Débora Neves é uma mulher feminista, que gosta de tecnologia. Uma mulher que atua na criação, um espaço que poucas mulheres ocupam. Ela é designer e cursou jornalismo, mas durante a graduação se deparou em vários momentos com a dificuldade em debater assuntos que permeiam o mundo acadêmico com pessoas que não faziam parte daquele espaço.

Ela percebeu que os termos utilizados, textos extensos e a falta de identificação com aquela realidade eram os principais motivos que tornavam a comunicação entre amigos e familiares quase nula.

O design entrou na sua vida desse anseio em unir informação de qualidade com praticidade. Seu Plano era transformar o famoso textão em um conteúdo imagético inteligível útil e o mais importante acessível para todos.

Na criação Débora diz que apesar de ser um ambiente predominantemente masculino, percebe que algumas mudanças estão acontecendo. “Tenho notado uma união muito forte entre as minas na tentativa de indicar umas às outras para ocuparem esses espaços e mostrar que nós, mulheres, somos profissionais incríveis e que esses espaços também são nossos. E isso é muito lindo de se ver.”

 

 

Como a maioria das mulheres, Débora diz que já passou por situações de preconceito apenas por ser mulher, mas ela diz que o mais marcante, foi um episódio de assédio que sofreu.

“Certa vez estávamos cobrindo um evento em outro estado, e evento é aquela correria, né? Então, para otimizar o tempo era comum a equipe se reunir durante o almoço. Éramos em oito pessoas, sendo eu e outra moça as únicas mulheres, mas naquele dia ela tinha ficado para entrevistar um dos convidados que havia chegado mais cedo, e fomos eu e outros seis homens para a reunião/almoço.

Eu estava muito desconfortável com aquela situação, mas dois dos meus superiores estavam lá, então eu tentei me tranquilizar pensando estar segura de alguma forma. Já havíamos finalizado e aguardávamos todos pagarem a conta.

 

Um dos meus superiores aproveitou um momento de descontração entre os demais rapazes e colocou a mão na minha coxa, ele a apertou forte e olhou pra mim. Fiquei com tanto ódio… queria gritar, mas não tive coragem, pensei que se o fizesse poderia perder o emprego que eu tanto gostava, então minha reação foi de empurrar sua mão e levantar desesperadamente em direção à van que trouxe a gente.

 

 

Fiquei sem chão, eu queria muito chorar, mas não ali. O caminho de volta durou uns 10 minutos e enquanto eu estava sentada lá no fundo, olhava pra fora da janela me segurando para não chorar.

 

Eles riam e falavam sobre assuntos aleatórios. Quando chegamos, corri em direção à moça que trabalhava comigo já chorando, ela me abraçou forte e me questionou sobre o ocorrido, eu contei e ela ficou tentando me consolar. Foi uma situação horrível! Naquele momento percebi que para me respeitarem como profissional eu teria que me posicionar e foi isso que eu passei a fazer.

Recentemente, a Débora criou um livreto para falar sobre aborto e porque a descriminalização é importante. O projeto é incrível e está disponível para download gratuito.

 

 

“Tanto o livreto quanto os cartazes com os dados estão disponíveis pra baixar. A ideia é que as mulheres imprimam e distribuam em manifestações e os cartazes elas podem usar como quiserem, até mesmo colar como lambe pelas ruas da cidade.

Notei que muita gente com quem eu conversava não sabia se posicionar sobre a questão do aborto, achavam um absurdo as minas se unirem pra ‘apoiar morte de bebês’. Sempre tento explicar a diferença de ser a favor do aborto, da descriminalização, citando também alguns motivos de apoiarmos a legalização do aborto.

Notei que esse mesmo problema acontecia muito na minha timeline, então decidi criar o projeto. Sou jornalista e designer gráfico, amo unir informação útil e de qualidade com praticidade e acredito que o design propõe isso, resolver problemas de comunicação por meio da criação

 

 

Como toda mulher, Débora tem Planos, especialmente relacionados à carreira. “Meu Plano é ser reconhecida pelo meu trabalho e conseguir ajudar outras pessoas por meio da comunicação. Acredito que informação é poder e que ela é capaz de transformar, mas para isso, é necessário que ela chegue a todos os espaços.

Também espero trabalhar em um espaço só com mulheres, com ações que causem impacto positivo na sociedade no combate à desigualdade. Estes são meus Planos.”

Para que todas as mulheres ocupem os espaços que quiserem Débora diz que é importante ter união, que uma ajude a outra. “É importante deixar de lado essa competitividade feminina que insistem em nos impor. Também é nosso papel denunciar o assédio e o machismo que acontece no ambiente de trabalho sempre que possível, e cobrar dos homens que eles se desconstruam e respeitem o nosso lugar de fala.

Não deixemos que nos calem ou nos diminuam por sermos mulheres. É cansativo, eu sei, mas que encontremos forças umas nas outras para seguir e ocuparmos cada vez mais espaços. Somos mulheres, somos profissionais e o respeito é nosso por direito.”

Débora é uma mulher como todas nós. Lutando por seu lugar ao sol e ao mesmo tempo quer fazer sua parte na defesa dos direitos das mulheres. É bom termos esses exemplos tão incríveis de mulheres que estão fazendo acontecer, que estão na luta, mostrando que podem fazer a diferença e ocupar espaços.

Conhece uma mulher inspiradora também? Manda pra gente por e-mail no [email protected] que queremos contar sua história por aqui!

 

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