Michele de Oliveira, tem 32 anos, 5 filhos (15, 11, 09, 07 e 02 anos), mora no extremo sul de São Paulo e o único plano é conseguir sustentar as crianças em dias difíceis que parecem não ter fim. Casada por 13 anos e separada recentemente, ela é responsável pela família e ganha a vida fazendo faxina – que diminuiu muito na crise. O ex-marido? Como muitos, se esqueceu que tinha compromisso com o sustento dos filhos mesmo depois da separação e covardemente, como acontece todos os dias, lavou as mãos. Ela assumiu as crianças.
Encontrei a Michele voltando do Ceasa com seu filho Augusto Alexandre, 11anos. Eles costumam ir toda semana na feira para conseguir as frutas e legumes que sobram por ali e abastecer a geladeira da família para a semana. Ela me pediu ajuda para completar a passagem do trem – dela e do filho. Queriam voltar para a casa depois de um dia todo de garimpo. Carrinho cheio e semblante cansado. Eu parei para ouvir sua história e conheci uma mulher guerreira, cheia de fé na vida e que a cada dia luta para incentivar os filhos a estudar e não desistir, mesmo tendo nascido sem nenhum tipo de privilégio.
“Eu luto todos os dias pela Bianca Adrieli, pelo Augusto Alexandre, pelo Gustavo Alexandre, pela Nicole Amanda e pela Sofia Gabrieli.”
Fé. Força. Coragem.
Filha de uma mãe dependente química e alcóolatra ela me contou que sua relação com a mãe é complicada: “Ela sempre esteve ausente e não consigo falar com ela, pois nunca está sóbria. Eu sei o que é ter uma mãe e não ter ao mesmo tempo e por isso faço de tudo para ser o alicerce de meus filhos e uma mãe presente, mesmo com todas as nossas dificuldades. O que me importa hoje é que estou conseguindo mantê-los longe das drogas e estudando. Eu sonho com um futuro melhor para os meus filhos e sei que eles terão. Se depender de minha batalha, vou fazer o meu melhor por eles. Meu plano é ver cada um deles formado e feliz na vida.”
Assim como a Michele existem inúmeras mães espalhadas por este Brasil, lutando pela sobrevivência de seus filhos, pela sua própria. E em meio a tantos obstáculos, insistem. Persistem. São mulheres guerreiras que acreditam e vão à luta. Mães presentes.
A Michele estudou até a 7ª. Série do ensino fundamental, tem limitações em seu vocabulário, mas ensina uma lição de vida inspiradora. Ela tinha tudo para reproduzir a história de sua mãe. Tinha tudo para desistir. Mas segue adiante a cada dia. Quando perguntei ao seu filho de 11 anos, Gustavo Alexandre, o que a Michele, sua mãe, significava para ele. Ele disse com brilho nos olhos e voz segura do que estava falando e sentindo:
“Minha mãe é tudo na minha vida. Ela está ao meu lado sempre. Tenho certeza de que sem ela eu não seria nada.”
Uma mãe presente. Um presente de mãe.
Sai da conversa suspirando e questionando muitas coisas. A ela ficou todo o compromisso de criar as crianças. A ela ficou o peso de dar certo. Mas a ela ficou também o amor, a gratidão de seus filhos e a razão por lutar por dias melhores. Muitas Micheles existem por aí e nossa homenagem neste dia das mães é a elas. Que sobrevivam à covardia de seus ex-maridos. Que conquistem. Que tenham uma história vencedora.