Juliana, ser mãe não é só isso. Eu sei  o que você está passando. Não na mesma proporção é claro, mas sei. Quando li seu post no Facebook tive vontade de ir até você e te dar um abraço apertado. Te tirar da rotina maluca que de repente invadiu sua vida e te chamar pra dar uma volta. Pra andar sem pensar na próxima mamada e fralda de cocô. Sentar num café e falar das coisas da vida, dar umas risadas. Essas coisas que eu sei bem, quando a gente tem um filho, parecem que nunca mais voltarão pra vida da gente.

Eu tive meu filho aos 20 anos. Engravidei porque queria. Planejei cada passo, mas na hora em que o teste deu positivo senti uma mistura de euforia e medo. Nesta época minhas amigas estavam ingressando na faculdade, indo fazer mochilão, intercâmbios. Daí pensei se era mesmo a hora.  Chorei. Tava feliz, mas também tava com medo. No carro, a caminho de casa, eu ficava pensando em como dar a notícia para o meu marido. Tem mulher que coloca sapatinhos de bebê na gaveta de meias do cara. Tem outras que chamam para um jantar especial. Mas a gente estava sem grana, tínhamos acabado de sair de uma crise financeira. Então, esquece os sapatinhos e jantar. O mais importante era a notícia. Estava grávida!

Fui no caminho, entre uma manobra e outra, lembrando de cenas de filmes e novelas.  Aquelas cenas que quando a mulher conta que está esperando um filho do cara, a câmera corta nos olhos cheios de lágrimas emocionados dele, a trilha sonora é uma música do Ed Sheran e eles lentamente se aproximam e se beijam. Ele gira ela! O giro. Muita atenção no giro. É o climax da cena! Suspeirei e percebi que tava feliz.

Estacionei na garagem do prédio, fiquei ali ensaiando como falaria: TCHARAM! Você vai ser pai!

– Estamos grávidos! Uhullll!

E outras frases, outras performances. Chega! Era a hora da verdade. Abri a porta do apê e meu maridinho no auge de seus 24 anos estava almoçando. Ele sabia que eu havia ido ao médico ver o resultado do exame. Pensei nas cenas dos filmes todos. A trilha. O olhar emocionado. O giro. E….fuen! Nada disso aconteceu.

Ele me olhou com uma cara de pânico e perguntou: e aí? Eu senti um frio na barriga. Respirei fundo e disse: estou mesmo grávida.  Numa entonação nada confortável. Ele me olhou e disse a frase que eu nunca tinha imaginado em minhas suposições: – É. Vamos ter que trabalhar mais. Estamos ferrados!

Oi?!!????????

Eu chorei. Chorei muito. Achei ele um imbecil! Me senti sozinha. Chorei de novo. Ele me abraçou, tentou justificar a frase fora de contexto pras minhas expectativas e ouviu um: SAI DAQUI!

Ali eu comecei a entender sobre ser mãe. Meu marido me amava, amava nosso bebê, mas estava em pânico, além de não ter ideia das cenas que eu tinha selecionado em minha mente para este dia. Então eu pensava: e agora? O que eu vou falar para quem perguntar como ele recebeu a notícia? Tradição. Ilusão que a sociedade embute na nossa mente. Mas a vida não é a cena de um filme de comédia romântica. Chorava. Esguelava!

A barriga foi crescendo. Ânsia. Enjoos. Falávamos que estávamos grávidos, mas a barriga dele continuava ali – normal. Seus dias pro futebol com os amigos também. Sentia que nunca mais seria a mesma. Tinha medo.

As mulheres da família me falavam que eu deveria aproveitar a gestação e dormir bem, porque depois que o bebê nascesse, acabou sossego. Tinha certeza que era exagero. AHAM.

 

Chegou o grande dia! As roupinhas estavam todas arrumadinhas e cheirosas. Eu tinha feito os exercícios para o parto normal. A gente tinha montado o berço, o quartinho. Tava tudo lindo! E lá vai eu com recortes de cenas de filmes na cabeça. Ia ser mágico!

– O BEBÊ VAI ESCORREGAR COMO UM QUIABO!

Foi a frase mais inspiradora que ouvi da obstetra, depois de ter enfiado a mão – acho que o braço também – dentro de mim. Parem as máquinas, quero descer! Eu pensei em desistir do parto normal na medida em que as contrações aumentavam e pareciam querer me matar. Eu pensei em desistir de ser mãe na medida em que a enfermeira pulava e fazia pressão sob minha barriga a cada contagem de contração e respiração. Quem disse que aquilo era parto normal DEFINITIVAMENTE estava louco.

