A Lina Maria Useche é colombiana, filha de missionários cristãos. Saíram da Colômbia para fazer missão na Argentina quando Lina tinha três anos e, em 1997, se mudaram para o Brasil, quando Lina era adolescente e ela diz que essa mudança foi uma das melhores coisas que já lhe aconteceram e se apaixonou pelo nosso país, onde foi muito bem recebida.

Cursou Administração na Universidade Federal do Paraná e logo entrou em um estágio na Empresa Júnior dentro da faculdade, que não possui fins lucrativos e cujo objetivo era dar consultoria pra pequenas e micro empresas. “Mais do que um trabalho, estar na Empresa Júnior me conectou com muita gente e com empresas do Brasil todo.

Em um desses encontros nos conectamos com uma empresa do Ceará, criada por ex-empresários que tinha montado uma empresa, em 2002 com o objetivo de ajudar as pessoas a empreenderem na região onde moravam. Esta empresa se chamava Comunidade Empreendedora de Sonhos, e como a ideia era muito boa, 7 jovens da Empresa Júnior quiseram trazer essa ideia pra Curitiba.”

No fim de 2004, quando saiu da Empresa Júnior, Lina, como a maioria dos jovens, se questionou o que faria da vida, como seria sua carreira depois de formada. Participou de alguns processos seletivos, mas não se identificava com as empresas, não achava que aquilo era pra ela.

Nesse meio tempo, a Empreendedores de Sonhos, que tinha acabado de ir pra Curitiba,  a chamou pra trabalhar e ela assumiu o cargo de Coordenadora Financeira. “O bichinho do setor social me picou e não largou mais. Começamos a atuar com jovens empreendedores da periferia de Curitba e lá aprendi que pra uma empresa ter sucesso é preciso conhecer o nosso público, nesse caso, entender o que esse jovem empreendedor precisava. Foi um momento de abrir mão do que eu achava que sabia e reconhecer que era muito mais o momento de aprender, de escutar.”

Para o primeiro projeto, montaram um espaço na periferia de Curitiba, firmaram uma parceria com a prefeitura, mas, na prática, perceberam que essas pessoas não precisavam de um espaço físico, mas de informação de verba pra tocar seu negócio. Perceberam, também, que o modelo de negócio precisava ser adaptado pra região e necessidades do local e, como a empresa não permitia que essas mudanças fossem feitas, o projeto não foi pra frente.

Foi aí, que 7 jovens com idades entre 19 e 21 anos, decidiram montar um negócio próprio, com a proposta de ajudar pequenos e microempreendedores e assim surgiu, em 2005, a Aliança Empreendedora. “O processo não foi fácil, mas já começamos com uma ideia diferente, pra apoiar o microempreendedor de baixa renda em todo o Brasil, no processo de autodesenvolvimento e também no desenvolvimento do seu negócio. Para isso, definimos três pilares como base para o desenvolvimento dessas pessoas: empoderamento, capacitação e conexão. 

Uma das nossas essências é ouvir o empreendedor e entender o que ele precisa. Atuamos  começando com o que ele tem de fato, os recursos disponíveis, olhando para o que são, o que sabem e o que conhecem e, a partir daí, o ajudamos a empreender. Aplicar essa teoria foi um divisor de águas para nós, porque é muito empoderadora, especialmente com os públicos de baixa renda, que têm poucos recursos. A ideia é mostrar que eles podem se descobrir, que podem muito mais do que imaginavam e isso acontece quando fortalecemos os três pilares.”

 

 

Hoje, a Aliança Empreendedora desenvolve projetos em parcerias com o setor privado e possui escritório em Curitiba, São Paulo e Recife. Além disso, existem projetos ativos em 10 estados do Brasil. São mais de 65 mil projetos na Aliança com metodologias de apoio online e atuação presencial nas comunidades, fazendo parecerias com escolas, igrejas e outros espaços da comunidade. Na plataforma online, chamada “Tamo Junto“, a pessoa pode fazer cursos, assistir vídeoaulas avulsas e se conectar com outros empreendedores.

Para ter atuação forte em outros estados, em 2009 iniciaram parcerias com ONGS, oferecendo treinamento de facilitadores, quando formou a 1ª turma de expansão. Hoje, são 107 organizações que replicam a metodologia da Aliança em todos os estados brasileiros e estão formando uma rede de consultores pra replicar o conhecimento.

Lina acredita que o empreendedorismo é a base da economia do nosso país, porque uma sociedade que empreende é rentável, gera emprego e faz o país crescer. O microempreendedor gera um impacto gigante no Brasil, representam 80% da geração líquida de empregos e 25% do PIB nacional.

