rápida e triste, ela e sua família receberam o apoio incondicional das pessoas a sua volta. Para retribuir esse carinho, e também como forma de homenagear sua mãe, ela criou lembrancinhas a partir de algum item que pertencia a ela, como por exemplo suas lãs.
Dez meses depois, foi a vez de se despedir de seu pai e, um mês depois, seu sogro. E, infelizmente não parou por aí. Cinco meses depois seu golden faleceu e mais tarde seu schnauzer. Mais cinco meses, sua melhor amiga e avó.
Então achar algo que realmente fizesse sentido em sua vida tornou-se imperativo. “Fiquei meio que desacreditada sabe?”, desabafou Fabiana em entrevista exclusiva por e-mail com o Plano Feminino.
Foi quando as lembrancinhas que fez pela sua mãe tornaram-se um projeto de fato, a Amôras, que é a palavra amor no plural e no feminino.
“A Amôras é meu plano B, mais importante que tudo. Mesmo porque, todas as vendas terão uma porcentagem revertida para uma entidade que cuida de crianças com câncer ou para qualquer pessoa que tenha esta doença e precise de ajuda. Só quero viver de espalhar amor, gentileza, cor e beleza“, conta.
Eu tive o prazer de entrevistar a Fabiana e compartilho aqui com vocês essa mulher guerreira, sem medo de se reinventar, buscando consolo na gentileza.
Plano Feminino: Como surgiu a ideia do nome do seu projeto?
Fabiana Guerra: Tenho uma prima que era como filha para a minha mãe. E a minha mãe a chamava de Amôra (amor no feminino). No final do ano passado… na noite em que eu resolvi que a homenagem para a minha mãe iria se tornar meu modo de vida, me veio na hora o nome Amôras, só que no plural… porque eu também era uma amôra… e as duas sempre serão minhas amôras (minha mãe e a minha prima)… Amôras, amor no feminino e no plural…
PF: Conte mais da produção, o que você costuma fazer, quanto tempo leva, materiais.
FG: Quando a minha mãe adoeceu e depois veio a morrer (foi tudo muito rápido), eu, meu irmão, meu pai e meu marido recebemos muita ajuda. Teve bolo quentinho, abraço apertado, pizza, companhia enquanto eu esperava um médico dar o resultado. E assim por diante. Depois que ela morreu, achamos sacos e mais sacos de linhas e lãs… e na mesma época achei uma imagem no Pinterest de stringArt em forma de coração. Na hora eu já sabia que era aquilo. A gente queria presentear as pessoas que tanto nos ajudaram e imagine se fosse com algo que pertenceu a minha mãe… todos que receberam amaram, se emocionaram. Foi incrível.
Passou um tempo, 2 anos e meio. E um belo dia, me veio uma coisa na cabeça… de que as linhas e lãs deveriam ser um meu jeito de fazer um mundo melhor, de construir ao invés de desmoronar… resolvi fazer os quadrinhos. Montei uma fanpage e no mesmo dia tive um monte de encomendas.
Cinco meses depois, a Amôras tá indo muito bem (comecinho ainda). Qualquer imagem pode se transformar em um lindo quadro de linhas e pregos, técnica que recebe o nome de stringArt. Hoje faço qualquer desenho ou frase… ou os dois juntos. Uso muita cor e venho fazendo testes de envelhecimento de madeira, fica lindo.
Uso linhas mais finas e faço um trabalho bem delicado, passando linha desde a base do prego… diferente de qualquer trabalho que eu já tenha visto – na verdade customizei a técnica e dei a minha cara!
Preciso de uma semana para fazer cada quadrinho. Na maioria das vezes, fica pronto antes. Mas como trabalho fora não posso me comprometer e depois não entregar.
Duas pessoas são mais do que importantes para que exista a Amôras (além da minha mãe e dos meus amores que se foram), meu marido Hugo Guerra, que martela cada preguinho e a minha amiga diretora de arte Ellen Nagai, que fez o logo e me ajuda com os moldes.
PF: Se você pudesse dar algum conselho para as leitoras do Plano, qual seria?
FG: Estamos vivos! Não tem jeito, não dá pra parar e nem viver como se estivesse morta (ás vezes, morrermos e não percebemos). A gente precisa se reinventar o tempo todo na vida pessoal e profissional. Se não tá feliz, mude… na Amôras todo dia eu invento alguma coisa, senão a vida fica insuportável. Seja uma inspiração… esse é o meu maior conselho, meu maior desejo, meu maior sonho. Quero ser inspiração na vida das pessoas. Escuto muito: “não sei como você consegue estar de pé depois de tudo que aconteceu”. É muito simples: não tenho outra alternativa.
