por Roberta Bertaia
Foi em abril de 2017, aos 32 anos, na mesa do café da manhã, onde por acaso ao me espreguiçar senti o músculo peitoral dolorido e coloquei a mão…”Meu Deus, um caroço!” foi o que eu pensei na hora e lá fomos nós pesquisar no Google. E lá encontrei o que eu “queria”, em outras palavras, basicamente o que encontrei foi:
– Na minha idade, dificilmente seria “algo mais grave”
– Se fosse “algo mais grave” apresentaria outros sintomas
E mais algumas conclusões que me tranquilizaram e me fizeram ficar mais relaxada.
Comentei com o marido sobre o “caroço”, ele logo de cara me aconselhou a procurar um médico e eu prontamente repliquei com meu “diagnóstico do Dr. Google” e assim adiei o médico por cerca de um mês, acreditando que não era nada de mais.
Por fim, no dia 22 de maio passaria em consulta com o ginecologista. Durante a consulta perguntei o que ele achava do caroço e a resposta foi justamente a que eu queria: “Fique tranquila, você é jovem, tem a idade a seu favor, mas vamos fazer um ultrassom das mamas”.
Ok. Ultrassom agendado para o dia 25 de maio. Tranquilidade me definia! O Google me disse que não era nada demais, o GO me disse que não era nada demais, não tinha porque eu pirar.
Vamos fazer o ultrassom. O médico olha daqui, observa dali, diz pra auxiliar escrever tal coisa, me faz perguntas, coloca o Doppler… aí já fiquei preocupada! Terminou o exame e vem a bomba: “Olha, Roberta, em alguns casos, não conseguimos um diagnóstico somente com um exame de imagem e no seu caso é indicada uma biópsia”. Entrei em pânico!
Esperei cerca de 15 minutos a impressão do laudo e nesse tempo eu só chorava e pensava que eu ia morrer!
Saí do laboratório em desespero, peguei o carro, atravessei a cidade embaixo de uma baita chuva e fui até o consultório do GO, precisava marcar o retorno. Hoje, dou risada da situação, mas entrei chorando tanto no consultório que a secretária se desesperou e conseguiu um encaixe quase que imediato.
GO olha o ultrassom, classificação suspeita, Bi-hads 4 (classificação de suspeita que vai do 0 – indefinido até o 6 CA confirmado) vamos para o Mastologista. Masto pede a biópsia, o convênio não autoriza, pois está na carência. Depois de 13 dias acabou a carência e fizemos o exame no dia 19 de junho.
No dia 22 o resultado ficou pronto, porém eu só tinha retorno com o masto no dia 27 de junho. À essa altura eu já estava pirando, como eu iria “sobreviver” esses cinco dias até a consulta? E lá fui eu buscar o resultado. Chegando em casa, olhei pro envelope e pensei: -Seja o que Deus quiser, o que está aqui dentro não vai mudar!
Abri o envelope e fui direto até a conclusão onde eu li: CARCINOMA INVASIVO GRAU III.
Naquele momento senti algo quente subir dos meus pés à cabeça e me lembro de ter falado sozinha: Não acredito que isso está acontecendo comigo!
Agora, tínhamos que esperar o parecer médico. Meu marido jurava que eu havia lido errado e eu falava que a essa altura eu já estava bem entendida do assunto, o Google continuava me informando, porém, aquela história de que eu era jovem demais pra ter câncer de mama já não tinha mais fundamento!
Fomos, então, à consulta com o masto, estava tensa, mas a essa altura eu já não me permitia mais chorar, pensava que eu tinha que ser forte pra vencer e não deixar minha filha sem mãe. Sentamos então de frente pro Dr., entreguei o resultado e suspirei. O Dr. me perguntou: “Tá nervosa?” e eu disse: “Um pouco”, então ele disse: “Não fique! Você é jovem, não vai dar nada”, e eu respondi: “Queria acreditar no senhor, doutor, porém, eu já sei o que está escrito aí”.
Ele abriu o resultado e apenas releu o que eu já havia lido, tirando do meu marido a esperança de que não era nada demais. E foi assim, no dia 27 de junho de 2017, que eu escutei do médico: “Olha, Roberta, infelizmente você está com câncer de mama. Não é comum na sua idade, mas tem cura, nós vamos tratar e você vai ficar bem!”
