Manu Cunhas é uma ilustradora de mão cheia, mas mais que isso, é uma mulher transbordando Planos! E daqueles que contagiam todas as outras mulheres, a se amarem, se aceitarem, se tornarem mais felizes e representadas, ou seja, impossível não amar, né?!
Ela é formada em Design Gráfico pela UDESC, onde também leciona. Há 8 anos atua como ilustradora freelancer. Foi quando fez de seus talentos e amor pela aquarela uma forma de se expressar.
Então nasceu o Outras Meninas, seu projeto que ilustra mulheres reais e conta suas histórias.
“O Outras Meninas é um projeto muito especial, no qual venho trabalhando há pouco mais de um ano. Ele foi construído com a colaboração anônima de diversas mulheres que enviaram depoimentos falando sobre a relação que possuem com o próprio corpo, além de uma foto nua, ambas referências usadas para as ilustrações em aquarela que produzi. A ilustração e o depoimento anônimo foram postados nas redes do Tumblr, Facebook e Instagram e já conta com mais de 50 histórias publicadas”, escreveu para o Plano Feminino por e-mail.
E agora, a inspiradora iniciativa está buscando no financiamento coletivo a oportunidade de tornar estas ilustrações e histórias, que já impactaram positivamente tantas pessoas, em um livro.
“Esse Catarse busca publicar um livro de 180 página com todo esse material, além de algumas dezenas de outras ilustrações e histórias exclusivas do livro impresso. Como de praxe, o financiamento conta com diversas recompensas exclusivas e com número limitado de unidades, que incluem postais, adesivos, pôsteres, desenho originais, retratos feitos sob encomenda, além de um workshop de aquarela que acontecerá aqui em Florianópolis”, explica.
Faltam 20 dias para a campanha finalizar ou seja, corre lá tornar esse Plano realidade e todas juntas vamos empoderar mulheres e ajuda-las a assumirem o protagonismo de suas vidas!
Parabéns Manu, você é uma inspiração e me sinto honrada em escrever sobre você e seu trabalho <3
Veja agora o vídeo oficial do Outras Meninas e depois algumas das imagens:
“Eu sou uma pessoa ansiosa, muito ansiosa. Tem gente que come por ansiedade, no meu caso eu paro de comer – o que me faz emagrecer ainda mais de tempos e tempos. Várias amigas falam como isso é legal “queria eu parar de comer nessas horas”, mas sério gente, não é legal. As pessoas me olham como seu estivesse doente e sempre falando como eu seria mais bonita se ganhasse uns quilinhos. Minha saúde é frágil, minha pele é seca e eu vivo perdendo cabelo. Me sinto bem comigo mesma de uma maneira geral, mas facilmente eu emagreço um pouquinho – o que já é notável para todos, e começam aqueles infelizes comentários. Sei que é um problema a ser trabalhado, mas me sentiria menos ansiosa se eu não tivesse o povo controlando cada grama que perco ou ganho.
Cada vez que se comenta sobre como sou magra sinto que se fala sobre minha derrota em controlar meu nervosismo nas pequenas coisas do dia-a-dia. Dito isso, vou dar aqui algumas respostas prontas que já tenho na ponta da língua:
– Não, eu não estou doente.
– Sim, eu também acho que não preciso emagrecer mais.
– Sim, ia ser legal ganhar vários quilinhos agora.
– Não, eu realmente não estou doente, só estou cansada de responder isso.”
“Desde que eu me lembre por gente sou gorda. No começo eu era só ‘gordinha’, aquela criança um pouco maior que as outras, mas que chamava MUITA atenção por ainda ser mais alta que o resto, e uma coisa que aprendi na vida é que crianças são criaturas excepcionalmente maldosas quando podem. Os anos foram passando e fui ficando cada vez mais gorda e cada vez mais incomodada com esse fato (no colégio as coisas não melhoraram), até que eu percebi uma coisa genial: porque deixar os outros rindo de mim se eu mesma posso fazer a piada?
