Livia Doblas é uma mulher que sempre foi apaixonada por artes, mas não sabia como essa paixão poderia mudar sua vida.
Nascida em Campinas, prestou vestibular para Odontologia, porque não sabia que profissão seguir. Logo depois conheceu um rapaz, que tempos mais tarde se tornou seu marido, e era publicitário. Acompanhando sua rotina de trabalho, descobriu o curso de rádio e tv e resolveu seguir esse caminho.
Na faculdade, no trabalho de conclusão, faltou uma atriz da novela que havia criado e como se saiu muito bem na apresentação, recomendaram que ela fizesse artes cênicas. Fez então escola Wolf Maia, atuou em um filme chamado, Quarta B e fez também algumas propagandas, mas nunca levou isso como um ganha pão.
Depois que se separou, tirou um ano sabático procurando se encontrar como profissional. Uma certa vez, entrou em uma galeria de arte que sempre quis conhecer, mas achava que aquele não era o lugar dela, porque acreditava que era coisa de quem tinha dinheiro. “Uma certa vez eu entrei e perguntei o preço de uma obra, que custava 16 mil reais. Vi que realmente era muito caro, mas decidi me inscrever para receber convite de leilões para conhecer mais sobre esse mercado.”
Um dia depois de uma crise de pânico, em um momento em que estava bastante sensível, para se distrair, Lívia decidiu ir com um amigo a um leilão, para conhecer este universo. Quando viu o processo, o leiloeiro, os nomes do artistas e que ela não conhecia, se encantou. Tanto que acabou comprando uma obra.
No dia seguinte, foi buscar informações sobre a obra que havia comprado, sobre o artista e percebeu que isso poderia ser um bom caminho a seguir. “Na época eu nem pensava em me tornar marchand, mas queria ver como funcionava esse mercado.
2 meses depois, vendi minha primeira obra. Vi que era aquilo que queria. Fui apresentada para uma colecionadora, pra quem vendi muitas obras depois, e ela me incentivou a investir nessa área. Este foi o melhor apoio que poderia receber.”
Foi aí que nasceu a Livia marchand. Adorava o que fazia e conseguia vender muitas obras. As pessoas vinham, inclusive, perguntar a ela como conseguia ter sucesso em tão pouco tempo. Passou a trabalhar em exposições também como curadora, criou um site para divulgar seu trabalho e passou a ficar cada vez mais conhecida no mundo da arte.
Livia já fez diversas exposições em locais de luxo da região onde mora, Campinas, e passou a apresentar e vender suas artes também na região metropolitana de SP. Além disso, também realiza palestras sobre obras de arte, inclusive com a amiga Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da grande pintora Tarsila do Amaral.
Neste espaço de grandes obras, Livia diz que como pintores, é perceptível que existem mais homens do que mulheres conhecidos.
“Na arte moderna, por exemplo, Anita Malfalti e Tarsila foram mulheres que tiveram que enfrentar muitos problemas, muitos preconceitos, pra chegar onde chegaram.”
Como profissional, Livia diz que a maioria de seus clientes são homens. “Eles são mais enfáticos, decidem na hora. Das poucas mulheres que tenho como clientes, elas são mais ponderadas, pensam mais na questão da decoração e se a obra combina com seu espaço.”
Em relação aos vendedores de leilão, ela diz que geralmente são homens mais velhos, engravatados, que falam pausadamente, muito bem. Também é uma área em que se vê muito mais marchands homens.
Inclusive, ela diz que o preconceito acontece pelo fato de ela ser uma das poucas mulheres neste tipo de ambiente. Que as pessoas olham uma mulher, normalmente mais nova que a maioria, e ficavam sem entender o que ela faz querendo ocupar este espaço.
“Os homens assediam muito. Teve um em especial que, mesmo casado, me ligava perguntando por que eu o rejeitava. O pior é que eu já o vi tratando mal a esposa várias vezes com xingamentos, mandando ela calar a boca. Ele não dava a ela lugar de fala e o pior, as pessoas veem esse tipo de situação e não se manifestam. Apenas deixam acontecer. É muito triste.
Em outro caso, conheci um rapaz comprando obras e anotei seu telefone para futuros trabalhos. É comum irmos à casa das pessoas para conhecer suas obras e seu gosto pessoal antes de recomendar alguma arte. Certo dia, ele me convidou para ir até sua casa olhar suas obras e, chegando lá, tinha um banquete só para nós dois.
Por mais que eu tentasse, em momento nenhum ele queria falar sobre as artes, fiquei sem reação, mas consegui dar um jeito de sair dali. No outro dia, ele me mandou um e-mail com uma poesia, falando coisas como gostaria de tocar meus lábios e não podia…. enfim, nunca respondi.”
O plano de Livia é levar suas obras para serem comercializadas pelo mundo. “Amo o que faço. Digo que a arte me salvou muitas vezes em momentos difíceis da minha vida. Por isso, meu Plano é continuar fazendo o que amo, que é ser marchand, e levar minhas obras para quantos países eu puder, quero ganhar meu espaço também no mercado internacional.”
Para que cada vez mais mulheres ocupem seus espaços, Livia diz que é essencial buscar conhecimento sempre. “Procure algo com o qual você realmente se identifique e invista nisso. Às vezes você precisa passar por várias áreas até realmente se descobrir, mas no final, vale a pena.”
Você também tem um Plano? Conta pra gente no [email protected] e vamos juntar construir uma história de protagonismo, onde mulheres mostram que podem e estão ocupando todos os espaços que desejam.