Um evento forte, repleto de falas lúcidas e dados assustadores. Segundo a recém-lançada pesquisa do Instituo Avon sobre violência contra a mulher no ambiente universitário, 67% das alunas sofreram algum tipo de violência (sexual, psicológica, moral ou física), 56% das alunas sofreram algum tipo de assédio sexual, 20% das alunas ouviram comentários indesejados de natureza sexo de professores, 42% já sentiram medo de sofrer violência no ambiente universitário e 63% admitem não ter reagido quando sofreram a violência.
O ambiente universitário, que deveria ser apenas de interação e educação, também é um espaço de medo da mulher. Locais e acessos mal iluminados, falta de segurança, exposição a comportamentos machistas e violência de gênero são fatores determinantes para essa situação. A violência pode vir de criminosos externos, mas não só deles. Colegas, professores, parceiros do cotidiano, podem ser protagonistas de violências que vão de desqualificação intelectual ao estupro. Essa percepção, muitas vezes, já gera intimidação.
Ainda segundo a pesquisa, 78% das meninas concordam que o tema violência contra a mulher deveria ser incluído nas aulas e 95% acreditam que a faculdade deveria criar meios de punir os responsáveis por cometer violência contra as mulheres nas instituições.
Dados que mostram a urgência da criação de espaços para falarmos sobre a violência que as jovens enfrentam e denunciam a falta de ambientes dentro das universidades de acolhimento para essas garotas que, em sua maioria, não falam dos abusos sofridos por medo da exposição e negligência que as universidades tratam os casos de violência sofridos por suas alunas.
Nos espaços destinados a aprendizagem não só intelectual mas também da cultura, que podemos ou não podemos reproduzir, os comportamentos devemos exercer no mundo fora daquele espaço, é dito de forma direta e simbólica que não fazemos nada a respeito da violência compulsória que atinge as mulheres, então, há algo de muito errado na forma como lidamos com os jovens.
E os homens nisso? Afinal, são eles os agressores.
Jackson Katz, um dos mais conhecidos homens ativistas na prevenção da violência de gênero, ficou conhecido globalmente depois da sua palestra para o TED Violence against women – it´s a men´s issue, esteve no Fórum defendendo a inserção dos homens nas discussões sobre violência de gênero, e um caminho de “desaprender” o que é masculinidade hoje em dia, ainda muito pautada por uma postura dominadora e violenta incentivada e reforçada pela mídia.
A pesquisa aponta que 2% dos garotos admitem espontaneamente ter cometido algum ato de violência contra uma mulher na universidade ou festas acadêmicas, mas 38% reconhecem ter cometido as violências apresentadas na lista.
É muito evidente que incentivar os homens e garotos a não serem violentos é o caminho mais eficaz para erradicar a violência contra as mulheres, mas nós não estamos focando nisso. Mesmo quando relatamos as denúncias dos casos de violência, eles nunca trazem a responsabilidade para o agressor. Um exemplo do Katz que ilustra bem isso: dizemos “Catarina foi assediada na escola” em vez “João assediou Catarina” ou “Uma a cada três mulheres já sofreram abuso sexual” em vez de “ Um a cada três homens já abusaram de alguma mulher”.
É uma mudança sutil, mas que simbolicamente insere e responsabiliza o homem pela a agressão. Existe um caminho, não só de reeducação dos homens e meninos mas também de inseri-los na contextualização os estudos e discussões que estamos tendo quando o assunto é violência contra as mulheres.
Nós, mulheres, estamos nos mobilizando, começamos a falar sobre o que sofremos, abrimos espaços de diálogo sobre o tema nos ambientes que circulamos, mapeando os espaços urbanos potencialmente violentos para nós, dialogando com os nossos parceiros mais íntimos, fortalecendo umas as outras para termos coragem e denunciarmos esses casos, mas a responsabilidade por não sermos violentadas não pode ser nossa.
Existe uma cultura da violência contra as mulheres sendo legitimada, através da mídia, das escolas, dos pais, e é urgente que exista uma frente de liderança que se posicione contra essa cultura nos espaços que a perpetuam.
E se marcas e grandes instituições se posicionarem?
Há dois caminhos para as marcas e instituições: liderarem um movimento que beneficia o mundo inteiro e ganharem relevância ou evitarem falar sobre isso para não gerar polêmica e serem esquecidas, pouco a pouco. É preciso muita coragem para liderar um movimento que rompe com uma cultura naturalizada , usar seu megafone e dizer NÓS APOIAMOS ISSO.
Talvez por isso tenha me surpreendido com o movimento protagonizado pelo Instituto Avon contra a violência doméstica. A campanha Fale Sem Medo vem apoiando projetos focados no combate, educação e conscientização sobre a violência contra as mulheres e fomenta a discussão sobre o tema no Brasil e em mais 50 países. Uma empresa global liderando ações com foco em causas que interessam diretamente seu público: as mulheres. Faz todo sentido!
Chegamos no tempo em que nós queremos e buscamos o posicionamento de marcas, grandes instituições e figuras públicas a respeito de temas latentes e que vivenciamos no nosso cotidiano. O Fórum Fale Sem Medo é um lindo exemplo de como podemos – com o poder da marca – liderar movimentos que transformem a sociedade e tragam reais mudanças na vida das pessoas. E é pra isso que estamos aqui, não é mesmo?