Quem conhece a trajetória de alguém que já passou por intensos períodos de rejeição e injustiça, hoje em dia reduzidas à palavra bullying, sabe que sempre restam sequelas desse sentimento.

Ainda que se supere o sentimento maçante que a experiência te cause, mesmo que se prove maior que todos aqueles colegas que te fizeram sentir pequeno, mesmo que o cenário atual seja completamente outro.

A sensação de não poder pertencer sempre vem a tona ao longo da vida e a pessoa tem dois caminhos a seguir:

Identificar a dor que sentiu naqueles que estão presos nesse lugar de oprimido. Ou se aproveitar da situação de não estar nesse lugar e se juntar ao opressor, como uma compensação e pagamento de dívida ao seu próprio ego que tanto se feriu no passado.

 

Eu e você sabemos que a empatia do primeiro caminho é a causa certa pela qual devemos lutar. Mas também devemos entender que o ego ferido é traiçoeiro, o ego nos cega tanto que não sabemos o que é justo. Até sabemos, mas se nós já fomos injustiçados, por que o outro não pode ser um pouco também?

 

Mesmo não sendo meu lugar de fala, vejo que quando somos coniventes com a dor alheia por ser uma forma de “fazer justiça com as próprias mãos” não estamos sendo justos nem mesmo com a nossa própria dor. E, se não tomarmos cuidado, estaremos usando o sofrimento alheio como degrau para nos sentirmos maiores, e melhores.
E, é assim que se perde o jogo, é assim que se perdem seguidores, e é assim que se perde a vida pro ego.

O participante do reality a deixar a casa essa semana, Nego Di, alega ter sofrido bullying na época de escola e em seus shows de Stand Up Comedy, afirma que faz piada com o que passou. Diz ter usado as vivências de seu passado sofrido como degrau para a fama.

Só não percebeu que não é a única pessoa no mundo a passar por isso, sendo conivente com atitudes de cancelamento provenientes de colegas dentro da casa. Ele mesmo incentivou práticas de abuso sexual dentro da casa, em tom de brincadeira, se mostrando influenciado pela cultura do estupro e tomado pelo patriarcado.

Transformar nossas dores em aprendizados e ressignificar nossa trajetória na busca da nossa melhor versão e de respeito e equidade de gênero e raça é um desafio, mas é urgente que a gente visite estes lugares dentro de nós e busque esta mudança individual e coletiva. O cancelamento não resolve nada. O diálogo, autoconhecimento e acolhimento podem nos ajudar a mudar o jogo. Vamos juntos!

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