texto de Guilherme Zanette
Felicidade é um estado interno, que não tem a ver com o consumo de bens materiais ou a conquista isolada de algo. Para psicoterapeuta Maura de Albanesi, felicidade é uma decisão que passa por preceitos básicos. Veja 5 dicas para ser mais feliz
Ao comprar uma casa, um carro ou até mesmo uma joia, é normal que a pessoa sinta prazer. Afinal, o consumo de bens materiais também desperta esse efeito. Ao conquistar uma pessoa a quem se ama, também sentimos sensação semelhante. Mas, afinal, isso representa de fato a felicidade? “A felicidade é um estado de alma que não consiste em ter as coisas, mas em ser aquilo que você almeja. Então, ela é um estado (interno) duradouro, não momentâneo. Picos de alegria não representam necessariamente a felicidade”, explica a psicoterapeuta e líder coach Maura de Albanesi, mestre em Psicologia e Religião (PUC-SP).
De acordo com a especialista, quando uma pessoa se sente feliz ela vibra o tempo todo na alegria, na gratidão, no reconhecimento e fica satisfeita naquilo que faz. “Essa pessoa aceita a vida como é — sem que isso se transforme em uma zona de conforto obviamente. Porque às vezes, a gente olha para o mundo e pensa: ‘nossa, está tudo errado’ e isso nos deixa infeliz. Então, a felicidade vem de um estado perene de aceitação dos fatos como são e, com isso, nos sentimos gratos da forma como são. Isso não implica em não nos esforçarmos para melhorarmos enquanto pessoas – sem que isso seja uma tortura – mas que seja um ato de prazer”, destaca a psicoterapeuta. “A felicidade vem junto com prazer em tudo o que fazemos. A felicidade consiste em trazer para o dia a dia o prazer de viver das coisas como elas são e não como elas deveriam ser segundo o nosso julgamento”, completa.
Apesar da felicidade estar alinhada com os atos de prazer, a psicoterapeuta descarta que bens materiais, viagens e outros prazeres da vida, por si só, façam com que alguém seja feliz. “Hoje, creio que não poderia dizer que as pessoas são mais felizes, apesar de termos tantas oportunidades e coisas para nos divertirmos e sermos mais felizes, como viagens mais acessíveis, facilidade de ir e vir a vários lugares — comparada ao contexto dos nossos avós e tataravós”, compara. “Mas eu creio que tudo isso também gera para a pessoa uma certa obrigação, já que existem todas essas opções. Essa agitação toda nos obriga a resolver as coisas e ser feliz a qualquer custo. Então, a pessoa pode se sentir infeliz, pois ela não tem uma força interna de se disponibilizar para absorver tudo isso” opina, acrescentando que ainda falta dentro do ser humano a crença de ser feliz com aquilo que tem. “Você pode estar no maior parque de diversões, como na Disney, por exemplo, e não estar se sentindo feliz. Não importa o externo. A felicidade é algo interno.”
Sobre essa “obrigação”, a psicoterapeuta explica que também surgem questionamentos e cobranças como “você tem que ser feliz”, “por qual motivo você não é feliz?”, “você é uma pessoa bonita e bem-sucedida na carreira e está reclamando?”. “Então, é isso: nós temos muitas coisas externas e poucas coisas que adquirimos internamente e, com isso, a felicidade vai se distanciando”. Isso acontece, muitas vezes, pelo conceito de felicidade imposto pela sociedade. “A sociedade vai propor o consumismo como forma de chegar à felicidade. E com isso, nós achamos que “ter alguma coisa” significar ser algo. A própria palavra diz ‘ser feliz’ e não ‘ter felicidade’”, diferencia. E explica: “A palavra ‘ter’ vem de um ganho externo e o ‘ser’ vem de um ganho interno. Então, realmente, a sociedade propõe uma felicidade inatingível e quanto mais temos esta visão, mais queremos”, completa. “Você compra um carro, fica feliz por algum tempo, mas a alegria termina e você começa a pensar que poderia comprar um carro melhor etc. Bom, com isso, cria-se então uma ‘bola de neve’.”
Mas, enfim, como ser feliz? “Creio que a felicidade é uma decisão. Nós decidimos ser felizes ou decidimos ser infelizes – independentemente das coisas que acontecem. Porque é da nossa natureza sermos felizes, sermos alegres e vivermos a vida plenamente”, enfatiza. Mas, segundo a líder-coach, nós vamos contra essa natureza, pois o esforço que fazemos para ficarmos tristes é maior do que faríamos para ficarmos alegres. “A tristeza tem ganhos secundários, principalmente, quando traz a atenção das pessoas para conosco. A gente também atrai essa tristeza como uma forma de receber carinho. E quando estamos felizes e radiantes também tememos a inveja”, explica. “Então, qual é o caminho? O caminho é uma decisão. Decida o hoje e pronto, do jeito que está a sua vida, sem depender da aprovação e do afeto que o outro possa dar.” E existem dicas práticas da especialista para isso:
1) Fazer o que se gosta — ter momentos de laser, aprender a ter prazer na vida (tanto no que faz quanto nas diversões);
2) Aplicar nos relacionamentos — investir em construir relacionamentos sociais e construir amizades, tanto as íntimas quanto as não tão íntimas, porque é bom ter um rol de amigos;
3) Conhecer novos lugares — fazer coisas diferentes a tudo que estamos acostumados nos traz felicidade, porque nos lembra que estamos vivos e nos permite ver a beleza das coisas;
4) Desenvolver a espiritualidade — é importante desenvolver toda a nossa espiritualidade, a transcendência, e não se apegar tanto apenas às questões materiais, mas saber que a matéria é necessária, é fundamental, mas não essencial;
5) Paz de espírito — o essencial, pois adquirimos paz de espírito no desenvolvimento do nosso autoconhecimento e espiritualidade, que nos traz esperança, tolerância e fé.
* Maura de Albanesi é mestre em Psicologia e Religião pela PUCSP, Pós-Graduada em Psicoterapia Corporal, Terapia de Vivências Passadas (TVP), Terapia Artística, Psicoterapia Transpessoal e Formação Biográfica Antroposófica, atua com o ser humano há mais de 30 anos.