Em relação às mulheres, Lina diz que a participação delas no mercado empreendedor é muito significativa. “Elas representam 50% do número de empreendedores e possuem uma visão de comunidade muito importante, diferente dos homens. Olham pro empreendimento e como pode ser benéfico para a comunidade, estão mais dispostas a trabalhar em grupo e em parceria. Elas têm mais facilidade pra fazer negócios juntas.

Grande parte são chefes de família e carregam muita responsabilidade de cuidar da casa e dos filhos, muitas vezes com pouco ou nenhum apoio, inclusive do companheiro e familiares. Tudo isso em um contexto de vulnerabilidade. Na Aliança, vimos mulheres que puderam mostrar para seus companheiros que podiam fazer mais. Saíram de um relacionamento abusivo por meio do seu negócio e também vimos histórias de mulheres que conseguiram mudar o jogo e os maridos passaram apoiá-las.”

“As mulheres empoderam outras, inspiram outras mulheres, os próprios filhos e geram uma mudança em cadeia, é um privilégio fazer parte dessas histórias.”

 

Como mulher empreendedora, Lina diz que já sentiu o preconceito muitas vezes, apenas pelo fato de ela ser mulher. “Ainda hoje acontece, menos que no começo, mas acontece. No início, por ser mulher e jovem, muita gente não acreditava em mim. Quando ia a uma reunião, ouvi muitas vezes ‘Nossa, você é tão fofa’, como se fosse criança. Quando ia sozinha, percebia olhares com falta de credibilidade e quando ia junto com o Rodrigo, que é um dos fundadores da Aliança era bem diferente. A mudança na forma de tratamento era nítida.

A diferença no olhar, se estava em reunião com ele e uma empresa com homens, o olhar era sempre pra ele e me ignoravam completamente. Foi um processo muito difícil, mas que também me fez crescer e me posicionar, mostrar que eu estava ali e que também tinha o poder de fala. Hoje a Aliança tem um nome conhecido no mercado, e isso acontece com meus frequência, mas acontece principalmente no setor público, Ministério, Governo de Estado. Há uma certa resistência porque é um universo muito masculino, faz diferença ir acompanhada de um homem, mas isso já não me incomoda mais.”

 

 

A questão de representatividade no mundo dos negócios é algo que Lina considera que faz muita diferença. Ela cita que nos negócios relacionados à inovação, as startups em Curitiba são de maioria masculina. “Os homens parece que se unem mais, como se estivem no seu clubezinho, se conectam muito mais, fazendo encontros, negócios em conjunto e se sentem muito à vontade ocupando este lugar.

Percebo que as mulheres não se sentem ainda tão à vontade e precisam bater nesse teto de vidro de uma maneira muito forte, avançando de uma forma mais desafiadora porque homens, naturalmente pelo machismo, têm mais espaço e mais voz. Iniciativas como fundos exclusivos para mulheres podem ajudar a mudar esse cenário.”

Precisamos ocupar esses espaços, colocar mulheres nas notícias, dar protagonismo a elas, porque com certeza elas podem tanto quanto os homens.

Lina ainda tem planos ambiciosos, todos relacionados à Aliança Empreendedora, que já um grande plano realizado, um sonho, como ela mesma diz. Ela quer ter oportunidade de ajudar o maior número de empreendedores possíveis. “Meu plano é que toda pessoa que quer empreender, possa encontrar na Aliança o apoio que ela precisa, especialmente o empreendedor de baixa renda, de comunidade, que está em situação de vulnerabilidade.”

Para as mulheres ocuparem os espaços que quiserem, Lina dá uma dica, que tem como base sua experiência pessoal e que ela diz que foi muito importante pra ela se tornar a profissional que é hoje. “O que fez muita diferença pra mim foi me conhecer. Na época da faculdade, participei de um treinamento que tinha como objetivo o autoconhecimento e foi bem transformador. Reconheci meus anseios, sonhos, e isso foi muito importante pra mim.

Saber quem era a Lina, o que ela queria de fato e o que poderia fazer com aquilo que tinha nas mãos. Percebi que poderia ir além do que achava que podia. Então, minha dica pra vocês é se conectem, busquem mulheres que te inspiram. É como construir uma casa, o autoconhecimento é a base, e depois você vai construindo as paredes aos poucos, até formar uma estrutura completa.”

Lina é uma mulher poderosa, cheia de planos e decidida, uma pessoa que sabe bem o que quer. É por isso que tem alcançado voos cada vez mais altos e ela mostra pra gente que é possível fazer acontecer. Então, agora é sua vez! vamos juntas construir um futuro de mulheres protagonistas de suas histórias!

Tem uma história inspiradora? Manda pra gente por e-mail [email protected] e vamos compartilhar muitas outras histórias incríveis!

 

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