Laura Florence é uma verdadeira apaixonada pelas palavras. Começou a carreira como redatora aos 17 anos e hoje lá se vão mais de 25 anos de experiência, sendo sete deles na liderança, trabalhando em agências off lines e digitais como DM9, Publicis, Ogilvy e R/GA.

“Ter passado por agências tão diversas fez um perfil híbrido raro no mercado. Posso desenvolver campanhas tradicionais para TV com a mesma desenvoltura que faço campanhas digitais. Tenho uma queda enorme pelo planejamento e já atuei como head de planejamento por um período na LOV.”

Feminista ativista, corredora, mãe de adolescente, escritora – ela é autora do livro Bagagem para Mães de Primeira Viagem – e palestrante, Laura, depois da vasta experiência de mercado, decidiu que queria mudar o cenário da mulher na criação.

Elas ainda são minoria e, para tentar diminuir essa diferença – afinal, são 20% de mulheres na criação contra um total de 80% de homens – Laura e Camila Moletta decidiram, então criar o More Grls, uma plataforma de mapa de talentos, para dar oportunidades para as criativas de publicidade, design e conteúdo, para que o mercado possa conhecer e valorizar o talento dessas mulheres.

“Amo treinar pessoas, criar novas tecnologias e metodologias, trabalhar em formatos inovadores e construir marcas com propósito. O MORE GRLS é, pra mim, mais do que um projeto.”

 

Quero mudar o mercado e deixá-lo mais justo e aberto para as próximas gerações de criativas.

 

Para Laura, estar em um ambiente criativo sempre fez parte dos seus planos, mas com o passar do tempo viu que a realidade na criação pode ser bem dura para as mulheres. “Quando era pequena brincava de fazer meus próprios comerciais e mostrava para o meu pai. Ainda amo fazer o que eu faço.

Mas não tenho o mesmo amor pelo ambiente de trabalho e como as mulheres são tratadas nele. Não nos sentimos pertencer. O tempo todo nos fazem lembrar que não somos bem-vindas, que não somos valorizadas.

Uma grande incoerência se pensar que 85% do poder de compra está nas mãos das mulheres. Não somos apenas em menor número, mas nossa opinião vale menos. A cultura das agências de publicidade é tradicionalmente e conhecidamente machista.

Por ser majoritariamente masculina, é esperado que mulheres atuem como homens e “aguentem o tranco”, que vai desde aguentar as piadas ao excesso de horas de trabalho.

 

A gente sabe que a maioria das mulheres passa por algum preconceito no trabalho simplesmente por ser mulher e com a Laura não foi diferente. Inclusive, ela diz que já perdeu as contas de quantas vezes passou por situações como essa e listou algumas que mais marcaram:

  • “Na maioria das agências onde trabalhei só me davam para criar os famosos “jobs de mulher”. Aqueles de fralda, absorventes e materiais de limpeza…para fazer outro tinha que terminar o meu e me infiltrar nos jobs dos colegas.
  • Já tive que ir embora de uma reunião porque o cliente não queria falar com uma mulher, mandou chamar meu chefe.
  • Na maioria das vezes, ganhei menos que meus duplas homens. Em relação às mulheres era mais ou menos igual.
  • Tive que voltar antes da licença maternidade porque o VP achava que seria mais fácil “garantir meu emprego”.
  • Perdi vagas porque “O nosso presidente se sente mais à vontade com uma parceria masculina”.
  • Já fui demitida para dar espaço pro “brother” do novo chefe.
  • Já fui questionada pelo RH quando trazia mais uma mulher para o meu time: ‘Mais uma, Lau?’ Detalhe, na época minha criação tinha mais homem.
  • Já fui apresentar uma campanha depois de 28 horas sem dormir e o meu chefe ainda comentou: ‘Você é mãe, está acostumada a não dormir’.
  • Raramente numa entrevista não me perguntam se eu sou casada, se tenho ou pretendo ter filhos. Quero ver perguntar isso para um homem.

