Priscila Ferrari é uma paulistana nata. Uma mulher de muitos sorrisos, muita simpatia e com um talento enoooorme. Ela tem 29 anos e trabalhou bastante tempo com publicidade, mas hoje se dedica aos papéis de autora e ilustradora, com dois livros já publicados, o Coisa de Menina e Coisa de Menino, que tem o objetivo de mostrar que toda criança pode ser e brincar com o que quiser, sem se preocupar com estereótipos. Coisa linda de ver!

A Pri, como gosta de ser chamada, contou pra gente como vê a participação das mulheres na sua área e ela diz que há muitas mulheres atuando como ilustradoras ou escritoras, mas que isso pode melhorar, sim, para que mulheres ocupem todos os espaços que quiserem: “Acredito que temos que cada vez mais quebrar a ideia de que mulheres estão aqui para serem bonitas, assim conseguimos focar em outras habilidades e assuntos.”

 

Como mulher, ela diz que já sofreu preconceitos no trabalho, sim, e que isso é bem comum por conta do machismo, que está em todo lugar, inclusive na arte e, por isso, as mulheres sofrem ainda muitas consequências por terem que se provar muito mais que é capaz.

 O que eu mais vejo é mulher tendo que se provar merecedora do espaço. Enquanto caras que estão começando são desvalorizados por serem amadores, mulheres que estão começando são desvalorizadas por serem mulheres. No mercado editorial também vemos muitas mulheres tendo sua escrita infantilizada, menosprezada ou nichada. Aquela ideia errada de que se uma mulher escreve um livro, o target é apenas outras mulheres.

Em 2017, Pri ficou bastante conhecida após o boicote à campanha de carnaval da Skol, cuja mensagem era “Deixe o não em casa”, e dava brecha para que situações de assédio e estupro acontecessem, já que os números desses crimes sempre aumentam bastante nessa época do ano. Ela e uma amiga postaram uma foto ao lado em um dos banners, mostrando que as mulheres não são obrigadas a aceitar nada que não quiserem. Priscila ainda diz como essa atitude foi importante pra ela.

“Realmente isso me marcou bastante. De um lado acho que foi ótimo mostrar que as mulheres não vão mais suportar campanhas machistas, mas individualmente falando foi muito desgastante. Recebi muita ameaça de gente contra e muita cobrança de gente “a favor”. Na época eu fiquei bastante confusa e demorou pra eu perceber que eu não quero ser uma personalidade famosa nessa conversa. Acredito que precisamos de menos indivíduos e mais trabalhos em conjunto. E sobre marcas no geral, no final das contas o mercado já se adaptou e arrumou outra forma de se alimentar da frustração dos outros.”

 

 

Trabalhando como ilustradora, Pri diz que há empresas que são incríveis e sabem ouvir as opiniões de uma mulher, como a Companhia das Letras, editora pela qual lançou seus livros e que, de acordo com ela, é uma empresa bastante consciente, onde se sente verdadeiramente respeitada. Mas, nem sempre isso acontece e ela diz ainda que teve que se impor com alguns clientes que, por vezes, duvidaram da sua capacidade profissional por ser mulher: “Da mesma forma que eu tenho minhas ondas de insegurança interna, eu sei me posicionar. Acho que isso é muito importante, temos que dar ferramentas pra meninas e mulheres se posicionarem com força, confiança e integridade.”

Sobre os livros, Coisa de Menina e Coisa de Menino, Pri Ferrari fala com um imenso orgulho nos olhos, como surgiu a ideia e como podemos incentivas as crianças a realizarem seus planos desde cedo: “Faz bastante tempo que eu tive a ideia, foram uns belos 2 anos até eu ter coragem, o emocional e a logística de por a mão na massa. Acredito total que precisamos de livros e materiais de incentivo que facilitam a educação das crianças. Precisamos rodear cada vez mais crianças com exemplos de protagonistas mulheres, protagonistas negros. Referência é muito importante para criarmos laço, afeição e respeito.”

 

 

 

Sobre o movimento feminista que tem ganhado cada vez mais força nos últimos anos, ela diz que enxerga grandes mudanças acontecendo, justamente por estarmos ganhando cada vez mais voz para nos posicionar, mas que ainda há muita coisa que as mulheres precisam entender como empoderamento feminino: “Uma parte de mim vê mudanças incríveis acontecendo, mas uma parte minha acha que muita gente comprou o “girl power” como ponto final da história. Vejo muita autoestima sendo construída a partir da aparência, vejo muito menina magra falando sobre “aceitação do próprio corpo”. Lógico que cada um tem seu processo, mas a gente precisa entender a diferença entre padrão estético e preconceito. Quando uma menina realmente incomoda a sociedade e as imposições, as respostas sempre são mais violentas e não vêm acompanhadas de marca pagando parceria.”

Entre os planos que a Pri quer continuar realizando está o foco em seu trabalho, com o desejo de contar histórias que ela quer que sejam ouvidas pelas pessoas. Além disso, tem como plano também apoiar mulheres e homens que criam projetos positivos e que tragam um impacto importante pra nossa sociedade.

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