Cadê a dilatação que estava aqui? AAAAAAAAA Respiração cachorrinho. Força mamãe! Força! Força! Cropt!

Senti um barulho de corte. Era eu abrindo alas pro meu filhote viver. Veio o choro. Alívio. A médica me mostrou a placenta. Minha pressão caiu. Acordei no quarto com todos à minha volta. SAIAM DAQUI! Não, não falei. Mas pensei o quão sem noção é não darem nem tempo da gente ter a ficha caída de que nos tornamos mães. DEIXEM AS MÃES EM PAZ! Dêem um tempo, por favor!

O bebê estava se preparando para vir ao quarto e ter sua primeira mamada. Lindo. Meu sonho. Aquele macaquinho azul e branco tinha ficado perfeito. Na medida em que a enfermeira se aproximava eu me emocionava e pensava que agora sim, daria de mamar. A melhor sensação da maternidade. Pronto. Tinha sido um parto difícil, mas agora tudo seria diferente. Aquela boquinha linda então de aproximou do bico do meu peito e NHAC! Gritei! Ele mastigava com uma vontade que parecia que o bico do peito era marshmallow.

Saímos pra casa e eu tinha o desafio de ensiná-lo a pegar o bico da forma certa, do contrário, perderia os mamilos. Eu amava ele, mas detestava as mordidas e as feridas que vinham com esse amor e a responsabilidade de dar de mamar.

Peito infeccionado. Bebê chorão e fominha. Casa cheia de palpites de avós e bisavós. Eu com o branco dos olhos vermelhos – o parto foi punk. E uma barriga molenga e estranha. Olhava pro espelho e chorava.

 

Onde eu estava? Não sabia. Eu era uma máquina de dar de mamar. Fugia para o banheiro para descansar um pouco enquanto o papai cuidava do bebê. Estava em pânico. Tudo era novo. Tudo era pesado. E parecia que a vida nunca mais seria a mesma. Não foi mesmo. Depois de alguns meses de feridas e cascas, o bebê aprendeu a mamar. Meu corpo começou a voltar ao normal. Eu aprendi a não me deixar em segundo plano. Dividia o tempo e tirava pelo menos uma hora pra correr. Eu amo correr e quando estava fazendo isso, esvaziava a mente. Retomava quem eu era e a mulher que estava me tornando. Não seria mais a mesma. Poderia ser melhor.

Pensava em como as pessoas palpitam em nossa vida. Em como os maridos não têm ideia do que a gente passa e de como eles demoravam realmente para serem pais. Afinal, a barriga é nossa, o parto, o banho, a mamada. Eles eram coadjuvantes e, no máximo, um colinho na madrugada. E isso era orgânico. Como fêmea, o meu papel era fundamental para minha cria crescer saudável.

Amava meu filhote. Era meu sonho de criança. Detestava as dores. Detestava os palpites alheios. Mas isso passou na medida em que fui entendendo a natureza, meu corpo e mandando enxeridos cuidarem de suas vidas! Cresci. Crescemos. Eu, o bebê e seu pai. Ser mãe passa por todas as dores possíveis e imagináveis. Dores no corpo e na alma. Mas também faz a gente despertar pra muitas coisas.

A gente muda mesmo, Juliana. Nunca mais seremos as mesmas, mas acredite: ser mãe não é só isso. Esta fase pesada do início da maternidade vai passar. Você deve estar com o medo que eu tive. Se sentindo sozinha com suas dores. Mas acredite, você não está sozinha e isso vai passar.  Você vai se redescobrir e se reconhecer no espelho e vai se orgulhar da mulher que se tornou. Vai aprender a ser a Juliana e a mãe. A ter seus planos independentemente do plano de ação entre mamadeiras e fraldas.

Hoje meu bebê tem DEZESSEIS ANOS e puxa, é meu melhor amigo. Aprendi muito com ele. Ensinei ele a não ser um idiota machista – ele aprendeu. A gente faz muita coisa juntos e se ajuda demais. Eu nunca deixei meus planos pra trás pra ser mãe. Estudei, viajei a trabalho – viajo. Nunca quis ser a mãe adorada salve, salve. Onipresente. Cresci com ele. Nunca me permiti ter culpa – apesar das pessoas julgarem por eu ter pouco tempo pra ser mãe dele. Eu precisava ser quem eu queria ser, além de mãe. E fiz isso sem remorsos. Hoje ele não é mais aquele bebê chorão e nem vomita mais em minha roupa. E sua independência me dá o maior orgulho.

