Provavelmente 98% dos meus colegas de profissão não conhecem a Lei Ordinária 12.987 de 02 de junho de 2014, que dispõe sobre a criação do Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, a ser comemorado, anualmente, em 25 de julho. Com apenas dois artigos esta lei representa mais de 56% da população brasileira.
Entretanto, a criação dessa Lei surgiu depois de muita luta do Feminismo Negro aqui no Brasil, tendo como marco o ano de 1992, quando foi realizado o Primeiro Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas sendo definido o dia 25 de julho como o Dia da Mulher Afro-latino-americanas e Caribenha, ou seja, com 22 anos de atraso.
Segunda-feira, 25 de julho de 2016, Praça Roosevelt, Consolação, São Paulo/SP, a Marcha das Mulheres Negras de São Paulo ocupou às ruas do Centro da capital, num momento histórico marchando contra o racismo, machismo, o genocídio da população negra, a lesbofobia, o golpe e o em favor do bem viver de todos e pela visibilidade a maior parcela da população brasileira, com a presença marcante de centenas de mulheres negras e pessoas que lutam junto com essas mulheres, bem como coletivos formados por mulheres negras e organizações que lutam pela visibilidade dessa população.
Com o microfone aberto para saudações e depoimentos antes de dar início à caminhada, que foi até o Lago do Paissandu, representantes dos movimentos mostraram suas forças, luz e ancestralidade deixando mensagens fortes, importantes e emocionantes, enquanto outro grupo de mulheres colavam lambe-lambe de protesto pela praça com os dizeres: “Negras em marcha contra a redução da Maioridade Penal”, “As mulheres exigem: FORA TEMER”, “Nosso corpo não está para jogo”, entre outros.
Uma jovem, estudante do ensino médio, que resiste à opressão de sua escola emocionou a todos tirando seu turbante e deixando seu cabelo natural crespo e poderoso à mostra; a Consulesa da França no Brasil, Alexandra Loras, mulher negra que também resiste aos preconceitos diários, manifestou todo seu amor à luta das mulheres negras brasileiras lembrando a I Marcha das Mulheres Negras que aconteceu em Brasília em novembro de 2015 e falando da importância da união que deve existir entre as mulheres negras, por fim, essa primeira parte do evento foi fechada com a uma poesia, Afrô do poeta Emerson Alcalde, declamada pela Advogada Mayara Silva de Souza.
A caminhada era guiada por Babalorixás e sua Mãe, seguidas pelo coletivo Ilú Obá de Min e centenas de Mulheres Negras Empoderadas, entre elas Djamila Ribeiro, Mc Soffia, Lucia Makena, Kamilah Pimentel, Gabriela Valim, Eliane Dias, Alexandra Loras, Thayaneddy Alves, Luz Ribeiro, Ane Sarinara, Julia Drumund, Beatriz Oliveira, Zilá Pinto, Domenica Dias, Mayara Silva de Souza, Adriana Vasconcellos, Karine Amancio e muitas outras mulheres incríveis, cada uma com suas histórias de lutas e resistência, mas todas com a mesma dor, por isso juntas nesse dia tão importante, não só para a comunidade negra, mas para todo o mundo.
No Lago do Paissandu diversas falas importantes e fundamentais ecoaram pelo Centro de São Paulo, mostrando que as mulheres negras existem, resistem e estão em luta, entre elas as cantoras Yzalú e Tássia Reis e o bloco Ilú Obá de Min, foram algumas das atrações que fizeram a noite de ontem ser ainda mais especial.