PF: Gostaria de contar mais alguma história, uma curiosidade, um desabafo que não perguntei mas que seria legal compartilhar para inspirar outras mulheres?
FG: Tem dia que não é fácil. Sair de um luto já não é moleza. Imagina sair de 07. Vou indo… mas, às vezes, tenho que voltar algumas casas, descansar, chorar. Jamais vou aceitar que essas pessoas me deixaram, que todos morreram em apenas 2 anos e meio. Tem algo bem maior que isso, e a morte tem que ser renascimento para quem fica. A Amôras tem me ajudado a ser mais feliz, a repensar Planos de vida, a olhar ainda mais pra dentro de mim. Sofrer é muito cansativo, tem horas que tenho vontade de jogar tudo pro alto… mas como diz aquele ditadinho que tá na moda hoje em dia: “eu não jogo tudo pro alto porque depois ia ter que catar tudo de novo”.
A Amôras está em construção. A cada dia eu tenho uma ideia nova. Quero novas cores, madeiras e materiais. Não quero que este projeto fique estagnado. Por isso, ele está ganhando conceito… o nosso coração (do logo) vai mudar o tempo todo de cor, porque a vida muda o tempo todo.
E aqui, nossa homenagem aos entes queridos da Fabiana que se despediram, mas que com certeza estão muito orgulhosos da mulher que ela se tornou. <3
– Mãe Sonia Bussamra – morreu dia 14 de junho de 2013 de câncer – “ela era uma festa em forma de pessoa – adorava fazer artesanato. De repente, começou a sentir dores nas costas e os médicos diziam que era lombalgia, mas não passava e só piorava. Na verdade, a coluna já estava quebrada pelo câncer de osso… foi uma loucura. Morreu em 2 meses e 8 dias, acho que esta morte foi tão violenta pra gente, que até agora não entendemos nada”.
– Pai Farid Bussamra – morreu dia 03 de maio de 2014 – “ele era advogado – aquele cara que fazia piadas inteligentes… morreu exatamente um ano depois que descobrimos a doença da minha mãe. Ele já tinha um Linfoma bem agressivo, mas o médico dizia que ele não ia morrer de câncer, mas ia morrer com o câncer. No enterro da minha mãe, ele deixou claro que a vida tinha perdido a graça, ele desistiu”.
– Sogro Francisco Guerra – “morreu no dia 18 de junho de 2014 – foi internado no dia do enterro do meu pai. Câncer é claro, e assim como a minha mãe não teve tempo nem de se tratar. Eu estava anestesiada, não conseguia ou não queria entender nada. A morte dele foi mais uma porrada”.
– Golden Luke – “meu amor – morreu dia 12 de dezembro de 2014, de câncer – na verdade foi fazer uma cirurgia para retirar o câncer no testículo e não aguentou a anestesia. A notícia do câncer dele foi uma tragédia pra gente, eu e meu marido quase enlouquecemos. Pra gente cachorro é gente – tipo filho”.
– Melhor Amiga Melissa Mascheretti – “morreu dia 14 de maio de 2015, no dia das mães. O câncer venceu mais uma vez. Ela era médica e minha amiga desde dos 14 anos. Morreu aos 40 anos e deixou um filhinho de 5. Ela lutou bravamente, é um exemplo”.
– Avó Efrazuih Zeytounlian – “um ícone na nossa família, foi uma grande cantora de ópera armênia, morreu no dia 24 de maio de 2015 aos 94 anos. Pelo menos não foi de câncer. Uma avó sem igual – linda. Foi ficando velhinha e depois que a minha mãe morreu começou a sofrer. O mais maluco é que não contaram pra ela que a minha mãe tinha morrido, mas de repente eu e meu irmão deixamos de ser netos dela… ela dizia que eu era uma sobrinha”.
– Schnauzer Hans, morreu no dia 20 de novembro de 2015 – “só ele e a minha avó não morreram de câncer… uma loucura né! A morte dele foi o meu transbordar. Já estava mal, mas tentava me manter forte. Não aguentei e pela primeira vez sofri em silêncio… quietinha, resolvi me preservar”.