Joselita nasceu sem privilégios. Mulher. Negra. Pobre. Mas com garra para vencer os obstáculos de uma sociedade opressora. Se formou em administração, abriu seu salão de beleza. Sorriu para a vida e perseverou.
Tinha planos. Queria o melhor para os seus. Criou seus filhos para conquistarem seus sonhos , mesmo em meio às dificuldades.
Num dia de novembro de 2015 viu seu pequeno garoto negro entrar no primeiro emprego e ir comemorar o primeiro salário recebido com seus amigos. Imagino a sensação de dever cumprido desta mãe.
Mas seu garoto saiu de casa feliz e não voltou pra casa. Não vivo. Teve seus sonhos destruídos por CENTO E ONZE TIROS. Sonhos metralhados por uma polícia bandida. E então, esta mulher percebeu da pior forma que não venceu.
Não venceu o racismo, a desumanidade, a perversidade e o descaso. Percebeu que perdeu para uma justiça que serve apenas para quem tem dinheiro para subornar. Que perdeu para um sociedade que ignora as minorias. Se entristeceu. Padeceu diante de uma justiça que protege o opressor. Vendo os bandidos disfarçados de policiais e assassinos de seu filho – livres.
Sucumbiu ao descaso de um país que não acolhe quem nasceu sem privilégios. Que metralha quem ousa sonhar em um futuro melhor. E foi atrás de seu garoto. Desistiu de viver.
Ela não é a única mulher e mãe que sofre com esse país sem lei e impunidade sem fim. Não podemos ignorar este caso e nenhum outro. Este não é um problema da Joselita. É nosso também. Precisamos de justiça e de gente de bem à frente dela, do contrário, sucumbiremos. Todos.#111tirosemnós
Sobre o caso
Em novembro de 2015, que Betinho e mais quatro amigos saíram para comemorar seu emprego e seu primeiro salário. À noite, a caminho de casa, o Palio branco em que estavam recebeu nada menos que 111 tiros, sendo 80 de fuzil da Polícia Militar, matando os 4 meninos que nada haviam feito. Hoje, os policiais envolvidos no caso respondem pelo crime em liberdade.