12647845_10207909298157787_491999914_n

Por: Chiara Martini
Director Strategy da DDB New York

Dizem que não se mexe em time que está ganhando. Dizem que depois dos 30 a gente tem que começar a aterrar. Dizem que quando nos tornamos adultos a gente não tem tanta margem para arriscar. Dizem que não é prudente, seguro, razoável. Dizem que chega uma hora na vida que você precisa pensar em ter uma familia, em ter estabilidade, em ter uma casa própria. Dizem que para a mulher ter filho depois dos 35 é arriscado, então ela deve começar a pensar nisso bem antes. Dizem que você precisa se preocupar com quem vai cuidar de você quando envelhecer.

Dizem. Dizem. Dizem.

Eu não sei dizer pra vocês quanta energia eu gastei pensando se estas eram as respostas para as minhas perguntas. E o quanto eu me questionei por não sentir que eram.

Até que um dia entrei em um acordo comigo mesma. Eu entendi que esses “dizeres” todos na verdade eram mais reflexo da inseguranca das pessoas em não ter controle do futuro do que expectativas em relação a mim, que se eu não cumprisse eu seria um exemplo de alguém que não deu tanto certo.

E isso foi libertador.

Eu não tenho medo do futuro porque hoje eu não tenho uma casa em meu nome. Ou porque eu não estou casada, ou planejando filhos, ou a caminho de virar CEO de alguma empresa.

O que não quer dizer que um dia filhos e casa própria não possam estar nos meus planos.

Acontece que eu sempre tive receio de ter âncoras. Sempre me incomodou a ideia de dependência, de pré-determinado, de regra. E viver esse questionamento de forma visceral é o que sempre me impulsionou a vida toda.

E foi isso que me motivou aos 32 anos fazer uma grande mudança na minha vida. Deixar para trás um ótimo emprego no qual eu estava bem e com grandes chances de desenvolvimento; tirar do meu dia a dia a segurança que eu tinha por ter por perto meus amigos e minha família; a facilidade de me virar na cidade que eu morava há mais de 14 anos e toda a segurança emocional que isso me trazia.

Eu escolhi estar em um lugar novo porque este era um desejo enorme dentro de mim. Eu nunca tinha morado fora do Brasil, nunca tinha feito intercâmbio, nunca tive coragem de largar meu emprego pra “ver no que dava” passar um tempo fora.

Assisti inúmeras pessoas em volta de mim terem a coragem de fazer isso com uma admiração enorme. Mas eu nunca tive. Me batia o medo de “agora talvez seja tarde pra largar tudo”.

Demorou mais do que eu queria, não veio do jeito que estava nos meus planos originais, mas apareceu uma oportunidade incrível  – uma proposta de emprego em uma agência em Nova York.

E você pode pensar: bom, mas pra ir pra Nova York até eu.

Pois é, foi exatamente isso que eu pensei. Mas talvez o que a gente só consiga entender quando efetivamente faz a mudança é que o impacto da escolha é forte, intenso e dá medo.

Eu saí de uma empresa que eu estava há cinco anos, feliz, conhecia as pessoas, conhecia o processo, tinha conquistado meu espaço, tinha voz, para ir para um novo ambiente de trabalho com uma cultura totalmente diferente, um time que eu desconheço, um chefe que eu vou ter que conquistar aos poucos, uma cultura que eu tenho que me adaptar.

E é viver tudo isso sem ter seus melhores amigos pra desabafar tomando um vinho no final do dia. É quando você entende o verdadeiro valor da presença física, do abraço, do olhar nos olhos de alguém que você já tem toda intimidade do mundo e não precisar dizer muita coisa.

É ter não só um novo CEP, mas reconstruir a sensação de se sentir em casa. É ter medo de ficar doente sozinha. É ter medo de perder alguém da familia e estar longe. É ter medo dos seus amigos tocarem a vida e de repente você não fazer mais parte dos momentos e das histórias.

Mesmo você tendo a certeza que a distância não muda o amor, a rotina muda algumas coisas.

Mas, ao mesmo tempo, você começa a perceber que esse medo é que vai te trazer novas histórias, novas referências, novas pessoas. Que vai me trazer o desenvolvimento que eu quero, a cabeça aberta que eu busco, a amplitude cultural que eu desejo.

Tudo na nossa vida é um processo. Eu escolhi um caminho que por hora é solitário e desconhecido, mas eu acredito que vai me levar longe. Muito longe.

Eu aprendi muito desde que cheguei, mas talvez a coisa de maior valor seja que a gente não precisar ter medo de sentir medo.

Eu nunca vivi com tantos medos simultâneos como estou vivendo hoje, e posso dizer com absoluta certeza: eu nunca vivi tão feliz.

chiara

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *