Carla Lemos é apaixonada por moda, mas diz que é uma mulher que nunca se encaixou nos padrões. “Nunca me senti confortável tendo que atender as expectativas do que era bonito, do que era feminino, do comportamento e aspirações que eu deveria ter na vida. Isso me tornou uma contestadora, desde muito cedo. E isso naturalmente se refletiu no meu trabalho. Onde desde muito cedo, naturalmente eu comecei a questionar e desconstruir padrões.”

Carla criou o Modices há 11 anos porque não se conformava com o domínio europeu-paulistano nas publicações de moda. Ela queria mostrar muito mais do que era apresentado. Ela queria desconstruir padrões e estereótipos, queria mostrar que todo mundo pode ter a liberdade de ser quem quiser. Carla queria ver cor, estampa, alegria, gente diferente. Assim, começou a produzir um conteúdo, com imagens do que ela sempre quis ver nas revistas, com foco em diversidade e empoderamento. Com o tempo, muita coisa mudou, novas plataformas surgiram, novas formas de se comunicar e de se conectar com pessoas. E seu conteúdo foi evoluindo, amadurecendo e se tornando mais consciente a cada passo dessa jornada. Agora, a Carla acabou de escrever seu primeiro livro (o título ainda não pode ser divulgado), que deve ser lançado nos próximos meses pela editora Galera Record.

 

 

Sobre o universo da moda, Carla reforça que é necessário acabar com a cultura opressora e machista e diz que é um dos temas presentes em seu livro: “A indústria da moda, apesar de ser a que mais emprega mulheres, tem uma estrutura muito opressora, tanto para as mulheres que trabalham quanto, para as que consomem. A moda também tem uma cultura machista que precisa ser desconstruída.”

Apesar de ser um ambiente bastante machista, Carla diz ter sido de certa forma privilegiada por não ter sofrido preconceitos durante sua carreira. Ela acredita que por estar sempre cercada de mulheres incríveis, donas do seu negócio, assim como ela, se sentiu apoiada, incentivada e inspirada por essas mulheres a seguir sempre em frente, mas, apesar disso, já viu várias situações machistas acontecerem ao seu redor e, por isso, segue militando contra a cultura machista na moda.

Falamos muito também sobre inclusão. Ainda vemos nas passarelas pessoas magérrimas e lutamos para que haja maior representatividade de raças e diferentes tipos de corpos nos desfiles. Apesar de termos ainda um longo caminho pra trilhar, Carla fica feliz em dizer que começa a enxergar mudanças acontecendo:

“Este ano cobri a temporada de inverno da NYFW depois de 4 anos. E foi reconfortante ver como as coisas mudaram, como os castings estão mais coloridos, com mais diversidade étnica. Ainda temos um longo caminho quanto à questão dos corpos, mas avançamos muito nos últimos anos com a visibilidade que as redes sociais deram pra importância da representatividade. Estou otimista porque a mudança não pode mais ser contida.”

A Carla é uma mulher incrível e inspiradora. Ela mostra que moda é liberdade, desconstrução de padrões e que a ditadura do que podemos ou não vestir, já foi há muito tempo, que agora podemos e devemos fazer diferente: “Nossa, chega a dar um arrepio ouvir/ler essas coisas. A moda vem de um histórico de regras. Durante a Idade Média placas eram penduradas com as roupas que as pessoas de cada classe social poderiam usar, sob pena de morte! Então, a galera tinha que seguir as regras de moda por sobrevivência. As leis mudaram, o mundo evoluiu, mas essa sensação de que pra se vestir precisamos seguir regras, permanece. E é isso que a gente agora começa a desconstruir e criar novas referências de moda. Temos avançado muito, a internet ajuda muito a fazer com que novas ideias de moda sejam propagadas e assim espero que, em breve, ninguém nem lembre dessas regras do século passado.”

 

 

Ainda vemos mulheres em busca do que acreditam ser o “corpo perfeito”, aquele bem magro, com barriga chapada, peito nem muito grande nem muito pequeno, enfim… consequentemente vemos meninas e mulheres com sérios problemas de autoestima por conta dessa busca idealizada. Muito disso acontece também pela falta de representação de outros tipos de corpos na mídia, na propaganda, O corpo magro ainda é extremamente exaltado e a Carla deixa um conselho pra quem está neste processo difícil de elevar sua autoestima:

“Viva a melhor vida que você puder com o corpo que você tem hoje. A vida não vai esperar você ter o chamado ‘corpo ideal’ pra te proporcionar experiências incríveis. Então, simplesmente se aceite. Foque no que você gosta, se cuida, seja mais carinhosa consigo mesma. Pare de falar mal do seu corpo. Você é incrível, acredite!”

Depois de tanta inspiração você deve se perguntar se a Carla ainda tem um plano. Ela tem, vários… e compartilhou um superespecial com a gente e que traz uma carga gigante de sabedoria e autoestima: “Meu plano é inspirar cada vez mais mulheres a praticarem a desconstrução e exercitarem a aceitação. Eu acredito muito no que bell hooks diz que ‘até que feministas voltem à indústria da beleza, voltem à moda e criem uma revolução contínua e sustentada, nós não seremos livres. não saberemos como amar nossos corpos como nós mesmas’. E minha dica pra vocês é: estudem, garotas! Conhecimento é o verdadeiro empoderamento.”

A Carla deixa pra gente uma lição valiosa. Nos amar, amar nossos corpos, nos aceitar e enxergar a beleza que existe em nós. Para de ficar buscando o corpo perfeito, porque ele não existe. Você pode, sim, querer emagrecer, querer ter uma vida mais saudável, se alimentar melhor, isso é ótimo. Mas nada de neuras. Cada pessoa tem a sua essência, inteligência e aptidões que vão muito além no número da roupa que você veste. Seja você mesma, não há nada que possa nos trazer mais felicidade do que estar bem consigo mesma.

Gostou dessa entrevista incrível com a Carla? Agora vem e compartilha com a gente histórias de mais mulheres inspiradoras que estão fazendo acontecer por aí! Manda pra gente por e-mail [email protected] que logo essa mulher incrível que está aí pode aparecer aqui no site.

 

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