Como foi mesmo que te conheci? Ah, sim. Te convidei pra fazer companhia num trago de um cigarro. Até hoje você não sabe o porque. Você parecia ter um abraço bom, só por isso. E eu queria ter certeza se tinha ou não. Coisa de gente meio louca sabe?
Você tem charme. Você sabe sorrir. Você sabe – mesmo – abraçar. E você tem aquele jeito de encostar em mim e roubar todas as minhas defesas. Você fala alto. Se indigna. Se enche de opiniões. Sabe me levar ao sono. Se despede em seguida, manda um beijo no ar. Durmo atordoada depois de ouvir a porta bater. Você sempre vai. E eu sempre fico com o cheiro do seu sono ao meu lado. Eu nunca sei se vai voltar. E ai um recado aqui, um telefonema ali. Eu sempre tenho vontade de não responder, não atender, não me render, mas me rendo depois de dois segundos porque é o tempo que meu estômago aguenta.
Lembro de você a cada cigarro na janela e quando tem vento, então… E aquele programa na televisão, a insônia compartilhada, o excesso de álcool, uns cem números de músicas, o ódio compartilhado pelo calor, o barulho do elevador, um beijo no pescoço, entrar no elevador, chegar em casa, ligações embriagadas durante a madrugada, carinho, reclamar do trabalho, as risadas por bobagens, os planos, o sofá, os cachorros, a praia, a respiração aliviada, um rosto na multidão, o bater na porta, o mistério, à vontade, a boca, o tormento, o encontrar o céu.
Te contei que sonho com você semanalmente? Juro. Ao menos uma vez eu durmo e você está lá. E eu também. É bom até acordar. Porque o cheiro do seu sono não está, não teve um beijo no ar e nem um encostar de pele antes de adormecer. Saudade acaba comigo. Ou é o calor que me deixa louca.
Mas eu prometi ao santo, a mim e até para a embriaguez. Só não sei o que fazer agora.
Se for o calor, deixa transpirar.