Lugar de mulher também é na ciência, na física. É isso que mostra Jocelyn Bell Burnell, uma das principais astrofísicas do Reino Unido. Neste mês ela foi anunciada como ganhadora do Prêmio Breakthrough Especial de Física Fundamental, que nada mais é que o mais lucrativo para a ciência moderna.

Agora, Jocelyn quer investir o prêmio em mulheres, pessoas minorizadas e estudantes refugiados para que este seja um impulso para que ingressem no campo da ciência.A premiação da cientista é de um valor bem considerável: 2,3 milhões de libras, que equivalem a R$ 12 milhões. Jocelyn quer converter esse dinheiro todo em bolsas de estudos para beneficiar grupos que tenham poucas oportunidades de ingressar na área de pesquisa física.

 

 

“Eu não quero nem preciso do dinheiro e me pareceu que esse fosse, talvez, o melhor uso que eu poderia dar a ele”, disse Burnell à BBC News, completando que acredita que grupos como esses podem fazer a diferença com novas ideias nessa área do conhecimento.

 

 

 

 

O desafio para as mulheres na área científica é muito grande. O próprio reconhecimento às ideias que Jocelyn introduziu nesse campo chegou cinco décadas (sim, 50 anos…) depois da descoberta que ela fez dos “pulsares”, que é como são chamadas estrelas de nêutrons que transformam a energia rotacional em energia eletromagnética.

A premiação chega também mais de 40 anos depois de outra data que tem relação direta com essa descoberta: a concessão do Prêmio Nobel de Física a dois colegas homens que trabalharam com ela na pesquisa. Eles foram os únicos a receberem reconhecimento, apesar do papel extremamente importante que Jocelyn exerceu.

A astrofísica é professora da Universidade de Oxford, estudou doutorado na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e teve participação importante no grupo de pesquisadores que descobriu o primeiro pulsar.

Jocelyn e mais dois colegas desenvolveram um telescópio projetado para capturar ondas de rádio e métodos para ler e processar os dados recebidos, comprovando, assim, que estrelas e outros objetos astronômicos emitem não apenas luz visível, mas também ondas de rádio.

Jocelyn Burnell era a responsável pela análise dos dados do telescópio que ajudou a construir e foi a primeira a identificar e analisar esses objetos astronômicos.

Ela identificou um sinal fraco e bem diferente de tudo que já havia pesquisa e, em entrevista ao jornal britânico The Guardian, disse que só percebeu isso “porque estava sendo realmente cuidadosa e minuciosa” e sua descoberta foi anunciada em 1968.

Apesar da sua participação essencial na descoberta do fenômeno, apenas seu supervisor Antony Hewish, e seu colega, Martin Ryle, foram anunciados como vencedores do Nobel, em 1974. Ela ficou de fora. Apesar de a decisão ter sido criticada na época, não pela cientista, mas pela mídia, o assunto morreu por aí.

 

Martin Ryle e Antony Hewish receberam o Nobel de Física, em 1974, por descobertas feitas em pesquisa na qual Burnell foi fundamental
Martin Ryle e Antony Hewish receberam o Nobel de Física, em 1974, por descobertas feitas em pesquisa na qual Burnell foi fundamental

Até agora. Jocelyn finalmente será reconhecida pelo trabalho realizado há mais de 40 anos e que foi essencial para a descoberta científica pela qual seus colegas homens foram premiados.

Yuri Milner, um dos fundadores da premiação, disse no texto em que a britânica é anunciada como vencedora na categoria especial que “sua curiosidade, suas observações diligentes e sua análise rigorosa revelaram alguns dos objetos mais interessantes e misteriosos do Universo”. “A professora Bell Burnell merece esse reconhecimento”, pontuou ele.

O prêmio que Jocelyn irá receber, só havia sido entregue em outras quatro ocasiões. Em uma delas, o agraciado foi Stephen Hawking.

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