Quando soube que a Mattel lançou novas Barbies com 3 tipos de corpo diferentes, tons de pele variados, bocas e olhos de vários tipos, eu dei um sorriso. Um sorriso bem sincero mesmo. Que notícia mais linda, minha gente!
Estamos falando de uma empresa antiga, que tinha uma boneca que, apesar das controvérsias, era famosa desde a década de 50. Estamos falando da boneca mais icônica do mundo, que já teve muitos novos lançamentos, modelos, carros, casas, iates e mansões, e também o Ken. Tudo sempre muito perfeitinho, tudo sempre muito plástico, tudo sempre completamente fora da realidade da maioria das pessoas.
A notícia me fez sorrir porque é lindo quando uma empresa resolve não só repensar seu produto, ouvindo as pessoas, mas também reformula esse produto para que ele esteja mais adequado aos novos tempos. Esse lançamento da Mattel é incrível em diversos níveis.
Mas vamos falar, agora, apenas do fato de ser incrível porque em algum lugar do mundo, uma criança asiática vai conseguir brincar com uma boneca que se parece com ela. Uma criança negra vai olhar para uma boneca e se reconhecer, se identificar. O mesmo para uma criança pequena, uma mais curvilínea, outra mais alta. Essa inclusão toda é maravilhosa, é inédita, e, claro, causou reclamações.
Eu sou uma pessoa curiosa, e acho que é sempre bom expandir os horizontes e sair da bolha protetora. Uma das coisas que eu faço, bem às vezes, para sair da bolha e ver que o mundo tem de tudo é ler comentários de portais. Eu sei, a gente nunca deve ler os comentários, mas às vezes eu não resisto. Quase sempre eu me decepciono, mas também quase sempre eu me lembro que existem pessoas completamente sem noção, mas o mundo também tem muita gente bacana.
Eu sabia que a notícia da Barbie seria polêmica – apesar de achar que não há motivo para isso – e resolvi ler os comentários dos principais portais. Os comentários indignados diziam que uma boneca icônica jamais deveria mudar: a Barbie tinha que continuar alta, loira e magra. Outros diziam que era um absurdo mudarem a boneca para tantos tipos de corpos e tons de pele diferentes.
Curiosamente, todos que diziam isso eram brancos. E muitos eram loiros. Teve gente dizendo que hoje em dia tudo é preconceito e que lançar bonecas variadas é um baita preconceito – esse comentário foi divertido, pois não fez sentido nenhum, talvez esse comentarista tenha deixado o cérebro em casa, acontece.
Teve pessoa falando que tudo é racismo, ai que mundo chato, não pode mais nem dizer que negro é macaco. E choveram comentários falando de experiências pessoais como se as mesmas fossem grandes verdades universais: “eu brinquei de Barbie e sou morena, e não tenho nenhum problema, nunca quis ser como ela, então isso tudo é frescura”.
Só que para cada comentário mequetrefe, preconceituoso ou simplesmente imbecil, tinha alguém dizendo que a representatividade importa, sim. Dizendo que é incrível, sim que a Mattel se reposicione e lance bonecas mais próximas à realidade de mais pessoas. Eu li comentários extraordinários de mulheres dizendo que não se se viam nas próprias bonecas quando eram crianças, mas as crianças de hoje em dia conseguirão ter uma boneca que se parece com elas, com suas amigas, mães, tias, professoras. E aí meu coração ficou quentinho.
Eu gostaria muito que as pessoas parassem de tomar suas experiências pessoais como verdade absoluta para todas as coisas do mundo. O que não importou a você pode importar, sim, e muito, a outra pessoa. Autoimagem é algo sério demais para ser levado de maneira leviana, para ser encarado como frescura, como “hoje em dia tudo é preconceito”.
Sei que as pessoas todas não vão mudar, mas muitas estão mudando, e estão mudando o mundo. Vai ter representatividade, vai ter boneca representando muitos biotipos diferentes, vai ter boneca de cabelos lisos, cacheados, curtos, azuis. Vai ter boneca mais cheinha, mais magra, mais baixa. Vai ter tudo isso porque é isso que é o mundo: essa grande amálgama de diferenças.
Aos poucos, o mundo muda. As pessoas são mais incluídas. E a quem acha que a Barbie tem que continuar loira, eu peço que repense. Que reflita. Que tente ver como essa boneca pode fazer uma criança se enxergar de maneira mais natural e se aceitar mais. Mas, se for difícil pra você – e eu entendo, mudar dá trabalho, pensar também – eu deixo aqui a sugestão: não gostou da nova Barbie, não compre a nova Barbie. E apenas aceite que as coisas estão mudando para melhor, pelo menos às vezes.