Sabe aquele lance de síndrome do ninho vazio? Não vou ter, porque além de mãe eu sou a Viviane Duarte, uma mulher cheia de planos pra realizar. Eu não me deprimo por ver que meu filho quer viajar o mundo e estudar fora. Eu sinto orgulho e torço. Porque não criei ele pra mim, mas para a vida. E quero viver a minha também. Ensino isso para meu marido, que é um paizão apegado e aprendeu a ser assim no dia a dia e na minha ausência em casa, por conta de viagens e compromissos profissionais.

Ser mãe é dar vida. Ser mãe é aprender a superar dores e transformá-las em aprendizados. Mesmo que não tenha sido planejado, o Vicente está aí. Mesmo que nada tenha sido como você havia imaginado, você pode transformar esta história. O amor tá ai dentro de você. Você mesma falou isso. Deixe ele ser maior. Acredite que estes primeiros meses não definem o que é ser mãe. Eu seria uma idiota se quisesse definir pra você o que é ser mãe.

Cada mãe é uma e cada experiência é única e individual, mas acredite: é mais que este medo e esta insegurança que você está sentindo agora. Mande os enxeridos à merda. Uma mãe real, que não está preocupada em posar para a sociedade e dizer que sua vida é uma cena de filme de comédia romântica, sabe bem do que você está falando. Siga firme. Ame o Vicente, mas acima de tudo, se ame. Se ame muito. Mais do que tudo. Uma mulher empoderada é capaz de transformar qualquer dor em uma catapulta para ser mais e melhor pra si mesma e para as pessoas à sua volta.

Siga, Ju! Você não está sozinha. Estamos juntas!

13 thoughts on “Juliana, gravidez não é só isso. Acredite!

  1. Marcelo Idiarte says:

    Está tudo muito bonito. Só que até onde li a moça mencionada não disse em nenhum momento que não amava o filho, e sim que não estava gostando do papel de mãe. Ela não tem o direito de não ter sido picada pelo mosquito da maternidade? Tirando as velhas convenções do tempo das vovós, o fato é que esse negócio de “missão”, “vocação”, “inclinação”, “aspiração” para a maternidade mais parece a mão do machismo na garganta do que se apresenta como feminismo. Feminismo para mim é independência, é foco na vida pessoal, na formação, na carreira profissional, na liberdade para ir e vir de onde quiser – algo que certamente não combina com a maternidade. Nem acho que isso seja o entendimento que se passa pela cabeça da menina em questão, mas nem assim considero que ela não tenha o direito de ser sincera a ponto de dizer que está odiando o papel de mãe. Se ela dissesse que está odiando o filho seria outra questão. Mas não parece ser o caso. Mamães “felizes e realizadas” ficarem tentando fazer a menina gostar de uma situação que ela genuinamente foi capaz de dizer que não gosta, não tem nada de combate ao machismo ou de valorização da condição feminina. Na verdade parece bem mais próximo do inverso.

    • Anônimo says:

      Marcelo, tudo bem? No texto eu dividi minhas experiências e compartilhei minhas sensações. Não aponto o dedo para a Juliana e nem critico por ela não ter curtido a maternidade. Não tenho o direito de fazer isso. Somos mulheres que empoderam mulheres e me solidarizo com ela. E como mulher e mãe, tendo parido e sofrido nos primeiros meses da maternidade, divido com ela o que pode vir a acontecer. Estes primeiros meses são pesados para qualquer mulher – ninguém gosta de sofrer com a mama ferida e com olheiras por não dormir. Nós mulheres que já vivemos isso sabemos bem da dificuldade. Mas este período passa com os 12 meses do bebê e outras sensações e emoções tomam conta da gente. Não vendo a imagem de mãe -alienada – feliz. O texto deixa isso claro. Sobretudo, aqui não tem lugar pra nada que não seja empoderamento da mulher e liberdade dela querer ser o que quiser ser e estar aonde quiser estar. Existimos para isso!

