No último episódio da quarta temporada de uma das séries de maior sucesso produzidas pela Netflix, há uma transferência de poder na prisão: por um conjunto de circunstâncias, o jogo se inverte. Mas, mais do que esperar ansiosamente pelo que se seguirá na nova temporada a partir desta semana na maior videolocadora do mundo, é entender a importância da série.
Ficção. Orange is the new Black faz referência a uma expressão do mundo da moda que significa o que é o novo estilo, o que funciona agora, o que se pode usar sem erro. Baseado no livro de memórias homônimo de Piper Kerman, a série conta a história de Piper Chapman (Taylor Schilling), a protagonista do início da primeira temporada, uma mulher branca de classe média alta e chegando aos trinta anos, que é condenada a 18 meses de prisão por carregar dinheiro advindo de tráfico de drogas. Ela sai de uma vida estável e confortável para o cárcere e então tudo muda, inclusive seu figurino, agora laranja – farda das usuárias do sistema prisional. A partir disso, passaremos por todas as etapas de transformação de personagens de seu entorno, as diferentes classes econômicas e sociais abordadas, os preconceitos, os maus tratos, e muitas situações que acometem todas as mulheres – livres e encarceradas – deste hemisfério.
Aborto, gravidez, estupro, uso de drogas, diferenças culturais, violências, educação, religião, política, vaidade, saúde, descaso do sistema, família, relacionamentos dentro e fora da prisão, transgêneros, gays e heterossexuais, parece que está tudo aí. Todas as questões que dizem respeito às nossas vidas são abordadas sem obscurecer o entretenimento, garantindo risadas e emoções. Isso por conta de um elenco estelar e uma roteirista e produtora experiente: Jenji Kohan. A criadora da série também produziu e escreveu alguns episódios de Gilmore Girls, Will and Grace, Sex and the City, é criadora de Weeds, entre outras – todas com personagens femininos à frente das tramas e um toque de comédia ácida e sempre crítica.
Orange é uma série criada por mulheres, com mulheres protagonistas e sendo feminina a maior parte do elenco. A vinheta de abertura é feita com mulheres que vivem em presídios. É também uma série sobre o universo feminino sob uma perspectiva particular que o extrapola – as relações familiares, os espaços para outros personagens e histórias enriquecem a trama e tiram do foco o que seria a exclusiva história de Piper – dando voz às demais experiências e histórias de quem vive e convive naquelas condições. Entretanto, não é uma série para a mulher, mas para todos. Ela, por uma via inesperada, transgride nossos conceitos de crime, punição, justiça tanto quanto de família, sororidade e amizade ao visualizarmos situações que não fazem parte do cotidiano da maior parte de seus espectadores.
É claro que sabemos que o poder, nesta quinta temporada, continuará não sendo das mulheres detidas, apesar da expectativa criada anteriormente – ou a série seria sobre uma rebelião e liberdade – e isso não é spoiler. O interessante agora é entender que outros aspectos do comportamento humano serão abordados em uma série que parece já ter trazido tudo. Há sempre o que contar, apesar de ser surpreendente que o tema do cárcere não fique monótono, especialmente se não é uma série de ação, e sim, de drama. Da mesma forma que ainda há fôlego para 13 novos episódios, ainda há muito que contar sobre esse período de reclusão, já que a ex-namorada de Piper Kerman (a protagonista Piper Chapman), Cleary Wolters (na série, Alex Vause) lançou em 2016 seu livro de memórias, Out of Orange.
https://www.youtube.com/watch?v=9feCpLBJ0WE
A nova temporada já está disponível no Netflix. É esperar para ver o que se seguirá e contar a força das mulheres da indústria criativa em mais produções com a qualidade e inteligência desta.