“Amor, eu estou gorda?”. Os breves cinco segundos de silêncio que precede a resposta são, para o homem, rápidos cinco segundos, muito pouco para dar uma resposta tão densa e complicada. Uma resposta que pode mudar todo seu dia. Para a mulher esses mesmos cinco segundos representam uma eternidade e, mesmo sem o homem ter esboçado resposta alguma, significa para ela um nítido “estou gorda!”.
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Sete horas da manhã. A mesa do café está posta, é uma quinta-feira de sol raiando e céu azul anil. Para completar o amanhecer, na noite anterior seu time havia vencido um clássico. O universo conspirava para que o seu dia fosse perfeito. Com cuidado, vai até o quarto, abre a porta com precisão cirúrgica, a passos de gato chega à cabeceira da cama e com carinho da um beijo na esposa (e nem se importa com o bafo matinal), deseja um efusivo “bom dia meu amor” seguido de um empolgado “o café está servido”.
Até a esposa se levantar, espreguiçar e ir ao banheiro leva mais ou menos 10 minutos. Tempo suficiente para voltar à cozinha, folhear o jornal, assistir aos primeiros telejornais, voltar para o quarto e preparar a mochila da academia, voltar para a cozinha e bater a vitamina. Tudo isso com um sorrisão no rosto à espera da patroa.
Desde o primeiro toque do despertador até o exato momento passaram-se 22 minutos de pura dedicação e inspiração para um dia que tinha tudo para ser um “perfect day”. Aos 23 minutos eis que tudo começa a desmoronar. E isso leva, no máximo, cinco segundos!
A esposa, em pé à sua frente, solta a temível pergunta: “amor, eu estou gorda”?
Esta pergunta de apenas quatro palavras é a responsável pelo céu, até então azul anil, encher de nuvens, cobrir o sol e te fazer esquecer da vitória do seu time. Em cinco segundos o mesmo universo que conspirava para seu dia ser inesquecível, cai aos seus pés.
É nesta hora que a sinceridade masculina e de esposo que jurou no altar nunca mentir e respeitar sua esposa te dá uma rasteira.
– Não amor, não é que você está gorda. Você está um pouquinho inchada aqui nos lados. Mas é só um pouquinho, nada que algumas abdom…
Não dá tempo de concluir a frase. Com fogo saltando dos olhos, ela responde.
– Você está me chamando de gorda? É isso?
– Não falei nada disso amor! Deve ser por que você está menstruada. É normal nesses dias.
– Mas eu estou no meio da cartela do anticoncepcional. Tá vendo como você falou que eu to gorda!
– Na verdade é a roupa que não tá ajudando muito.
– Mas eu estou de pijama!
– Então foi o jantar de ontem. Aquela lasanha estava muito pesada.
– Pesada estou eu, né? Seu insensível.
Não adianta. Contra fatos não há argumentos. O que foi dito, foi dito e não volta mais. Só resta tomar o café da manhã pensando o que fazer para tentar reverter a situação. Primeiro, das silhuetas da esposa. Segundo, para que a quinta-feira não fique parecendo uma segunda-feira.