Claudia Assef é uma mulher que fez da música a sua arte, o seu coração, a sua vida, a sua profissão. Cresceu em uma família, que tinha a música nas veias. Eles recebiam muita gente em casa, gostavam de festas e um bom som sempre rolava nessas ocasiões.

Desde pequena Claudia é apaixonada pela música. Prestava atenção em tudo que tocava nos ambientes onde estava e queria ter essas musicas pra ela. Mas, falamos disso na década de 1970, e as coisas eram um pouco complicadas. Ou você comprava discos de novela com músicas variadas, ou então comprava discos importados, o que também não era muito fácil.

“Em me lembro que sempre que saía com meus pais, ao invés de pedir bala, doce ou outras coisas, eu pedia que eles me comprassem discos. Essa minha paixão começou com mais ou menos 8 anos, época em que obviamente eu curtia discos infantis como Menudos. Aos 9 anos ganhei um vinil do filme Flash Dance, que eu amei. Ele é meu disco de cabeceira até hoje.”

A Claudia se formou em jornalismo em 1996, fez um curso de especialização em jornalismo impresso no Estadão e entrou de cabeça nesse mercado, começando no Correio Brasiliense. Passando pelo Grupo Folha, trabalhou no Folha Teen, depois foi correspondente da Folha de SP em Paris, e quando voltou pra São Paulo, em 2001, trabalhou na Folha Ilustrada por mais alguns anos e partiu pro mercado de internet.

Foi por aí, em meados de 2000, que Claudia abriu uma agência de conteúdo, onde fazia projetos de branded content pra marcas, como Nokia Trends e Skol Beats. Como uma mulher que não para nunca, depois disso Claudia ainda foi diretora de conteúdo do Vírgula, mas a música nunca deixou de ser sua paixão.

Decidiu, então criar o site Music Non Stop, para falar sobre assuntos relacionados ao mundo da música. Se você acha que ela parou por aí, se engana. Claudia ainda é autora de dois livros, o Todo DJ já sambou e Ondas tropicais, que é uma biografia da Sônia Abreu, a primeira mulher DJ do Brasil

No universo musical, Claudia diz que sempre foi mais difícil para as mulheres do que para os homens entrarem nesse mercado, até mesmo porque eles sempre gostaram de intimidar ou duvidar dos conhecimentos de uma mulher.

 

“Passei por isso quando estudava música. Eu fazia aula de guitarra e em vários momentos fui intimidada por vários meninos que tocavam ou achavam que tocavam melhor do que eu.”

 

Ela diz que a pouca representatividade feminina no mercado, também deixa de ser um incentivador para as mulheres. “Havia poucas mulheres em quem se inspirar ou se espelhar, e aí acaba que a gente não tem um norte. Quando você tem pouca gente lá na frente, abrindo os caminhos, bate uma insegurança e automaticamente você se pergunta: será que eu sou capaz? Isso acontece com as mulheres em todas as áreas.

Quando você não tem um destaque, uma liderança, uma relevância no mercado em que atua mesmo, fica muito mais difícil para todas as outras que querem seguir esse caminho. As mulheres, na música, ainda sofrem e passam por isso. Não tem um monte de produtoras musicais em quem se espelhar, pra que sirva como um guia pra você.

Isso acaba influenciando na autoestima, porque você não se enxerga capaz de fazer ou performar tanto quanto os homens. Estamos aumentando esse número de participação feminina nesse mercado bem aos poucos, mas estamos, acho que isso pelo menos já é um bom sinal.”

 

 

Quando falamos sobre o universo feminino, sabemos que o preconceito é um tema muito recorrente, afinal, vivemos séculos de machismo e ainda enfrentamos dificuldades para quebrar algumas barreiras. Para a Claudia, ela diz que nunca passou por nada que tenha sido claramente verbalizado na sua área, mas tem outras coisas que fazem sentir que as mulheres ainda têm trabalho a fazer:

“Na época em que eu era repórter, por exemplo, os lançamentos dos discos mais importantes nunca eram entregues para uma mulher resenhar ou comentar. O filé, digamos assim, ficava sempre para os homens e isso era aceito como ‘ah, é assim mesmo…’

Mas eu não me conformava com isso. Cheguei para quebrar essa estrutura, eu não ficava nem um pouco acomodada com essa questão. Minha defesa sempre foi me armar de muita informação para me destacar como profissional, pra não deixar que meu gênero me qualificasse ou não.

Eu lia tudo, comprava discos, buscava informação em todos os lugares possíveis, investia em ferramentas de conhecimento, tudo para dar um bypass nessa questão e mostrar que eu posso, sim, ser o que eu quiser e conquistar meu espaço.”