Hoje são outros tempos e eu tenho muito mais maturidade para responder a ofensas e assédios. Mas, quando era mais jovem, engolia. Muitas vezes nem percebia que era tão ofensivo.

Éramos programadas para achar que era quase um privilégio estar ocupando uma cadeira na criação. Portanto, reclamar ou reivindicar não passava pela cabeça. Isso não significa que não tenha que me defender hoje. Mas como estou mais ciente do meu valor, consigo me colocar melhor e não aceitar o inaceitável.”

 

 

Foi justamente pensando em toda essa vivência na criação, do preconceito em relação às mulheres, a falta de oportunidades que elas têm como criativas em grandes agências, que a Laura e Camila Moletta, sua sócia no More Grls se uniram.

Em meados de 2017, Laura mostrou à Camila uma apresentação que fez para o Comitê de Diversidade do DAN (Dentsu Aeagis Network, grupo no qual as duas trabalhavam na época).

Essa apresentação mostrava não só a falta de representatividade feminina na criação, mas também os preconceitos relacionados a mulheres criativas: mulher prefere atendimento, não existem tantas mulheres talentosas quanto homens, mulher não tem bom humor (!).

“Como criativas que estão no mercado há muito tempo e que chegaram aos 2% da liderança criativa feminina com todas as dificuldades (e olha que somos privilegiadas dentro do cenário socioeconômico, pra muitas outras mulheres é mais difícil ainda), sentimos que estava na hora de fazermos alguma coisa. Algo prático, que fosse além do discurso, pra ajudar e dar espaço e voz pra mais mulheres.

Chegamos a conclusão que mapear os talentos é o primeiro passo para valorizar as criativas que, apesar de todas as dificuldades, estão no mercado. É preciso conseguir achar fácil e saber quem são essas 20% de sobreviventes.”

A plataforma nasceu para aumentar o número, o valor e a visibilidade das mulheres criativas. Este problema é grave porque ao longo do tempo, criaram-se uma série de estereótipos femininos na propaganda, um dos motivos é a falta de mulheres na criação.

A plataforma é uma vitrine de talentos, onde as criativas podem se cadastrar e os ‘buscadores’podem encontrá-las com facilidade não só para trabalho, mas também para divulgação na mídia e júris de premiações.

Outro público importantíssimo são os clientes, que precisam se familiarizar com a criação das suas agências e podem ser os verdadeiros aceleradores da mudança. Hoje, quem pode se cadastrar são mulheres nos principais cargos dentro da criação, envolvendo publicidade, design e produção de conteúdo.

“No futuro, queremos ampliar as áreas de atuação. Nosso objetivo é contribuir para a criação de mensagens mais inclusivas e empáticas, além de ajudar a mudar a cultura do overwork, a eliminar o preconceito sobre o talento feminino, ajudar as marcas a representarem corretamente as mulheres e a fortalecer a autoestima de tantas mulheres criativas que entram no mercado publicitário.”

Com o More Grls, Laura diz que sua maior conquista foi dar luz ao problema da falta de prestígio e participação das mulheres nas áreas criativas. “Há pouco tempo atrás, nem se falava nisso. Clientes estão começando a saber disso agora, já é uma grande vitória.

Temos mais 2.500 cadastradas na plataforma, 4.100 seguidores no Instagram, e mais de 3mil no Facebook, números bem expressivos se pensarmos no tamanho do mercado. Hoje, já somos a maior comunidade criativa do Brasil.”

É desse tipo de incentivo que as mulheres precisam pra se sentirem acolhidas, representadas. Por isso, uma plataforma como o More Grls é tão importante, para dar voz e oportunidades às mulheres. Laura e Camila, nesse sentido, se tornaram porta-vozes das criativas.

“Esse é o resultado indireto da maneira colaborativa como trabalhamos. Porque as pessoas acreditam no nosso propósito, elas não só falam com propriedade sobre o MORE GRLS, mas acabam usando a gente como referência.

