Segundo o Instituto Ethos, o Brasil só vai atingir a equidade entre gêneros daqui a 80 anos. O número foi obtido por meio da comparação dos resultados do “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas”, estudo que o Ethos produz desde 2003, em parceria com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). “Nosso estudo apresenta uma fotografia da participação das mulheres no mundo corporativo, bem como um mapeamento de ações voltadas para a inclusão social nas companhias, ao analisarmos a evolução dos últimos anos, conseguimos diagnosticar que se o ritmo continuar como está a desigualdade entre gêneros tende a permanecer por mais quase um século”, explica Sheila Santana de Carvalho, coordenadora de práticas empresariais e políticas públicas do Instituto Ethos.

O Brasil continua apresentando desigualdades sociais de caráter estrutural, que se refletem no mundo do trabalho. Para o Instituto Ethos, é urgente garantir o desenvolvimento econômico aliado ao desenvolvimento social. “A promoção da equidade através de políticas de inclusão e projeção é um passo fundamental nesse sentido”, diz Carvalho.

Para além da equiparação salarial, considerando que hoje as mulheres recebem cerca de 30% menos do que homens para o desempenho dos mesmos cargos e funções, conforme a hierarquia institucional sobe menor é a representatividade das mulheres.

A mulher no mercado de trabalho

A última edição do estudo apontou que a ocupação feminina em cargos de gerência no Brasil saltou de 22,1% em 2010 para 31,3% em 2015, o que significa uma elevação de quase 2 pontos percentuais por ano. Apesar do salto, a pesquisa revela que a presença feminina nas empresas sofre um afunilamento na medida em que a hierarquia sobe e atinge postos mais estratégicos – apenas 11% das cadeiras dos conselhos administrativos, por exemplo, são hoje ocupadas por executivas.

 

 

Sob a perspectiva de raça, o estudo mostra uma exclusão ainda maior das mulheres negras dos cargos executivos estratégicos e de gerência. As mulheres negras são apenas 1,6% da gerência e 0,4% do quadro executivo. Para se ter uma ideia desse recuo, a  pesquisa encontrou apenas duas mulheres negras (pretas e pardas) entre 548 executivos analisados.

Quando questionados sobre a causa da restrita participação feminina em ao menos um dos níveis hierárquicos estratégicos das empresas, 36,9% dos gestores disseram faltar conhecimento ou experiência de sua empresa para lidar com o assunto. Outros 34,2% disseram “não haver interesse das mulheres”.

“O interesse feminino pela qualificação e por galgar postos no campo profissional pode, no entanto, ser percebido quando olhamos os dados da pesquisa sobre capacitação. Segundo o estudo, o nível de instrução das mulheres é superior ao dos homens – 7,5 anos de estudo contra 7 deles, na média”, salienta Carvalho.

Segundo ela, a ausência de políticas afirmativas para a igualdade de gêneros é um dos fatores que acaba limitando o espaço feminino nas empresas.  Atualmente, apenas 28,2% das empresas afirmam ter alguma política para promoção de igualdade de oportunidade entre homens e mulheres no quadro de funcionários. Outro ponto levantado pela pesquisa é a dificuldade de as empresas formularem mecanismos de monitoramento e avaliação do impacto que a diversidade pode trazer aos negócios.  “Incentivar a diversidade de gênero e raça, porém, é uma estratégia eficaz para a conquista de um diferencial competitivo no mercado. Atualmente as empresas tem entendido o potencial do fomento à pluralidade e representatividade em seus espaços corporativos. É importante que a sociedade brasileira seja refletida dentro desses espaços. Desenvolver um olhar local, voltado às necessidades da nossa população e isso traz diálogo e inovação”, diz Carvalho.

 

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