Hoje o Programa Encontro com Fátima Bernardes foi um verdadeiro show de horror para as mulheres. A atriz Jeniffer Dias, o ator Marcelo Médico e o cantor Paulo Ricardo eram os convidados do dia para falar de temas como pressão no trabalho e o peso das palavras que dizemos sem pensar e como ela pode afetar a vida das pessoas.

Mas, no meio da conversa, um banho de preconceito, manterrupting (quando um homem interrompe a fala de uma mulher), mansplaining (quando um homem quer tentar explicar para uma mulher algo que ela já sabe) tomou conta do programa.

A ideia da discussão era que cada participante do programa usasse um aparelho chamado sussurofone, um cano que projeta no ouvido o que você fala. A intenção era levar os participantes à reflexão das palavras que falam no dia a dia. “Será que a gente ouve o que fala? Será que a gente presta atenção nas palavras que vai despejando ao longo do dia? Será que nossas palavras têm o poder de afetar o outro?”

No telão do programa, aparecia uma frase projetada que os participantes deveriam ler e comentar. Marcelo Médici leu a primeira frase que era “Até que para uma mulher você é uma boa chefe”. Depois, Fátima mostrou outras frases machistas, como “até que para uma mulher você dirige bem”.

Neste momento, Paulo Ricardo resolveu interromper Fátima e disse que “as pessoas andam muito sensíveis” e que “de um tempo para cá tem essa praga do politicamente correto”. Típico de um homem que acha que não tem nada demais em uma “piada”.
Jeniffer, que interpreta Dandara em Malhação, disse que “não cabe mais esse tipo de piada”, sob aplausos da plateia. Desta vez, então, ela participou usando o sussurrofone e mais uma vez Paulo Ricardo a interrompeu se referindo a Marcelo Médici, perguntando se o politicamente correto não o incomodava.

Marcel disse que incomoda, mas que “temos feito avanços muito importantes, e que tem coisa como a Jeniffer disse, que não cabem mais, realmente”. Disse ainda que acha que há um exagero hoje em dia, mas que chegaremos a um equilíbrio. Jeniffer completou dizendo que na verdade é uma questão de se colocar no lugar do outro.

Depois disso, Paulo Ricardo leu a frase do sussurofone que dizia: “nunca fiquei com pessoas negras porque não me atraem”. Marcelo Médici, então, soltou essa: “Já ouvi gente falar isso de loiros! ‘Eu não gosto de loiros”, como se isso apagasse o preconceito da frase.

Pra completar, Paulo Ricardo ainda exaltou as “mulatas do Sargentelli”, um programa que apresentava as mulheres de forma objetificada nos anos 1970. Fátima Bernardes foi clara dizendo aos participantes que esse tipo de coisa não tem mais lugar na sociedade hoje em dia.

 

 

E o show de horrores não parou por aí. A apresentadora pediu para Jeniffer contar sobre o processo de ‘embranquecimento’ que ela sofreu quando era mais nova e ela começou falando da época em que tinha o cabelo alisado e mais uma vez vimos aí o manterrupting e mansplaining quando Médici a interrompeu para explicar que “amor, isso é moda”. As duas afirmaram para o ator que isso, na verdade não é moda, mas uma necessidade de aceitação, porém o ator não se convenceu e continuou afirmando que era moda.

Um homem branco querendo explicar o que afeta a autoestima de uma pessoa negra, é demais, não é mesmo?

Jeniffer encheu os olhos de lágrimas e explicou que, quando criança, não tinha nenhuma mulher negra para se inspirar nas capas de revista, e que agora, ela se orgulhava de estar em “Malhação” com seu cabelo afro. Paulo Ricardo, mais uma vez a interrompeu dizendo que Naomi Campbell sempre teve cabelo liso e que Beyoncé é loira.

Quando finalmente Jeniffer conseguiu falar, disse que, assim como Dandara, personagem que interpreta na novelinha da Globo, ela mesma é uma ativista na periferia e que quer dar oportunidade para quem faz arte mostrar isso para o mundo.

Este é um exemplo do que mulheres passam diariamente. Este é um exemplo do que mulheres negras enfrentam diariamente. Como, um homem branco, acha que pode explicar a uma mulher negra o que ela sente ou como ela se via ou não representada? Um verdadeiro show de horrores, que mostram que ainda temos um árduo trabalho a fazer para gerar empatia, acabar com o preconceito velado e o machismo.

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