Agora eu era demais, a amiga gorda engraçada. Eu era o ‘brother’ dos meus amigos, a pessoa destemida e cômica que nem ligava para o que os outros falavam, um verdadeiro cara grosso e palhaço. Essa foi a fórmula da minha vida, uma maneira simples de me enturmar onde quer que eu fosse, me dando muito bem com homens, mas não de uma maneira romântica, é claro. Ignorei o fato de odiar ser o gordo do grupo, de ser a engraçadona que não tem um pingo de feminino no corpo e fui tocando a vida.
Depois de vários anos nesse papel comecei a ter azias constantes, que evoluíram para gastrites, que evoluíram para uma simpática úlcera. Comecei a ficar menos engraçada e mais ácida, seguindo o fluxo do meu próprio corpo, com isso minhas relações mudaram – eu me tornei a gorda desagradável. Eu já estava na faculdade, não estava mais com saco para agradar ninguém e nem tinha mais contato com meus colegas do colégio, simplesmente não ligava mais. Me tornei a gorda grossa, as pessoas diziam que eu era lésbica (porque naturalmente que não ser feminina é sinônimo de lesbianismo) e fui tocando na minha vida profissional. Me tornei reclusa e comecei a olhar para o que havia de mais lindo e era o que eu estudava – o céu. Não tenho que ser bonita ou engraçada onde estou agora, o que importam são os resultados do meu trabalho, que vai muito bem, obrigada. O que tenho agora são horas de silêncio e pesquisa, num lugar onde sou reconhecida pelo que faço, desviando os olhos da tristeza humana que me cerca, na companhia simples do vazio.”
“Quando eu era pequena, adorava roupas cheias de laços e acessórios fofos com cores doces, como várias outras meninas da minha idade. Tudo isso ficava muito bem em mim, até que de repente a puberdade me alcançou. Meu corpo mudou completamente, meus ombros alargaram e eu dei uma bela espichada, tudo que ficava tão bem em mim se tornou deslocado nessa idade. Eu era ridicularizada pela maioria dos meus colegas (e até professores), poucas amigas me apoiavam, mas eu tinha minha querida mãe – ela era meu porto seguro. Mãe solteira, ela se esforçava em dar conta de tudo sozinha e não ligava para o que os outros falavam, sempre me achando linda e me apoiando no que eu precisasse. Com o passar dos anos fui sendo considerada cada vez mais esquisita e alguns tinham a audácia de culpar minha mãe pelo meu jeito – como se isso fosse culpa de alguém.
Cresci e minha ânsia por conseguir com que as pessoas vissem meu verdadeiro eu só aumentava, por conta disso comecei a me lapidar para que todos reconhecessem por fora o que eu sabia que já era por dentro. Diversas vezes sinto que não vou agüentar tanta perseguição, mas o importante é manter a cabeça erguida e provar para eles que sou muito mais do que esses preconceitos bobos que vedam seus olhos permitem dizer sobre mim. Sou uma mulher transgênero e não deixarei os outros ditarem minha existência, continuarei seguindo o exemplo da minha mãe, uma mulher forte e independente que não se deixa abater pelos obstáculos da vida”
“O problema é que eu gosto do meu corpo, mesmo velho. Aí você se pergunta, como isso pode ser um problema?
Bom, as pessoas esperam que você seja mais “humilde” na terceira idade, com um tamanho de short decente ou uma roupa de banho grande o suficiente para tampar as marcas dos anos em você. Esses tempos fui com minha filha na praia e ela ficou horrorizada por eu ir de biquíni, já que ela mesma estava de maiô, para esconder o corpo meio flácido da gravidez.
Agora devo ter vergonha de ser o que sou? Já tive 10 corpos diferentes para cada fase da vida e agradeço a todos eles por ter chego até aqui e ainda conseguir caminhar mais rápido que meu neto na praia.”
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