No último fim de semana acontece o Wow, Festival Mulheres do Mundo no Rio de Janeiro, cidade maravilhosa. O evento tem como objetivo celebrar o feminino e apresentar mulheres de vários lugares do mundo que estão mudando suas histórias e a de seus países.

É um festival que já foi realizado em 23 países e pela PRIMEIRA VEZ veio para a América Latina. O Plano Feminino foi parceiro estratégico das organizadoras, trabalhando há dois anos em conjunto com a Redes da Maré e o British Council para fazer esse evento acontecer e foi incrível vivenciar todos esses dias com mulheres inspiradoras de várias partes do mundo.

O Wow aconteceu de 16 a 18 de novembro e passaram pelo Museu do Amanhã, Praça Mauá, Armazém e MAR (Museu de Arte do Rio) mais de 100 mulheres das mais diversas áreas: tecnologia, ciência, artes, que falaram sobre liderança feminina, preconceito, carreira, arte, música e inspiração.

 

 

Cerimônia de abertura

Na quinta-feira, antes de o evento ser aberto ao público, participamos da cerimônia de abertura, que contou com Jude Kelly, fundadora do Festival Wow, que falou sobre respeito, empatia, futuro de equidade e também sobre o Plano de Menino, ressaltando a importância de desconstruir a masculinidade tóxica com os meninos, desde pequenos.

“Nós precisamos ser muito cuidadosas para não fazer com que os meninos se sintam no dever de serem melhores que as meninas. Quando falamos ‘você não pode chorar’, ‘você está agindo como uma menininha’ ou ‘você não vai deixar uma menina bater em você, né?’ eles formam muito rapidamente a ideia de que têm a responsabilidade de serem mais poderosos que as meninas, caso contrário, não podem ser garotos. Então, nós temos que resolver nossa própria linguagem com eles, e temos que dizer para eles: com o que a coragem se parece? O que isso significa? Coragem é dominar outra pessoa ou é tratá-la de maneira igual? Nós precisamos que os homens entendam que equidade de gênero também é uma questão pela qual precisam lutar. Trata-se de humanidade.”

Eliana Sousa, fundadora da Redes da Maré, também falou sobre a importância de o Festival falar sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres da periferia para ocuparem seus espaços no mundo e a importância de motivá-las e dar ferramentas para que possam seguir. “O Festival trabalha a perspectiva de pensarmos sobre as mulheres da periferia. Foi um elemento que trouxemos da Favela da Maré para ser uma forma de abrirmos as portas para essas mulheres e mostrar as possibilidades que ela têm”.

 

Jude Kelly, fundadora do Wow, ao centro e Eliana Sousa, fundadora do Redes da Maré, à direita.

 

Durante  a cerimônia tiveram algumas apresentações musicais e entre elas vimos Samia Abreu, uma menina de 8 anos, que veio do Ceará para recitar um cordel poderoso sobre a Lei Maria da Penha, que arrancou muitos aplausos da plateia. Foi lindo de ver!

 

Samia Abreu tem apenas 8 anos e declamou um Cordel de sete minutos sobre a Lei Maria da Penha.

 

Ao final, um coquetel com direito a muita música com o Grupo É Pretas, que cantou músicas cheias de empoderamento, falando sobre a resistência das mulheres no samba e a luta feminina na sociedade. Puro poder e inspiração!

 

A Banda É Preta no ecerramento da cerimônia de abertura do Wow.

 

1º dia de Wow

Logo de manhã, chegamos ao MAR com uma oficina de bateria para meninas, que estava sendo ministrada na área externa pelo Hi Hat Girls, criadoras da primeira e única revista sobre mulheres bateristas da América Latina.

A intervenção estava lotada de meninas e mulheres que queriam sentir a adrenalina de tocar bateria, contando com trechos de músicas clássicas do rock. Foi incrível! A oficina teve apoio do British Council para mostrar que bateria é instrumento para mulher, sim!

 

 

Ana Bessa, Gerente de sociedade do British Council falou com a gente sobre a importância dessa ação em um evento tão relevante para as mulheres como o Wow:

“Sou responsável pelo Projeto Active Cities, Cidadãos Ativos, que é um programa de apoio e fomento a lideranças sociais, comunitárias, de periferias, que a gente desenvolve no Brasil desde 2016, mas é um programa global do British Council há 10 anos em vários lugares do mundo. Hoje, estamos muito felizes porque um dos projetos apoiados pelo nosso programa por meio de um edital de Fundo Semente está aqui, participando do Wow com a Oficina de Bateria para garotas.”

 

Ana Bessa, do British Council.

 

Logo depois, aconteceu a oficina do Plano de Menina, chamada “Que história você está construindo?”, para falar sobre como meninas e mulheres podem agir e melhorar a autoestima para tirar seus planos do papel.

