Esta semana ouvi esta pergunta inúmeras vezes: O que você vai dar para sua mãe? E daí percebi mais uma vez o motivo de o Dia das Mães ser a melhor data para o varejo. Pobre Anna Jarvis, a americana criou a data em 1908, em homenagem à sua mãe e tantas outras mulheres, que ajudaram os feridos na Guerra Civil e doaram todas as suas forças ao próximo.
Foram mães não só de seus filhos, mas dos filhos de outras mulheres e outras. Enfim, era para ser uma data onde se comemorasse o afeto, o amor. Mas ao contrário do que ela tanto queria – em sua talvez ingenuidade -algo especial se tornou no maior de seus pesadelos: ela havia criado um dia para que vendedores de flores e comerciantes de todo tipo faturassem. E faturassem alto.
Relatos dizem que ela lutou até os últimos dias de sua vida contra o Dia das Mães, quando percebeu que a data havia se tornado uma exaltação ao consumo. Ela terminou num asilo, bancada por floristas gratos por sua fantástica criação, o bendito dia. Que história, né? Pois é. O Dia das Mães. O dia em que a gente pensa em comprar. Pobre Anna. Pobre de nós.
A data Do Dia das Mães bate recorde há anos como a que mais se consome. E eu não tenho nada contra isso, não. Eu vivo de criações publicitárias, de comunicação. E eu amo presentes! Então você deve estar se perguntando: qual o problema, afinal? E eu te respondo: o amor ou a falta dele – em muitos dos casos.
Eu me tornei mãe aos 21 anos, já estou nesta função há 15 e tenho experiência de causa para dizer: se você quiser realmente emocionar sua mãe, faze-la se sentir especial, importante e amada, não vai conseguir fazer isso apenas com coisas. O amor não se coisifica. O amor se vive. Se sente.
E não dá para apertar o botão TE AMO MÃE, apenas no dia que escolheram para que você faça isso. E você sabe bem, né? Então para de pensar em coisificar sentimentos e faça mais que ir ao shopping correndo comprar uma coisa pra sua mãe. Que tal se dar para esta relação? Coisas não são importantes. Relações são. E isso é o que mais importa.
Tudo bem que se pararmos para observar, existem muitos tipos de mães e talvez esta não seja uma data TÃO especial para algumas pessoas. Talvez a sua mãe não tenha sido a melhor. Talvez ela tenha falhado. Isso pode ser dolorido, mas é humano. E se você não achar que deve se aproximar e tentar arrumar esta relação – se não for hora para vocês – tudo bem também. Tudo tem sua hora. E torço para que a de vocês chegue logo.
Eu conheço muitos filhos que não têm uma boa relação com suas mães e conheço mães de todo tipo.
Mães que não dão a mínima para seus filhos, que os deixam ser criados por avós e tios para continuar a vida na balada.
Mães que são superprotetoras e criam adultos babacas.
Mães carentes, maltratadas por seus filhos por serem simples demais para a vida de status que estes conquistaram – graças ao suor e dedicação destas mulheres.
Mães workaholics que mal têm tempo de ver seus filhos e os deixam ser criados pelas babás.
Mães que largaram tudo para cuidar dos filhos.
Mães que fugiram e deixaram os filhos com os pais.
Mães que sabem fazer bolo de fubá cremoso e outras delícias.
Mães que não sabem cozinhar.
E se olhássemos para cada uma destas mulheres – bem de perto – veríamos que elas tiveram histórias, experiências e expectativas diferentes diante da vida e que em um dado momento, durante a gestação, pararam para pensar em quem se tornariam depois de ter o seu bebê. Em como seria sua vida e o amor a partir dali. E se emocionaram. Ficaram com dúvidas. Sentiram medo. Eu mesma pensei muito nisso tudo. Tinha medo. Medo deste amor que todo mundo fala que é perfeito. Medo de como seria minha relação com meu filho. E de como tudo seria. Relações. Amor. Medos.
Algumas mulheres, diante de tantos conflitos internos não sabem lidar com a maternidade, se perdem no meio do caminho. Não seguram a onda. Uma pena, pelo menos no meu ponto de vista, que vi e senti minha transformação como ser humano depois de ser mãe. Relações. Laços. Amor. Até aqui nada de coisas. Nada se coisifica. Percebe? E cada um tem uma forma de amar, de se relacionar de viver para o outro.
E onde entram os presentes no meio de tudo isso? Os presentes são apenas uma forma de personificar um amor, uma relação que já existe. Que é real. Do contrário, será apenas mais uma coisa para acumular. Sem sentimento, sem razão de ser. Eu me emociono sempre que meu filho vem e me dá um abraço inesperado. Que gargalha de algo que eu digo. Que admira meu trabalho.
E sei que a minha mãe também sente o mesmo quando estamos juntas. Assim, a cada pequeno gesto, a gente estreita mais nossa relação, nosso amor. E isso é coisa do dia-a-dia. Não dá pra comprar por aí. Então, não se pergunte apenas um, mais todos os dias da sua vida, sobre o que você vai dar para alguém que você ama.
Dê flores, dê bolsas, dê sapatos, dê joias, mas sobretudo, dê o seu melhor, dê amor. Mais que presentes, esteja presente. Faça a data ter o valor pela qual foi criada. As mães e Anna Jarvis agradecem.