O período em que viveu em Paris trouxe muito aprendizado pra Claudia, não só como profissional, como repórter, mas também como mulher, sobre como ver o machismo e o preconceito em um país diferente do seu. “Vivemos num país que é um dos mais machistas do mundo, tirando o mundo árabe, lógico. A América do Sul é líder em machismo. O machismo aqui não se compara a como as coisas são na França.

Ainda que lá também não seja muito fácil para as mulheres, o machismo ainda é mil vezes menor que aqui. Tenho amigas que vivem na Alemanha, por exemplo, que dizem que não sabem o que é o preconceito em relação à mulher, porque isso não existe lá.

O único ponto da época em que eu vivia em Paris, é que eu era uma estrangeira e em determinados momentos tinha problemas em relação a isso, porque a França é um país onde as pessoas não têm uma boa aceitação com estrangeiros, existe um certo preconceito. Agora, em relação ao machismo, o Brasil dá de 10 a 0 nesse quesito, não tem como comparar.”

Vendo toda essa situação que coloca a mulher como figurante de suas histórias, quando na verdade elas merecem todo o protagonismo, foi que a Claudia decidiu mudar o rumo da sua história na música. Em parceria com a Monique Dardenne, elas criaram o WME, Women’s Music Event, que quer se tornar o eixo central dos eventos do universo musical feminino que surgem a cada dia no Brasil. É uma plataforma de música, negócios e tecnologia vista por uma perspectiva feminina.

 

Claudia Assef e Monique Dardenne, criadoras do WME – Women’s Music Event.

O objetivo é destacar a participação e promover a inclusão de mulheres no mercado da música, um setor ainda muito associado ao universo masculino. Esta é uma iniciativa inédita no Brasil, que quer unir mulheres que já atuam no mercado da música e encorajar aspirantes a entrarem na indústria de forma mais assertiva.

“O WME nasceu dessa vontade que eu e a Monique tinha de diminuir esse abismo entre os direitos e o espaços ocupados pelo homem na indústria musical e a mulher. A gente sentia que a coisa evoluía muito devagar e éramos sempre chamadas para conferências pra falar do papel da mulher na música.

Mas a gente queria muito mais que isso, não queríamos ficar presas ao papel da mulher na música, que todo mundo já sabia qual era. A gente queria se destacar pelo nosso conhecimento. A gente queria falar sobre tecnologia, streaming, arrecadação, novidades do mercado, crise, enfim… foi aí que resolvemos criar uma conferência pra colocar mulheres de várias áreas e expertises pra falar sobre diferentes pontos de vista do mercado e deixar de falar um pouco sobre as dificuldades de ser mulher. Foi isso que nos motivou a criar o WME.”

Mesmo com projetos incríveis já caminhando com muito sucesso, Claudia tem um plano “Meu plano é ser livre pra fazer o que eu quiser. Esse sempre foi meu plano, na verdade. Além disso, quero poder criar minhas filhas, minhas meninas, em um mundo melhor do que esse que eu vivo hoje, esse é meu Plano. Não tem cabimento pra mim, assistir o mundo em que a gente vive e não fazer nada pra tentar melhorar por elas, pela minha mãe por tantas outras mulheres.

Tenho certeza de que as meninas hoje vêm em uma geração com muito mais força, essa juventude está aí fazendo barulho, se fazendo ouvir, então tenho certeza de que a coisa vai virar pro futuro feminino e eu quero ajudar nessa transformação, quero ajudar a acelerar esse processo.”

Para tantas outras mulheres que também têm planos pra realizar, se sentem inseguras ou não sabem por onde começar, Claudia termia dando dicas pra que toda mulher possa fazer acontecer:

“Se você tem um plano, não deixe nada entrar como ruído. Vai que vai, porque hoje em dia, se esse plano é algo do bem e você tem algo genuíno dentro de você, nada vai ficar no seu caminho.

Tenha por perto uma comunidade pra te ajudar, uma causa bacana, pense em uma forma de mobilizar pessoas que acreditem nessa causa pra você conseguir alcançar seus objetivos e se jogar. Hoje, as coisas estão muito mais fáceis de serem viabilizadas por conta da internet, que possibilita a gente coisas e ter um alcance que antes eram impossíveis. Aproveita esse momento e foca, que vai dar certo!”

É inspirador ver mulheres como Claudia fazendo acontecer, abrindo caminhos para tantas outras mulheres na música e mostrando que vamos ocupar espaços porque somos qualificadas e podemos ocupar os espaços que a gente quiser.

Conhece aí uma mulher inspiradora ou você é uma delas? Conte sua história incrível pra gente! Queremos compartilhas histórias de mulheres poderosas por aqui. Manda pra gente por e-mail no [email protected] e vamos juntas!

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