Também foi apresentado pela primeira vez em um evento aberto ao público o nosso minidocumentário #MEDÁUMALICENÇA e contamos com a presença da Mariana Chaves e do Raphael Erichsen, que produziram o minidoc e falaram um pouco do que sentiram com a transformação das meninas do projeto. A Mari ainda completou: “A gente percebe que falta apenas um gatilho, uma faísca para que as meninas se sintam donas desse espaço. É importante e é nosso papel estimular essas meninas.”

 

À esquerda Mariana Chaves e à direita Raphael Erichsen, produtores do documentário #MEDÁUMALICENÇA, do Plano de Menina

 

Estimulamos as meninas e mulheres que nos acompanharam durante a oficina com exercícios para que elas percam o medo e a vergonha de falar e se posicionar para que possam ocupar seus espaços. Encerramos com uma oficina de Planos, onde cada participante criou sua mandala para pensar onde estão, onde querem chegar e quais os meios pra fazer isso acontecer.

 

 

Falamos com uma série de mulheres que participaram do primeiro dia de evento, inclusive com a mais importante escritora negra do país, a Conceição Evaristo que, inclusive, concorreu este ano a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras mas, em um espaço predominantemente masculino, mais uma vez um homem branco foi nomeado para ocupar a vaga. Mas ela, segue sendo resistência e mostrando que a luta continua e que é importante as mulheres negras seguirem mostrando que merecem ocupar seus espaços.

 

Conceição Evaristo, ao centro, com a equipe do Plano Feminino.

 

Entre várias outras atrações, o dia terminou com uma série de shows de mulheres que são inspiradoras e o grand finale do primeiro dia ficou por conta da lindíssima Elza Soares e o Grupo Ilú Obá de Min, que significa mulheres que tocam pra Xangô, em uma linda representação da cultura afro com toques de tambor.

 

 

 

2º dia de Wow

O dia já começou com muita inspiração. A Vi Duarte participou de uma roda de conversa com mulheres incríveis de diversas áreas. Mulheres que estão procurando transformar a vida de outras mulheres e foi emocionante ouvir as histórias de cada uma delas. Entre as mulheres estavam Flavia Nascimento, defensora pública, titular da defensoria pública no juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher de São Gonçalo, Clarisse Linke, Diretora Executiva do Instituto de políticas de transporte e desenvolvimento, Silvana Andrade, professora e consultora de desenvolvimento de lideranças e diversidade, Elisa Larkin, escritora e diretora do IPEAFRO, Luana Genot, que criou o projeto Sim à igualdade racial, falou sobre a importância da ascensão de negros no mercado de trabalho:

“Existe uma relação intrínseca entre a sua cor de pele e a sua trajetória pessoal e profissional. Foi por isso que decidi criar o Sim à igualdade racial, para irmos além do preconceito. Queremos ter cada vez mais pessoas negras dentro das empresas, como executivos, por isso, hoje temos 32 bolsistas estudando, inclusive inglês, para que possam ocupar seus espaços.”

 

 

A Viviane Duarte contou sobre sua carreira e a motivação para criar o Plano de Menina, com um depoimento cheio de emoção de tirou lágrimas das mulheres que estavam ali. “Com o Plano de Menina, foi como se eu voltasse à periferia em homenagem às minhas amigas que ficaram pra trás, muitas das minhas amigas se envolveram com tráfico, outras morreram ou estão presas e eu queria poder puxá-las comigo. Por isso voltei à periferia com o Plano de Menina pra contar às meninas que elas podem ter uma história diferente e que podem realizar o que quiserem”.

 

 

A Deputada Renata Souza veio da Favela da Maré, era amiga de Marielle Franco, deputada assassinada em março deste ano, e falou da importância da educação e de ações sociais com a política pública de estado dentro das comunidades para que as crianças e os jovens de periferia possam ter mais oportunidades de concluírem a educação básica e chegarem ao ensino superior para que tenham também melhores condições para chegar ao mercado de trabalho e em melhores posições nesse espaço:

“Em uma pesquisa alarmante feita pela Redes da Maré, mostra que com as operações policiais que acontecem quase que diariamente nas favelas, como na Favela da Maré, por exemplo, que em 2017 ficou 20 dias sem aula, devemos pensar que se isso se repete durante os 12 anos, que é um ciclo de um estudante até terminar o ensino médio, esse aluno perdeu um ano de aula e isso é gravíssimo!

Essa juventude de favela, de periferia, vive essa realidade de insegurança com a política pública, porque eles são vistos como não detentores de direitos. Essa minha militância de direitos humanos, parte do meu cotidiano, da minha experiência enquanto favelada, mulher, negra, nesse espaço que historicamente é de exclusão e que precisa mudar.”

