No último dia 11, recebemos um convite daqueles irrecusáveis, cobrir o painel “A Mulher e a Mídia: Representações do feminino na publicidade e no cinema”.
O evento, que aconteceu na Bloomberg, abordou questões sobre os atributos e características femininas representados na publicidade e no cinema, a criação de novas narrativas e personagens femininas, além dos desafios que as mulheres enfrentam na frente e por trás das câmeras.
Lotado de importantes nomes, o debate que seguiu foi maravilhoso e as histórias compartilhadas esclarecedoras. Foi a certeza de que estamos no caminho certo e de que não estamos sós.
Mediado divinamente pela Telma Marotto, chefe da equipe de notícias em português da Bloomberg, a mesa contou com a participação de Anna Muylaert, diretora e roteirista, responsável pelo premiado longa metragem “Que horas ela volta?”; Maíra Liguori, co-fundadora da Think Eva, Núcleo de Inteligência do Feminino; Juliana Vicente, diretora, produtora e fundadora do Preta Portê Filmes.
Nos pontos altos da conversa, Maíra ressaltou a importância das nossas escolhas na hora de consumir, que temos que vincular nossas hábitos a nossa consciência. “Quanto mais mulheres engrossarem esse coro mais vamos conquistar”, declarou.
“É um processo. Que demore 100 anos, mas é nosso papel. A gente tem que ajudar”, completou Anna. “Antes eu não percebia o quanto a mulher era invisível em tantas situações. Hoje não consigo ficar quieta. Quanto mais a gente ouve e aprende, mais teremos recursos pra se posicionar e promover a mudança”, disse.
Um debate que abordou a importância de questionarmos, de não mais deixarmos para lá. Desde roupas, padrões estéticos, assédio. Todas concordam quem ainda falta uma longa estrada para percorrer quando o tema é a forma como a mulher aparece e é tratada na mídia.
Acreditam que a TV ainda é muito agressiva na forma como aborda certos assuntos, como por exemplo, estupro, ainda culpabilizando a vítima.
Juliana chegou a brincar que as negras surgiram apenas em 2015, que antes disso nem se falava no assunto. Inclusive, ela disse, que o uso de humor em alguns de seus trabalhos foi proposital, pois foi a única forma que as pessoas deram atenção ao tema.
Ao final, ainda batemos um papo exclusivo com a Anna, pois com certeza essa é uma mulher que tem um Plano.
Plano Feminino: Como surgiu seu envolvimento profissional com a temática do universo feminino?
Anna Muylaert: Quando eu comecei a fazer o projeto do longa eu comecei a pesquisar muito sobre mulheres. Isso nasceu há 20 anos, quando eu queria valorizar o papel do trabalho da mãe. Eu nem pensei inicialmente nessa questão do empoderamento, isso veio depois do filme pronto e foi quando eu comecei a prestar atenção mesmo, com toda a repercussão do filme.
Então comecei a levar muitos agressões e críticas por causa do projeto e então percebi a iminência do assunto da mulher na mídia.
PF: Como o sucesso do seu longa mudou sua vida?
AM: Isso afetou muito a minha vida. Só agora minha rotina está acalmando e eu estou começando a conseguir teorizar tudo o que aconteceu.
PF: Na sua opinião, em que ponto estamos na maturidade desse debate da mulher na mídia brasileira?
AM: Eu sei que mulheres indicadas ao Oscar são apenas 5%, mas na mídia brasileira eu não faço ideia, inclusive, quero mesmo fazer essa análise, quero gerar em dados, números, precisamos saber disso.
PF: Quais seus próximos Planos e projetos?
AM: Eu luto pelo respeito, pela aceitação, contra os estereótipos. É isso que eu quero fazer. Um trabalho que nos torne mais conscientes e não menos. Mas ainda não tenho nenhum projeto específico em vista. Preciso descansar um pouco e se reconectar comigo mesma.
PF: Por fim, qual conselho você daria para nossas leitoras do Plano Feminino?
AM: Tem que trabalhar muito. Tem que gostar do que faz. E começar a prestar atenção e não deixar mais passar pequenos machismos e sexismos no dia a dia. Conversar com a pessoa e mostrar que ela fez isso, que muitas vezes está tão enraizado que elas nem percebem e cabe a nós mudar esse cenário.