Ana Carolina Queiroz tem 18 anos, acabou de terminar o ensino médio e entrou na faculdade de direito da Universidade Estadual de São Paulo –USP. Até ai tudo bem, seria mais uma história de uma garota inteligente que conseguiu entrar numa universidade renomada. Não fosse o fato de que ela, além de tudo, estudante bolsista, é a delegada do Brasil na edição 2016 do G(irls)20 e participará representando o país em um Summit na China que acontecerá este mês.
Tudo por conta de projetos incríveis que vem se envolvendo desde menina na Robótica e Ciência. Ana Carolina teve a oportunidade de estudar em um colégio renomado da cidade, graças a sua mãe que sempre trabalhou na escola. Incentivada a fazer todos os cursos gratuitos que o colégio oferecia: teatro, oficina de jornalismo, ciência e robótica… ela se encontrou: se apaixonou por robótica e ciência.
“A robótica comecei com 10 anos e me encantei. Tinha amigos que faziam e resolvi fazer. Todas as meninas na época desistiram e eu insisti porque achei “da hora”. Mas ser a única menina do time sempre era terrível. Eu era excluída, zuada e desprezada pelos meninos.”
Ana Carolina aprendeu aos 10 anos o que era machismo e desmotivada por ser excluída pelos colegas dos times de robótica decidiu sair do curso. Mas não conseguiu. Contou com a ajuda e orientação da coordenadora do curso para voltar ao time de robótica do colégio e fazer o seu melhor.
“ Minha professora de robótica é como uma segunda mãe. Quando eu estava desanimada e mesmo apaixonada pela robótica, senti vontade de desistir por conta das piadinhas e exclusão dos meninos em sala de aula, ela me deu a mão e me mostrou que a gente precisa ocupar os lugares que são nossos por direito”
Foi assim, incentivada por sua professora de robótica, que enxergou em Ana Carolina potencial e representatividade para as próximas gerações, que a menina se tornou líder de pesquisa da equipe e desenvolveu projetos como uma plataforma que alertou a população de uma pequena cidade sobe inundações. Além disso, a garota representou o Brasil no FIRST LEGO League, a principal competição de robótica internacional em edições no Canadá e África do Sul. Ana também fez pesquisas sobre o ciclo menstrual e empoderamento das meninas, ambos na sua escola, com meninas da periferia, recebendo elogios nacionais e internacionais, como um Certificado de Achievement Award dado pela American Psychological Association, e uma bolsa de Iniciação Científica Júnior. UAU!
Um incentivo de uma professora que transformou não só a Ana Carolina em uma líder, como em uma ativista feminista que pretende abrir espaço para mais meninas na robótica e levá-las por meio de seus projetos, a conhecerem mais sobre seus corpos, hormônios e ciclos menstruais.
“ Minha professora me buscou num momento em que achei que deveria desistir e dar causa ganha ao machismo. Que bom que ela me fez entender que eu precisava estar ali por mim mesma e por outras meninas. É importante que a gente enfrente o machismo e não permita brincadeirinhas que nos diminuam, nos excluam. Temos nosso potencial e tudo o que queremos é os mesmos direitos e respeito. Não faz sentido um menino achar que sabe mais pelo simples fato de ser um menino. É urgente que a gente fale sobre isso e que lute pela igualdade de gênero em todos os espaços. Muitos amigos meus faziam piadas e depois que comecei a corar deles outra postura, eles mudaram. Não precisa ser assim.
Ela me ensinou a ser líder. Me inspirou. Tem uma frase da minha professora que vou levar pra toda a vida: Você não pode esquecer que ser líder é diferente de ser chefe. Chefe manda, líder ensina. Isso me mostrou muito como agir com as pessoas dos times que lidero e o resultado são os prêmios que temos ganhado e como temos encarado o machismo de frente. Sei que no fundo minha professora torcia para as meninas ficarem e hoje eu também torço e quero que elas lotem as salas de robótica e ciência e mais e mais espaços.
Me descobri feminista nestes anos e processos e não sei viver mais sem esta causa. Ela faz parte de tudo o que sou e acredito. O feminismo é sobre igualdade de gênero, é sobre oportunidades e direitos iguais e eu quero isso para a minha vida e a vida de todas as meninas.
Se eu puder deixar um recado para outras mulheres seria: ajude uma amiga sua. Ajude uma mina. Puxe ela. Não a critique, entenda ela. A gente precisa se ajudar e ser amigas e acreditar umas nas outras. Só assim a gente vai conseguir vencer. Juntas.”
O que dizer diante de palavras tão fortes e verdadeiras de uma garota de 18 anos?
Vai lá e arrasa, Ana Carolina, nós estamos daqui orgulhosas e vibrando para que muitas outras Anas, Carolinas, Marias, Julianas, Cristianes, resistam ao machismo e invistam em ser o que elas quiserem ser. E sim, vamos juntas, porque juntas chegaremos muito mais longe!
SOBRE G(IRLS) 20
G(irls) 20 foi lançado em 2009 na Clinton Global Initiative para defender uma ação a nível do G20 e ao mesmo tempo para cultivar uma nova geração de líderes femininas que são capazes de assumir posições de lideranças locais, nacionais e globais. As contas do G20 representam cerca de 85% do produto bruto mundial (GWP em inglês), 80% do comércio mundial e dois terços da população do mundo, por isso é crucial que as políticas e os investimentos incluam a participação feminina na força de trabalho.
G(irls) 20 foi a primeira empresa social a defender que um aumento na participação feminina na força de trabalho no G20 é a chave para o crescimento econômico e estabilidade, reduzindo a pobreza e melhorando as condições de vida. A força de trabalho feminina continua a ser significativamente menor do que a participação masculina, apesar do fato de que as mulheres representarem mais de 50% da população do mundo.
MISSÃO DO G(IRLS)20
Cultivar uma nova geração de líderes do sexo feminino por meio da educação, empreendedorismo e experiências globais e aumentar a participação feminina na força de trabalho.
G(IRLS) 20 SUMMIT
O G(irls) 20 Summit é uma cúpula global anual que dura de 4 a 6 semanas antes do encontro dos líderes do G20. A Cúpula é realizada no país que preside o G20, em 2016, será em agosto, na China.