O ano era 1997. Em uma fria noite de inverno no Sul do Rio Grande do Sul eu estava em prantos. Chorando na frente do meu pai com um sentimento de culpa e irresponsabilidade.
Lembro de dizer: Pai, eu vou ter um filho. Me desculpa eu não queria isso agora e não tinha a menor ideia de que isso poderia acontecer. Meu pai tinha um semblante sério, porém, compreensivo. Ele me disse: Filho, vai ficar tudo bem. Não é o fim do mundo. É o início, na verdade.
A vida apresenta mil e uma peças e não foi daquela vez. A namoradinha da adolescência (eu tinha 15 anos) que estava com a menstruação atrasada há semanas, descobriu poucos dias depois que não foi nada mais do que um susto e que não estava grávida, de fato.
Este foi o filme da minha adolescência que me deu certeza de uma coisa muito importante: Eu queria ser pai. Tinha o sentimento de que seria um ótimo pai e que, mesmo não tendo sido daquele ano em meio à conturbada adolescência, em algum momento a fase da paternidade iria chegar.
Muitos anos se passaram e não tive mais situações como aquela. Uns podem dizer que foi precaução minha ou mesmo “sorte”, mas meus anos como adolescente e jovem adulto foram isentos desta realização.
Ao conhecer minha esposa Larissa, no início de 2012 e em menos de 1 ano a ter pedido em casamento (para quem quiser conhecer esta história de amor na íntegra, publiquei um artigo no PapodeHomem contando em detalhes), tive indícios de que ser pai poderia estar chegando.
Nosso casamento é e sempre foi muito estável e tranquilo. Muito poucas brigas ou discussões. Para ser sincero, 90% das vezes que há uma discussão é sobre alguma situação relacionada à limpeza. Ela como boa virginiana é extremamente meticulosa e asseada e eu, bem, digamos que não sou a pessoa mais organizada do mundo mesmo embora tenha me tornado a cada ano mais responsável com os afazeres do lar e cuidadoso com os detalhes.
Essa estabilidade e confiança do relacionamento nos levou em pouco tempo à discussão sobre termos um filho e passados pouco mais de 3 anos desde o casamento, entendemos que tinha chegado a hora. Estávamos prontos para assumir esse compromisso e dar um passo na direção de formar uma família.
Planejamos uma série de detalhes importantes como ter uma segurança financeira, mudar para um apartamento maior para poder abrigar as nossas famílias que são do Sul do país e a relação de cada um de nós com o trabalho para podermos estar presentes e darmos a atenção devida no momento ao filho (ou filha) quando chegasse.
Passados cerca de 3 meses desde a primeira tentativa, a Lari me acordou em um dia ensolarado com os olhos repletos de lágrimas, transbordando felicidade.
Eu, em um misto de incompreensão e preocupação fiquei sabendo que ela estava grávida. Eu ia ser pai. Lembrei da noite fria há 19 anos atrás e soube que era hora. Eu estava tranquilo e agradecido.
Noah está previsto para nascer em Setembro. Larissa está de 33 semanas e a gravidez tem sido uma benção. Muito desejada por ambos e curtida nos mínimos detalhes.
Toda essa situação me fez rever muitas questões relacionadas ao lugar de uma criança em um mundo tão conturbado, cheio de contradições, de beleza e feiura, de amor e ódio, de aceitação e intolerância. Eu vivia um dia por vez. Mas quando uma coisa como essa acontece, fui surpreendido questionando minhas crenças e visões de mundo e uma das coisas mais marcantes nesta revisão de vida foi definir que pai eu gostaria de ser, qual seria a relação com meu filho que eu iria, deliberadamente construir.
Este processo de definição paternal foi lento e, muitas vezes, inconsciente. Por estar envolvido como empreendedor com o PapodeHomem, plataforma de conteúdo que busca dar luz a questões fundamentais como igualdade de gênero, paternidade e outros temas importantes na vida das pessoas, fui construindo ao longo dos anos uma base de crenças e valores relacionados ao meu papel como pai, como homem que iria ser responsável por formar uma criança, por construir a base de valores e ajudá-la a desbravar o mundo e a crescer. O fácil acesso a informação tem me ajudado muito. Ouvi com a Lari o audiobook do Piangers, Papai é Pop e rimos bastante de suas histórias e aventuras e aprendizados como pai. Venho buscando ler artigos variados sobre paternidade ativa e criação com apego na internet para me ajudar a formatar essa visão de ser pai, do que quero cultivar na minha formação.
Tenho tido uma escuta seletiva com relação às experiências paternais de meus amigos. Posso contar nos dedos de uma palma da mão os amigos pais que estão tendo uma experiência tranquila. A grande maioria têm histórias que me dão calafrios, verbalizando recorrentemente a vivência da paternidade como um momento de caos e desestabilidade. Entendo que a criança chega ao mundo e vive em um ambiente que é, literalmente, criado pelos pais. Portanto, em um ambiente pacífico e livre de brigas, intrigas e tensão, a vivência tende a ser regida por paz e amor.
Hoje, a minha certeza é de que quero ser um pai presente, próximo e acessível. Quero exercer a paternidade ativa, sendo comprometido e carinhoso. Não vejo outra prioridade na vida mais importante do que assumir este papel e estou comprometido. Mesmo sendo um homem bastante ansioso, tenho contemplado o momento da gravidez e estado tranquilo, sabendo que a hora certa irá chegar e que estou pronto.
Quero que o Noah cresça sendo um homem de bom caráter. Que respeite as mulheres e tenha um papel construtivo em nossa sociedade. Que se torne um homem doce, meigo e que veja a beleza deste mundo.
A visão que norteia a minha paternidade tem sido em torno de como me tornar um pai para construir este futuro para ele. Quais habilidades preciso desenvolver para conseguir ter sucesso nessa empreitada que se desdobra diante de mim. Quais visões de mundo preciso desconstruir.
Gostaria de convidar os pais leitores para compartilhar suas histórias de vida. Como têm se tornado pais melhores. Quais os desafios têm passado. Como estão superando as adversidades e construindo um mundo melhor para seus filhos.
Na minha visão, não há nada igual à troca de experiências para formar pais melhores
Vamos juntos?