 

 

Na Praça Mauá, enquanto estavam rolando palestras e workshops nos espaços reservados para o evento, 12 mulheres e meninas grafiteiras passaram o dia fazendo arte e o resultado foi uma série de imagens lindas e cheias de inspiração. A Bia Arruda, da Rede Nami, foi uma das grafiteiras que estavam fazendo arte no local e disse que a arte é uma forma importante de representar o empoderamento feminino.

 

 

No final da tarde, o Plano Feminino esteve com a Viviane Duarte mediando um papo sobre Mulheres no mundo corporativo sob a ótica feminina. Um dos pontos importantes levantados pela fundadora do Plano é como a mulher ainda é vista neste espaço de liderança e as atitudes que são necessárias para se posicionar e chegar aonde quiser:

“Temos vários obstáculos porque vivemos em uma sociedade patriarcal, onde homens brancos e cis ainda aparecem nas pesquisas que homens CEOs bombam mais do que mulheres. Mas será que no automotivo ou nos segmentos que mais giram, as empresas colocam as mulheres nesses espaços de poder? É por isso que gosto de dizer que a gente precisa ter autoestima. Olhar pro espelho, acreditar em quem a gente é e se colocar na cena como protagonista faz toda a diferença. É essencial se posicionar, negociar com firmeza e não se importar com o que as pessoas estão achando de você.”

 

 

Pra terminar o dia, shows com vários artistas, incluindo a rapper Flora Matos e Karol Conka, que fechou a noite colocando o público pra dançar vários de seus sucessos, inclusive Tombei. Aqui, um pouquinho da passagem de som durante a tarde, que já levou os fãs à loucura.

 

 

3º dia de Wow

No último dia, Djamila Ribeiro veio para encerrar com chave de ouro o evento. Em um papo sobre gênero, raça e feminismo, ela compartilhou com Reni Eddo-Lodge, jornalista, escritora e podcaster britânica, a dificuldade que as pessoas ainda têm de falar sobre raça em diversos espaços. “As desculpas são normalmente parecidas, porque costumam nos dizer ‘vocês são muito sensíveis, muito agressivas ou então dizem que estamos separando a luta e argumentam que ‘precisamos lutar primeiro com as grandes questões e depois a gente resolve a questão racial’. Isso acontece em vários lugares do mundo.”

 

 

No painel sobre juventude e participação política, vimos que os jovens, em especial mulheres, estão propondo mudanças para o mundo por meio de iniciativas que buscam reconstruir tanto a forma com que as mulheres e negras são representadas quanto a maneira de interferir politicamente nos rumos da sociedade.

No papo estavam presentes Cristina Buarque, Economista e Pesquisadora; Lola Werneck, coordenadora do Pilar Liderança Juvenil; Mikayla Jones, gerente sênior do Programa Brimingham; Sil Bahia, Diretora de Programas do Olabi e idealizadora do Preta Lab; Thamyra Thâmara, jornalista, mestre em cultura e territorialidade e cofundadora do Gatomídia e Mariéme Jamme, empresária, blogueira, tecnologista e empreendedora social africana, que criou o I Am the Code, que ensina programação para mulheres.

Conversamos com a Mariéme, que falou sobre a importância de um evento como o Wow e a parceria com o Plano de Menina para ajudar as meninas do projeto a aprenderem sobre programação: “Primeiro gostaria de agradecer o convite, o festival é maravilhoso! Eu já estive no WOW em Londres e agora estou aqui no Brasil muito feliz com a quantidade de pessoas participando dessas discussões sobre raça, gênero, políticas e sobre a violência contra meninas e mulheres, além também de discussão a respeito da diversidade e inclusão. Também estou muito feliz com a parceria do Plano com o I am The Code para ensinar mais meninas a programarem.”

 

 

O Plano no Wow

Como parceiros estratégicos do evento, foi extremamente gratificante participar do primeiro Festival Mulheres do Mundo na América Latina. Vimos o quanto as mulheres podem transformar o mundo e é importante celebrar a nossa existência e tudo o que estamos conseguindo realizar, o quanto estamos conseguindo ocupar espaços.

Ainda que tenhamos um longo caminho para trilhar, o Wow veio ao Brasil trazer discussões importantes sobre o papel da mulher na sociedade e, para nós, foi muito enriquecedor, especialmente por conta do cenário político repleto de incertezas e ameaças que estamos vivendo.

 

 

Que possamos ter a oportunidade de estar junto de ações e eventos como esse e juntas podermos transformar a realidade de meninas e mulheres para que as próximas gerações celebrem ainda mais conquistas.

Nosso muito obrigada ao Wow, pelo convite e parceria, à Eliana e Mulheres da Maré e à toda a equipe do British Council. Estamos muito felizes por juntas construirmos este momento histórico para as mulheres do Brasil.

 

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