A maioria das parcerias que surgiram, as ações e eventos que nos envolvemos, aparições na mídia, aconteceram de forma orgânica, pois nosso time, se é que podemos chamar assim, são todas as criativas.

Criou-se uma comunidade de criativas muito rapidamente, estamos percebendo que temos voz e que temos poder de mudar o que não funciona. Recebemos mensagens de criativas avisando quando foram entrevistadas via plataforma, quando foram contratadas. Isso não tem preço.”

 

 

Laura ainda tem Planos bem definidos para o More Grls: “Além de ativar as criativas fora do eixo Rio-São Paulo, temos planos de entrar na América Latina ainda este ano expandir para EUA e Reino Unido em 2019. E mais pra frente, incluir novas especialidades. Também estamos montando cotas de patrocínio, porque sem dinheiro nenhum projeto fica de pé!

Além da plataforma temos nossas redes sociais que têm o papel de aumentar o awareness da causa e educar o mercado sobre boas práticas e outras nem tanto. Recentemente estamos estruturando duas novas frentes: o headhunting para criativas na liderança e a consultoria organizacional para ajudar as agências a receber melhor e manter suas criativas motivadas e produtivas.

Falei disso tudo antes de mim porque paralelamente tenho que me preparar para poder representar todo essa avanço do MORE GRLS. Estou em busca de mais conhecimento, fazendo curso para ser uma palestrante melhor, coaching para ser uma lider melhor e vivências espirituais para estar inteira e poder enfrentar qualquer tipo de infortúnio, enquanto não conseguimos ainda mudar o mercado.”

Com esse poder todo, essa vontade de levar outras mulheres a conquistarem seus espaços, os Planos de Laura não poderiam ser outros além de colaborar para que cada vez mais mulheres ocupem cada vez mais os espaços que quiserem e claro, estar rodeada das pessoas que ama.

“Lugar de mulher é onde ela quiser, ponto. Eu só quero crescer, é obvio! Não porque é só bom pra mim, mas quero colaborar com o propósito do MORE GRLS e mostrar que uma mulher pode liderar uma criação e com muito talento. Quero trabalhar em agências maiores e chegar a C level, mudar a cultura do mercado e, enquanto isso, não perder momentos importantes com minha família e amigos.”

Para as mulheres que ainda estão indecisas sobre o que fazer, sobre como começar a ocupar esses espaços que tanto falamos, a Laura dá algumas dicas que são valiosas não só para a esfera profissional, mas pra vida: “Primeiro trabalhe sua autoestima. Você vai precisar demais dela.

Muita gente vai querer colocar você pra baixo. Quando se está ciente do seu valor é mais fácil enfrentar essas situações. Depois peça, aplique, se coloque na mesa. Ninguém vai te dar o cargo que você quer, sem que você se mostre interessada.

Achar que seu chefe vai presumir que você está pronta e te promover é uma ilusão enorme, por mais competente que seja, não deixe nada nas entrelinhas.

Ah, e deixe toda sua vitrine sempre em ordem: CV, perfil no MORE GRLS, LinkedIn, portfólio e minibio. Se você não tem alguma dessas coisas pare agora mesmo e vá fazer. Coloque toda sua energia nessas descrições.

Se você não souber se vender, não vai ser fácil. Saiba exatamente seus pontos fortes e fracos. Os fortes para contar para todo mundo e os fracos para procurar melhorar. Parece simples, mas isso muda tudo.”

O trabalho da Laura é extremamente necessário para que a gente tenha a oportunidade de ver cada vez mais mulheres na criação. Por isso, se você está em busca de uma oportunidade, conheça o More Grls e, se você já conquistou uma vaga com a ajuda da plataforma, conta aqui pra gente.

Ah, pra continuarmos contando histórias de mulheres poderosas como a Laura, compartilhe com a gente por e-mail uma mulher incrível que você conheça pra estar aqui no Ela tem um plano. Escreve para [email protected].

 

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