Meses atrás, num surto, apaguei todos os meus ~apps de paquera~. Tinder, Happn, todos foram deletadíssimos. Não comecei a namorar ninguém, nem mesmo estava com algum rolinho fixo, mas só me enchi mesmo. Como uma amiga define bem, a sensação de estar no Tinder era como ter um grande álbum de figurinhas, onde a gente coleciona likes e matches, onde importa juntar um monte de pessoas te querendo, mas não chegar sequer a conversar com elas.
E também me incomodava demais a definição de atração só jogando pra um lado ou outro: sinceramente, nunca me apaixonei por ninguém pela aparência dele (uma olhada nos meus ex comprova isso: tem homem alto, baixo, loiro, moreno, magrelo, gordinho… em comum eles têm a personalidade, o senso de humor e certa preponderância de óculos e barbas).
Passei meses jogando gente pra lá e pra cá, conversei com alguns e o saldo positivo foi zero em termos de romance, apesar de ter feito alguns amigos que acabaram indo pra outras redes sociais e até pra vida offline. Então, um belo dia decidi deletar e pronto, adeus. E vinha vivendo esse tempo todo sem apps. Eu pensava que tinha passado a maior parte da minha vida conhecendo pessoas sem Tinder e podia perfeitamente continuar assim. E vinha funcionando: sem o nariz enfiado num aplicativo, reduzi minha ansiedade por ~encontrar o amor~ e fiquei bem mais tranquila.
Até esse domingo à noite, quando estava na casa da minha amiga comendo chili vegetariano com batata frita, assistindo NFL e bebendo mate gelado. O profundo tédio e uma conversa sobre a presença de mecânicos da Fórmula 1 na cidade e as conversas engraçadas que isso acarretava me levou a instalar de volta o app. Não, eu não estava bêbada. Mas estava suscetível e a possibilidade de conseguir material pra escrever pra vocês me seduziu. Sim, eu me sacrifiquei por vocês. Baixei o app e abri.
Amigas, it’s a jungle out there.
Apareceu cada criatura que eu não conseguia acreditar. Um deles jurou que minhas fotos passavam uma energia muito boa e que ele queria fazer meu mapa astral, me aplicar reiki e me encontrar imediatamente, tudo isso numa conversa de mais ou menos 15 minutos. Apesar de ser super a fim de fazer meu mapa astral, achei melhor não dar meu nome completo, data e local de nascimento pra um completo estranho.
Teve um segundo que, ao descobrir que sou vegetariana, disse que comia pouca carne, porque era muito fresco pra comer, só comia coxinha e peito de frango e que nunca tinha comido peixe na vida, claramente confundindo uma opção alimentar de não-crueldade com frescura mesmo.
Dois outros vieram com a conversa “hum, uma ruiva, amo ruivas” e quando eu disse que era tinta, um parou de falar comigo e outro disse que eu tinha acabado com o fetiche dele. Fiquei chateadíssima com a possibilidade de não contribuir pra tara do rapaz, mas o que eu poderia fazer, né?
Surgiu um que tentou me elogiar, mas foi meio esquisito: começou a conversa com um “Acho ridículo quem mente a idade” e ao mandar perplexa um “não entendi”, recebi como resposta “Você aumentou sua idade pra receber elogios, né? nem a pau você tem 38 anos”, e ao mesmo tempo em que isso me deixou levemente feliz por parecer mais jovem, fiquei irritada com a postura agressiva e ignorei.
O mais maravilhoso de todos foi um que disse “Oi, não sou de ficar de papo por aqui e nem gosto de ir a barzinho. Se quiser, pode vir aqui em casa, jantamos e nos conhecemos melhor”. A única coisa que pude pensar era “MANO, CERTEZA QUE ELE É UM SERIAL KILLER” e acreditei que ele só queria me comer, mas fritinha, à la Hannibal Lecter, e não de maneira sexual. Declinei o convite.
Nem sei quantos elogiaram as tatuagens, perguntando o significado. Sei que um monte de gente acha que isso é um quebra-gelo legal, mas pra quem tem tatuagem grande e aparente isso é muito chato. Nas primeiras vezes você até explica, mas depois enche o saco e a resposta fica meio seca. Desculpem mesmo, mas é que a paciência acaba.
Um deles perguntou o que eu estava fazendo e me contou o que ele estava fazendo: vendo TV e fumando um baseado. Eu disse que não curtia, mas ele contou que curte super, sempre fuma, também toma bala e doce. Fica aí a dica pra polícia: usar o Tinder pra localizar traficantes. Tecnologia a serviço da Lei.
Depois de quase cair do sofá de rir algumas vezes, fechei o app e fui pra casa com uma certeza: o Tinder não é pra mim. Não sei fazer charminho no chat, faço piadas idiotas e não tenho paciência pra xaveco tonto. O problema não é o app, sou eu, até porque eu também não sei ser sedutora e envolvente na vida real, sou atrapalhadíssima, não percebo quando estão dando em cima de mim, essas bobeiras. Então vou deletar o app de novo e seguir a vida, esperando o príncipe encantando chegar. Enquanto isso, vou rindo dos sapos por aí.
Nossa me identifiquei com vc Gabi, também não sei paquerar, sou atrapalhada e não tenho paciência para xaveco..
Obrigada por escrever esse artigo, agora sei que estava certa em não baixar esses app!!=)