Naquele dia mesmo já agendei diversos exames de rastreamento, ressonância, ultrassom, cintilografia, tomografia e outros. Depois de tudo rastreado, marcamos a cirurgia para o dia 30 de julho. Junto com o mastologista, decidimos pela quadrantectomia, quando é retirado somente o tumor com margem de segurança ao invés de retirar a mama toda.
E assim foi feito. Retirado tumor com margem, teste de linfonodo sentinela, que é um teste pra saber se as células cancerígenas “escaparam” do local de origem e chegaram ao sistema linfático, deu negativo.
E vamos para o próximo passo, primeira consulta com oncologista. Nesse dia chorei muito, até hoje não sei porque. Eu já estava ciente de que eu ganharia “pacote completo” que incluía cirurgia, quimioterapia, radioterapia e hormonoterapia. O médico já havia me explicado que devido à idade, o tratamento era mais intensivo por causa da agressividade da doença e pela sobrevida.
Mas a primeira consulta com o onco foi realmente angustiante. E mais uma vez o doutor acabou com a esperança do meu marido que acreditava que ainda havia uma chance de eu não fazer quimio. Que nada….bora enfrentar! 4 da vermelha e 12 da branca.
No dia 01 de setembro fiz a primeira. 1 hora e meia a sessão, já fiquei enjoada desde lá, mas com a graça de Deus as reações foram bem melhores do que eu esperava. Eu sentia enjoo e comia, cada vez que eu comia o enjoo passava, e foi assim que ganhei 12 kg.
4 dias depois, cortei o cabelo porque não queria desperdiçar, então resolvi cortar antes que começassem cair porque eu iria doar. Com 15 dias depois da primeira quimio os cabelos começaram a cair e com 18 dias depois já estavam despencando, foi quando resolvi raspar a cabeça.
A maioria das pessoas pensam que a parte mais difícil é perder os cabelos, antes de eu sequer imaginar que eu ficaria careca um dia, eu também pensava assim. Mas eu acho que minha vontade de viver e o medo de deixar minha filha sem mãe eram tão maiores, que a preocupação de perder o cabelo, de TUDO, e digo de TUDO mesmo, foi o que menos me incomodou!
Nunca me imaginei careca, até porque sempre impliquei com as minhas orelhas de abano, sempre gostei do meu cabelo comprido. Enfim, mulher careca só quando nasce, era o que eu pensava. Hoje vejo que o importante mesmo é viver e ter saúde.
Bom, aí começa a rotina do paciente oncológico em tratamento. Fazia a sessão de quimio, eram 10 dias enjoada, desanimada, depois os outros 10 dias passava uma maquiagem colocava um lenço bonito e saia pra bater perna! Sim, tentei manter minha vida o mais próximo da normalidade possível, sabia das minhas restrições, como evitar locais fechados, locais com muita gente, por conta da imunidade que cai com a quimio. Mas fazia tudo o que meus médicos me permitiam, passear, comer fora, viajar, ir à praia. Fiz tudo isso nos intervalos das quimioterapias!
O mais engraçado é como as pessoas reagem ao paciente oncológico. Alguns me diziam: Nossa, mas vc está bem, está corada (truque da maquiagem, bem). Outros olhavam torto, principalmente na praia, o lenço chamou muita atenção. Alguns me diziam que eu não podia ficar saindo, que tinha que me preservar.
Tudo o que eu fiz, foi com aval dos meus médicos, que sempre me disseram que eu podia fazer, se aquilo ia me fazer bem e se eu estivesse me sentindo bem!
Era como se me dissessem: VIVA A VIDA! E foi o que eu fiz. Vivi. Passei sorrindo por todo o tratamento. Às vezes não estava muito bem, mas descobri que bom humor e uma maquiagem podiam mudar tudo!
Se eu estivesse sorrindo e apresentável ninguém iria me olhar com pena e se ninguém me olhasse com pena eu não me sentia doente. Esse era o ciclo! E foi assim que eu enfrentei todas as 16 quimioterapias. Depois vieram 30 sessões de radioterapia, mas essas eram bem tranquilas.
E hoje estou aqui, 8 meses sem quimioterapias, com muitos cabelos, cílios e sobrancelhas, viciada em maquiagem e agradecendo pela minha vida e pela minha saúde todos os dias!
É um tratamento fácil? Não, não é! Mas nós é quem decidimos a forma de enfrentar e encarar.
O câncer me ensinou muita coisa, inclusive que eu tenho muito mais a agradecer do que a reclamar porque, apesar de eu ter descoberto uma doença que a maior parte das pessoas assimilam à morte, eu venci!