  2. Marcelo Idiarte says:

    Eu não sei como você pode ter tanta convicção em afirmar que “este período passa com os 12 meses do bebê”, sendo que cada pessoa é um universo muito particular. Padronizar mulheres, achando que todas devem ou vão sentir as mesmas coisas, é um erro. Um erro que se estivesse sendo cometido por homens eu até entenderia, em termos, dado justamente a herança triste do machismo. A mim também diziam que o meu ateísmo “ia passar” com o tempo, mas só o que aconteceu foi um fortalecimento da minha percepção e a transformação disso em convicção absoluta. Acima de serem gêneros, pessoas são particularidades. Como dizer para alguém que as coisas vão ser assim ou assado na vida delas?

  3. Anônimo says:

    Marcelo, erro é dizer que sabe quais são as sensações que a mulher sente com a maternidade. Você já sentiu um filho sendo gerado no ventre, sabe o que é a dor do parto ou a dor de uma cirurgia como a cesárea? Sabe como são os primeiros meses com o bebê? Cólicas, choros sem fim, uma fase de adaptação para a mãe e para o bebê? Ser mulher, mãe, parceira, amiga, profissional, com um bebê que exige atenção 24 horas por dia? Ser mãe é maravilhoso, sou mãe, sei do que falo, mas tb não é a glória, não são só flores, é sim muito difícil. E, por isso mesmo, a Juliana deu essa sua opinião, porque ela está vivendo este momento difícil. E sim, isso passa! E sim, isso é uma fase! Por que sei que é assim? Porque sou mãe, porque tenho a minha mãe, amigas e tantas outras na família que dizem, viveram esta sensação e sabem que isso passa.

    O que a Viviane escreveu vai de encontro com as sensações da maioria das mulheres e foi uma maneira de empoderar Juliana, mostrando que não é fácil, mas vale a pena e isso passa! Você não é mãe, não sabe o que é isso, então obrigada pela sua opinião.

  4. Gabriela says:

    Marcelo, feminismo é sobre poder ESCOLHER. A mulher pode escolher se quer ser mãe ou não, simples assim. No caso da Juliana, ela escolheu ter o bebê, não está feliz no papel e vai ter que superar isso, ou viverá anos de infelicidade, de incompletude. Ela é mãe, quer queira ou não, e vai vivenciar isso à maneira dela. Ela precisa ser acolhida, saber que não está só, que é difícil mesmo, que não basta o bebê nascer que se acende uma luz da maternidade na cabeça e pronto.
    Já a Viviane viveu de outra maneira e compartilhou aqui. São experiências.
    Ah, e outra coisa. Vc diz que feminismo “é independência, é foco na vida pessoal, na formação, na carreira profissional, na liberdade para ir e vir de onde quiser – algo que certamente não combina com a maternidade” e isso sim é machismo. O pai não pode cuidar do filho pra que a mãe trabalhe, estude, se dedique à carreira? A mãe não pode trabalhar e ter uma babá, se quiser? Não invente regras pras mães, por favor. Dá pra ser mãe e ser um monte de outras coisas na vida, inclusive uma profissional muito bem sucedida.

    • Randi says:

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  5. Marcelo Idiarte says:

    Anônimo(a) 09/03/2016, 21h57: eu não falei que conhecia as sensações da maternidade (como poderia?). O que falei é que as mulheres não sentem todas da mesma forma a gravidez. E não reagem todas da mesma maneiraa ao exercício da maternidade. Seja em aspectos fisiológicos, seja em aspectos psicológicos. Isso a própria literatura médica referenda, então eu não preciso gestar e parir para saber. Eu acho que vocês estão confundindo a escolha pessoal em ser mãe (que é belo e até heróico, eu diria) com uma “vocação” aplicável a todas as mulheres.

  6. Marcelo Idiarte says:

    Gabriela, é justamente isso: a menina vai vivenciar isso à maneira DELA. Se você ler a sua sentença 10 vezes, vai entender o meu primeiro comentário. Sinceramente eu nunca tinha visto classificarem como machismo uma defesa de independência das mulheres. E da pior forma – colocando filhos como conditio sine qua non na vida das pessoas (nesse caso nem importa se é vida de mulheres e/ou homens). Aliás há um outro vício antigo no que você fala: a pressuposição de que as pessoas devem viver a dois, como casais. Casar e ter filhos… Achei que isso já estava meio démodé, mas pelo visto ainda está em alta.

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