O câncer de mama é um dos mais comuns entre os casos de câncer registrados. Afinal, eles representam 28% de todos os novos casos a cada ano, de acordo com informações do INCA (Instituto Nacional do Câncer).
Considerado raro antes dos 35 anos, a incidência aumenta com o passar do tempo, principalmente depois dos 50 anos, por isso, realizar os exames periodicamente é de extrema importância para identificar rapidamente a doença e tratá-la com o menor número de invasões possíveis.
Durante o mês de outubro, contamos histórias de mulheres que tiveram câncer de mama e passaram pelos momentos difíceis que vão além da questão física, mas emocionais também. E é justamente do lado emocional que queremos falar.
Queremos mostrar o quanto é importante cuidar da mente e o quanto o câncer de mama pode aflorar as emoções de uma mulher em tratamento, assim como toda a família. Por isso, convidamos a psicóloga Ellen Moraes Senra para compartilhar com a gente a melhor forma de lidar com as emoções durante o tratamento de câncer de mama.
A psicóloga começa dizendo sobre os principais sentimentos que aparecem com o diagnóstico de câncer: “Insegurança, ansiedade e depressão. Principalmente o medo. Qualquer pessoa q recebe diagnóstico de câncer, sempre pensa que vai morrer. É natural que a pessoa tenha esse pensamento, ela já começa um processo de sofrimento logo após o diagnóstico, depois precisa contar pra família e depois ela vive um processo de luto porque a pessoa sabe que sua vida muda a partir dali.
As pessoas normalmente não gostam de compartilhar esse tipo de informação. Falar sobre o câncer parece que torna a coisa mais real e grave do que a gente gostaria de admitir. Nem todo mundo se sente preparado pra se abrir e tudo bem. Cada um tem seu tempo, seu espaço e sua forma de sentir.”
É unânime entre os psicólogos que todo paciente com câncer faça um tratamento com o psicólogo, assim como a família e Ellen explica o porquê: “É difícil conviver com os efeitos, com a mudança de humor. O tratamento mexe com a cognição do paciente, o humor também varia bastante, tem dias em que a pessoa está mais otimista e em outros não acredita em nada. Para a família também é algo novo, é difícil saber como lidar com todas essas situações e o psicólogo, sem dúvidas, irá ajudar a lidar com todo esse turbilhão de sentimentos.
Além disso, é importante a pessoa ter acesso a grupos de apoio com mulheres que já passaram pelo tratamento. O processo depressivo tende a piorar o quadro do câncer. Ele acaba com o emocional do paciente e da família e se você não tem apoio psicológico, simplesmente desiste. O otimismo e a força de vontade é determinante para o bem- estar do paciente com o câncer.”
A psicóloga diz ainda que é normal as pessoas que descobrem o câncer de mama sentirem uma espécie de bloqueio em relação à doença, como se ela não estivesse vivendo esse tipo de situação. “Faz parte do processo de luto, é parte da negação do luto pelo fato de a pessoa saber que é uma doença grave e o processo de tratamento ser difícil.”
Mesmo depois do tratamento, muitos pacientes sentem medo de o câncer voltar. Parece que o cérebro fica ligado o tempo todo em qualquer dor ou sintoma diferente que a pessoa sinta, como se aquilo fosse sinal de algo maior. Mas é essencial trabalhar esta questão do medo durante o tratamento com o psicólogo, porque há alguns mecanismos para sair desse tipo de situação.
“É importante trabalhar o processo de psicoeducação. O medo não é infundado, é preciso trabalhar a compreensão desse medo e fazer com que a pessoa entenda que quanto mais viver esse medo, realmente é maior a chance de o câncer voltar, por conta do emocional. É possível controlar esse medo de forma que ele não o controle. É um processo longo, mas que tem resultados muito positivos.
A gente questiona o medo, que é impossível não sentir, para se proteger e servir de alerta. A tristeza, o medo e a raiva têm funções de alerta. Se você tem medo que o câncer volte, deve seguir à risca o tratamento e a prevenção para evitar que isso aconteça.”
A família possui uma função de extrema importância junto ao paciente que está com câncer de mama. A psicóloga Ellen deu algumas dicas valiosas de como as pessoas próximas podem auxiliar nesse processo. “Valide a emoção da pessoa. O medo pode se mascarar de diversas formas, ela pode disfarçar e ser positiva ou ela pode se colocar como coitada.
É importante acolher, dizer para a pessoa ‘não sei o que você está passando, mas entendo que você se sinta assim’. Buscar um grupo de apoio, com pessoas que já passaram pela doença pode ajudar muito também. A família auxiliar procurando esse grupo junto com o paciente, mostrando que tem outras pessoas que vivenciaram e viveram o mesmo que ela e assim, servir de suporte para enfrentar as dificuldades com um pouco mais de calma.
Os grupos de apoio presenciais costumam ter reuniões semanais. Se o paciente se recusar, existem grupos online no Facebook e Instagram, por exemplo, onde a pessoa pode ler os relatos de outros pacientes e ver que isso não está acontecendo só com ela. É uma forma de incentivar a ver o lado positivo da situação, por isso participar de um grupo presencial é o ideal para quem está em tratamento.”
Para terminar, Ellen deixa algumas mensagens positivas para as pessoas que estão em tratamento contra o câncer de mama: “Se há tratamento, há cura. Enquanto há tratamento, há esperança. Diga à pessoa: ‘estou aqui com você e para você, você não está sozinho, vamos juntos nessa agora'”.
Tanto paciente como a família deve procurar um acompanhamento com um psicólogo, para saber lidar com todas as situações que fazem parte do processo de tratamento. Oferecer apoio, estar presente e incentivar a pessoa a fazer coisas novas, coisas que lhe deem prazer são essenciais para a evolução do tratamento e do processo de cura. É uma fase difícil, mas ela passa.