A cientista brasileira Celina Turchi, especialista em doenças infecciosas, é também uma das pessoas mais influentes do mundo. Responsável por descobrir a relação entre a microcefalia e o vírus da zika, a médica entrou na lista das 100 personalidades mais influentes do mundo publicada pela revista norte-americana Time, em abril deste ano.

 

Além de um justo reconhecimento a uma profissional que fez uma descoberta tão importante para a humanidade, a notícia também carrega um valor especial em um país de tantas desigualdades, principalmente, por representar um modelo para outras mulheres brasileiras, uma figura feminina para inspirar nas ciências.

 

Na Ciência e Tecnologia a participação feminina tem aumentado de forma global nos últimos anos, no entanto, muitas áreas do conhecimento ainda são sub-representadas e poucas mulheres chegam a postos de prestígio, e isso vale até mesmo para carreiras consideradas femininas.

 

A falta de representatividade pode até não ser novidade, afinal, a desigualdade de gênero ainda é uma realidade no Brasil. Mesmo levando em consideração nível de ensino, idade, experiência, sindicalização, horas trabalhadas, geografia e características da indústria onde as pessoas trabalham, os homens ainda ganham mais que as mulheres.

 

O avanço na redução de desigualdades exige conscientização, mais modelos de liderança feminina e políticas afirmativas como apoio. Tão importante quanto isso, precisamos começar a refletir o quanto antes porque não vemos a cooperação feminina tão ativa para fomentar o surgimento de mais histórias de mulheres em posições estratégicas no mercado de trabalho, nas mais diversas áreas.

 

Reflexo essencialmente de uma cultura ancorada no passado, e muitas vezes considerado tabu o assunto, é possível comparar a falta de cooperação no mercado de trabalho entre as mulheres, com a lógica de soma zero, da Teoria dos Jogos, em que se pressupõe que quando alguém está ganhando a outra parte está perdendo. Quando na verdade, a cooperação entre as mulheres, e consequente formação de redes, é que traz ganhos para todos.

 

 

O físico chileno Cesar Hidalgo, do MIT, autor do livro “Why Information Grows”, disse certa vez em uma entrevista, em 2015, algo que aplico a esta questão aqui, para levarmos em consideração. Ele afirma que o melhor gestor da inclusão social não é o Estado, que é uma parte importante, mas também depende da forma como as pessoas e as empresas se integram no que chama de redes complexas.

 

Os países onde a desigualdade é mais baixa são justamente onde os fatores econômicos, educacionais e tecnológicos se entrelaçam em relações de interdependência e de subordinação e põem em funcionamento um círculo virtuoso altamente inclusivo. A educação de qualidade, o estímulo e as oportunidades se combinam para o surgimento de numerosos grupos de exce­lência e não de mentes individuais geniais.

 

Quando todos cooperam, todos ganham. Alimentar uma mentalidade que prioriza a cooperação mútua e a construção de alianças é essencial e isso precisa começar pelas próprias mulheres. Precisamos falar sobre sororidade, que se baseia na empatia e companheirismo em busca de alcançar objetivos em comum, e colocá-los na prática ao avaliarmos e prestigiarmos o trabalho de outras mulheres.  Somente assim, o sucesso poderá contagiar, não apenas as mulheres da nossa geração, como as das próximas gerações também.

 

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