Esses dias eu ouvi de uma colega que ela vai, sim, incentivar seu filho a mexer com as mulheres na rua. Logo em seguida ela veio com aquele discurso antigo de que “feminista gosta mesmo é de mulher, não se depila, não é bem resolvida na cama” e todos aqueles clichês que toda pessoa que não pensa muito, lança em discussões antigas como essa.
No meio do diálogo, eu perdi a vontade de argumentar.
Eu adoro TROCAR ideias com pessoas que têm suas próprias ideias. Mas odeio ficar ouvindo argumentos repetidos que já ouvi várias vezes de pessoas que não pensam por si só, apenas repetem o que alguém as ensinou ou doutrinou a repetir.
Não existe troca; apenas uma vociferação de uma “verdade absoluta” que, na realidade, é ultrapassada ou não existe.
Enfim… isso tudo aconteceu num dia em que eu e uma amiga recebemos um galanteio na rua que não nos constrangeu. Muito pelo contrário: nos deixou lisonjeadas! Vou contar…
Logo ao chegarmos num restaurante, notamos que 3 homens numa mesa que conversavam sobre negócios simplesmente pararam de conversar para nos ver entrar.
Nenhum olhar foi direto para nossas bundas! Acredite. Não ouvimos nenhum comentário, nenhuma palavra foi dita e não nos sentimos invadidas. Eles apenas olharam, com um sorriso, como nós olhamos para algo bonito.
Ao sentarmos, veio a preocupação… será que eles viriam até nós para “atrapalhar” nosso almoço?
Nada disso.
Eles permaneceram lá, sentados, falando sobre o que estavam falando quando chegamos.
Minha amiga e eu almoçamos tranquilamente e até nos esquecemos do que havia acontecido.
Eles se levantaram, pagaram a conta e, novamente, veio a certeza de que seríamos abordadas.
Novamente, mais uma surpresa. Nada aconteceu.
Então, pedimos nossa conta e fomos embora.
Ao deixarmos o restaurante, um deles ainda permanecia lá. Creio que estava esperando o carro. Não sei. E ao passarmos por ele, de forma muito educada ele disse:
“Me desculpe, mas eu preciso falar uma coisa para vocês: vocês são lindas!”
Novamente, olhos nos olhos… nada de ficar olhando para nossa bunda ou nosso decote. Ele disse isso e se afastou gentilmente, para que passássemos.
Nossa reação? Bem diferente de quando ouvimos um “gostosa” na rua… Nós agradecemos! O que mais poderíamos fazer?
Eu confesso que foi a primeira vez que recebi um elogio na rua que não me deixou constrangida. Não teve nada de “gostosa”, “delícia” ou “nossa, te comia muito” que já ouvi algumas vezes.
Foram apenas 3 homens elegantes apreciando a beleza feminina de forma gentil.
Meu dia ficou mais alegre. Lógico, quem não gosta de ouvir um elogio?
Bom, de volta ao assunto inicial, enquanto aquela minha colega repetia seus clichês dizendo que vai, sim, incentivar seu filho a mexer com as mulheres na rua, eu fiquei imaginando como ela faria isso?
Por suas palavras, ela não me pareceu do tipo que vai criar um homem elegante como os 3 que estavam no restaurante. Me pareceu que ela está preparando mais um “ogro” que habitará entre nós achando que nós somos uma sub-raça que deve submeter-se à sua vontade.
É uma pena ver que muitas mulheres ainda não sacaram o movimento feminista, ou que ainda têm “aquela velha opinião formada sobre tudo”. Pode até ser que, no seu início, as ativistas fossem mais extremistas. Lógico, é compreensível. Para ser ouvida, é preciso romper drasticamente com o status quo.
Mas hoje em dia, em pleno 2014, o que está em pauta é a igualdade de gêneros e não mais quem se depila ou não, a opção sexual ou quem é “bem-comida” ou não.
O ponto de hoje é muito mais o RESPEITO do que “o que pode e o que não pode”. Mulheres em cargos iguais aos homens e igualmente competentes ainda ganham menos. Homens nas ruas ainda acham que podem chegar perto de uma desconhecida e dizer absurdos no seu ouvido e, muitas vezes, tocar seu corpo. Mães ainda educam suas filhas para serem ótimas donas de casa e filhos para serem machos dominantes. Por outro lado, homens ainda pensam que não podem chorar pois perderão o respeito de suas parceiras.
Enfim, gostaria que pessoas como essa minha colega criassem uma nova geração de humanos (homens e mulheres). Mas vejo que ainda estamos longe disso.