Mexendo em meus livros e cadernos, do período em que estudei Artes Cênicas, encontrei um texto que havia escrito sobre a história de um casal que na época muito me impressionou – ainda impressiona.
Apesar das religiões da Grécia e Roma Antiga terem desaparecido – já não existem mais homens que as cultuem e as mesmas nem pertencem mais à teologia – elas continuam inspirando a poesia e as belas artes. A história também inspirou outros escritores, poetas e artistas a criarem novos personagens românticos e desfechos surpreendentes para grandes amores e paixões.
A literatura moderna, ao abordar o amor, bebe na fonte de Píramo e Tisbe. Ditos como belos e apaixonados, embora suas famílias não concordassem com o sentimento de ambos, sempre encontravam uma forma de se olhar e comunicar o amor que sentiam. Conta a história que suas casas eram lado a lado e os dois encontraram nesta construção, um defeito, uma brecha – canal por onde se olhavam e sentiam o amor e desejo crescer a cada dia, trocando mensagens e ouvindo suas respirações por entre a fenda existente na parede que dividia as casas do casal. Um dia resolveram fugir e combinaram de se encontrar embaixo de uma amoreira branca, próximo a uma fonte e então viverem felizes para sempre. Tisbe foi a primeira a chegar, mas logo que o fez avistou uma leoa bebendo água da fonte e tratou de se esconder em uma gruta, deixando seu véu cair sobre a amoreira branca. A leoa, avistando o véu, o destruiu com sua boca ensanguentada.
Quando Píramo chegou no local do encontro, viu o véu destruído e cheio de sangue e logo imaginou que uma tragédia havia acontecido e por sua culpa. Ele tirou sua espada e mergulhou-a no coração – Esta cena te lembra Romeu e Julieta? – Quando Tisbe saiu da gruta para encontrar o amado o encontrou morto embaixo da amoreira que estava com os frutos vermelhos de seu sangue. Com muita tristeza e sentimento de culpa, a donzela também usou a espada para se unir ao seu amado, desta vez à morte.
Conta a história que a metamorfose da amoreira branca – que passou a dar frutos vermelhos – deu-se para simbolizar o amor e o sangue dos apaixonados.
A história de Píramo e Tisbe foi inscrita por Ovídio que nasceu em 43 antes de Cristo e morreu em 18 depois de Cristo, mostrando que há muito tempo o povo se preocupa, se inspira e se emociona com o amor e suas facetas.
Prova disso é a inspiração de Shakespeare na criação do clássico Romeu e Julieta, que na minha opinião teve sua mais bela versão para o cinema em 1968 – me emocionei de verdade quando assisti – com a direção de Franco Zeffirelli. O casal Olivia Hussey (Julieta) e Leonard Whiting (Romeu) representou a história com inocência e paixão impressionantes. Vale a pena.