Na esquina do trabalho há um restaurante onde costumo tomar café pela manhã. Apesar de estar no meio de um bairro daqueles bem metidos, o lugar é simples, com comida
caseira, PFs, especialidades nordestinas como baião de dois e tapiocas deliciosas, além de café decente a preço bom e um pudim de leite de comer rezando.
Eu encosto no balcão e peço um café preto coado; se dá tempo, peço suco de laranja e pão na chapa, porque é assim que aprendi a pedir na padoca, no boteco ou na boulangerie: café, suco, pão.
E o de lá é bem gostoso, pão francês fresquinho servido com uma dourada camada de manteiga aquecida, e eventualmente, quando a dieta permite, coberto com uma quantidade generosa de requeijão na saída, ou seja, colocado depois do pão aquecer.
Dentro do balcão trabalham dois rapazes, um chapeiro e um atendente. Os dois são só sorrisos, não importa a hora que eu passe nem a cara que eu chegue.
Ontem encostei lá no fim do dia e o atendente me avisou que eles começaram a fazer salada de frutas agora, e que eu ia adorar. Comi uma, claro. E adorei.
Quando contei que ia voltar pra agência ainda apesar de já estar escuro, o chapeiro disse “Menina, tá trabalhando demais, hein? Assim não fica rica, quem trabalha não tem tempo de ficar rico!” e deu risada enquanto preparava um misto quente pra alguém.
Outro dia vi o dono do restaurante juntando uns restos de comida para dar para um cachorro de rua muito feio que passa por ali de vez em quando.
A moça do caixa troca dinheiro para o mendigo que junta moedas e troca por notas maiores sem perder o sorriso no rosto.
E quando tem fila na hora do almoço, ela pede desculpas, ainda sorrindo, e eu mesmo com pressa não tenho coragem de ficar brava com a demora.
As garçonetes são simpaticíssimas e uma delas, já mais velha, me chama de “amor”, “querida”, “minha linda”.
E não soa falso: os vocativos carinhosos rolam pra fora da boca dela com uma doçura e gentileza que me impedem de achar ruim ou desrespeitoso.
Ouvir “Amor, hoje tem o pudim com coco que você gosta” ou “Meu bem, acabou de sair a empadinha!” são uma maneira de me lembrar logo cedo que a doçura ainda existe mesmo no coração de um bairro elitista onde as pessoas não se dão bom dia.
Quanto será que ganham essas pessoas? Garçonetes, chapeiros, funcionários de um restaurante simples que cobra barato por refeições certamente não recebem salários muito altos; eles certamente não são ricos.
Mas todo dia eles servem sorrisos e carinhos de graça, e por esse trabalho eu nem sei quanto eles deveriam receber. Mais do que eu posso pagar em dinheiro, imagino.
Então pago com sorrisos de volta e espero que seja o suficiente para agradecer por tudo que eles me dão.