Uma das maiores contradições da beleza é a de que ela parece sempre externa a nós, mas não é. A beleza aparece como sendo algo que nos chega através dos olhos e tudo aquilo que podemos fazer é desfrutá-la. Entretanto, aquilo que é belo tem muito de nós e diz muito sobre nós.
Aquilo que consideramos belo pode variar de uma sociedade para outra pois, apesar de certa objetividade no mundo que vemos, nossos olhos aprendem a olhar, e seus professores são a cultura.
E o que nossos olhos podem dizer sobre nós?
Para escrever este artigo terei que fazer três confissões: em primeiro lugar, que eu gosto de séries de TV, principalmente as mais antigas. A Warner está fazendo 20 anos e, com isso, reprisando algumas das séries que marcaram minha adolescência, entre elas, E.R.. Estou revendo a série, sempre que posso. E como falar de E.R. sem mencionar George Clooney? E eis minha segunda confissão, eu acho o cara um charme.
A terceira e última de hoje é a de que, entre meus diretores de cinema favoritos, encontram-se os irmãos Coen. Não tenho certeza, mas acho que já vi todos os seus filmes. Uma das mais deliciosas consequências dessa adoração é que o George sempre aparece e eu pude acompanhar o ator.
Ao rever a série E.R. nesses últimos tempos e depois de muitas análises e reflexos a respeito, cheguei à conclusão de que o seu George está bem mais bonito nos filmes dos Coen. O tempo parece ter aperfeiçoado o galã da minha adolescência. Isso me deixa muito feliz: ver homens amadurecendo e o tempo, ao marcar seus corpos, tornando-os mais atraentes.
Por que não é assim com as mulheres? Por que nos submetemos aos mais dolorosos procedimentos para apagar o tempo de nossos corpos?
Dos homens nós aprendemos a valorizar a inteligência, que se desenvolve com o tempo. Um homem mais velho costuma atrair mulheres que buscam em seus parceiros um ser humano capaz de compartilhar a vida, com todas as dores que dela fazem parte.
Das mulheres se espera a pureza e a ingenuidade, marcas típicas da juventude. A atração dos homens na nossa cultura é voltada para o corpo jovem, o que costuma produzir homens que querem a admiração feminina, muitas vezes, mais do que sua intelectualidade.
Não há como negar que estímulos para homens se atraírem pelos corpos jovens não faltam, basta ir até uma banca de jornal. Mas tem algo ainda mais complicado aí, a suposição de que o amor que uma mulher pode dar ao homem está em seu corpo.
Feliz do homem que entende que o amor de uma mulher vai muito além de seu corpo e que consegue perceber que as marcas de sua vida são também marcas de sabedoria.
Feliz dos homens e das mulheres que conseguem olhar o mundo além do míope machismo e que libertam seus corpos e os seus amores das imposições da cultura.