Se no Oscar desse ano Patrícia Arquette deu uma chacoalhada na indústria de Hollywood com seu discurso por igualdade de gêneros, parece que a polêmica que está longe de terminar.
Poucos meses depois, o Festival de Cinema de Cannes aparece nos jornais por algo mais que o glamour e os lançamentos de filmes. Essa semana, as produtora Valéria Richter, declarou ter tido problemas para entrar no evento por não usar salto alto. Se não fosse uma situação constrangedora por sí só, há um detalhe que deixa o caso mais vexaminoso: Valéria teve o dedão e parte do pé esquerdo amputados há dois anos e, de forma alguma, pode usar salto.
Embora o festival negue a exigência do salto como dress code, não é a primeira vez que uma mulher denuncia esse tratamento. Segundo reportagem da revista Screen várias mulheres foram impedidas de cruzar o tapete vermelho para ver o filme “Carol”, no dia 17 de maio, porque seus sapatos não tinham salto o suficiente.
A polêmica ganha corpo no ano em que diversas atrizes se pronunciaram contra o questionamentos apenas sobre roupas e aparência durante eventos. Com o slogan #AskHerMore, a campanha pelo reconhecimento das atrizes ganhou corpo com a atitude da própria Arquette na noite do Oscar, que falou sobre seus projetos sociais, a importância do filme “Boyhood” e não deixou brecha para perguntas superficiais.
A ganhadora do Oscar de melhor atriz de 2014, Cate Balchett também mostrou atitude ao questionar um repórter que filmava seu vestido “Vocês fazem isso com os homens também?”. Cate, no seu discurso de vencedora, questionou a falta de protagonistas mulheres nos grandes filmes.
Falso brilhante: o que o glamour do tapete vermelho esconde
Mas o que motivou essa virada, já que muitas delas são patrocinadas por grandes marcas de cosméticos e estilistas? Claro, elas faturam (e alto) com a beleza e as fotos red carpet são parte dessa construção de imagem.
Mas o vazamento de um e-mail da Sony , durante um ataque por hackers, revelou o lado perverso disso. Conversas entre os executivos mostravam que mesmo estrelas em ascensão como Jennifer Lawrence e Amy Adams ganham menos do que companheiros de filme que sejam menos conhecidos, como aconteceu em “A trapaça”.
Também recentemente, a atriz Maggie Gyllenhaall foi rejeitada para o papel de amante em um filme. Motivo? A atriz de 37 anos seria “velha demais” para um homem de 55 anos, segundo entrevista na revista “The Wrap”. Em Cannes, a veterana Catherine Deneuve, 71 anos, falou sobre o tema “Sempre foi difícil para as mulheres, mas nos Estados Unidos é bem pior, porque elas não têm permissão para envelhecer”.
E isso reflete nos números da tela: dos 100 filmes mais lucrativos de 2014, apenas 12% têm personagens femininas como protagonistas, segundo pesquisa da Universidade de San Diego.
Ainda bem que Mad Max: Estrada da Fúria parece ser de uma nova safra, disposta a mudar isso. A força da Imperatriz Furiosa, personagem de Charlize Theron, e o desempenho de atrizes idosas no longa mostra que outro caminho é possível, até nos tradicionais filmes blockbusters movidos a testosterona.
Confira 10 momentos de empoderamento feminino do filme Mad Max: Estrada da Fúria.
Foto: Neilson Barnard