O assédio on-line não é novidade. Desde os tempos do Orkut já haviam queixas de cantadas intrusivas. Algumas inofensivas e fáceis de ignorar, outras pesadas, o fato é que a popularização das redes sociais traz também essa faceta incomoda da vida real para nossas conexões.
Mas se isso pode ser estranho em redes como o Facebook, a coisa fica realmente bizarra ao se manifestar em uma rede como o LinkedIn.
Criado para ser um espaço de contatos profissionais e “networking”, o LinkedIn hoje acumula mais de 360 milhões de usuários – e nem todos seguem o que seria a etiqueta esperada dentro de uma rede voltada exclusivamente para o mercado de trabalho.
O caso da advogada londrina Charlotte Proudman, de 27 anos, chamou atenção para o problema ao denunciar uma mensagem de assédio de outro advogado.
Ele preferiu elogiar a foto da moça ao invés de focar em seus atributos profissionais. “Eu entendo que isso seja completamente politicamente incorreto, mas essa sua foto é deslumbrante! , escreveu Alexander Carter-Silk, 57 anos, sócio da empresa de advocacia Brown Rudnick.
Charlotte tornou pública a troca de mensagens, mostrando sua indignação: “Meu namorado recebe mensagens perguntando se ele se interessa por um emprego nos fundos de hedge, eu recebo convites de homens para sair. Eu quero que as pessoas saibam que isso não é aceitável. Não quero ser avaliada pela minha aparência.”
Aqui não é Tinder
Charlotte teve reações mistas – teve reação de algumas fontes, mas muito criticada por outros por ter “exagerado” na resposta, já que muita gente achou que não havia nada demais em um simples elogio.
Mas a linha pode ser tênue. Ao perguntar sobre o tema para algumas leitoras, o Plano Feminino recebeu depoimentos como esse: “Não é a primeira vez: eu aceito um pedido de conexão no LinkedIn esperando algum contato profissional e a pessoa manda inbox dizendo que gostou da minha foto, que quer me conhecer. Quando respondo que não, dependendo do cara, recebo ofensas grosseiras em seguida.” – leitora que prefere não se identificar.
Matéria do Daily Dot, mostra que a coisa pode se tornar mais complicada para profissionais como jornalistas. Laurie Penny contou que, ao deixar o perfil sempre acessível para falar com leitores, acabou recebendo mensagens que iam de fantasias sexuais a ameaças de estupro.
Além da óbvia agressão, algumas profissionais questionam se isso não coloca em cheque a credibilidade do LinkedIn como rede de contatos profissionais, ainda mais com artigos que colocam a plataforma como “O novo site de relacionamentos On-line”. Claro, pode acontecer um desses casos no qual pessoas se apaixonam em lugares improváveis. Mas esse tipo de exceção não deveria servir para impulsionar o LinkedIn como ferramenta de cantadas.
Depois do caso de Charlotte, outras mulheres resolveram expor o tipo de mensagens que recebem, como dezenas que receberam a mensagem do americano David Mark – que além de inconveniente, mostrou-se um trapalhão e mandou a mensagem com a lista de destinatárias. Elas começaram a se falar e denunciaram o Don Juan.
Mas talvez a iniciativa de denuncia mais interessante seja o Tumblr SocialCreeps.com que mostra mensagens bizarras recebidas por usuárias. Criado pela estrategista de mídias interativas Ashley Olson, o site nasceu depois que ela e sua irmã gêmea receberam mais de 250 mensagens com assédio pelo LinkedIn.
Vale lembrar que a plataforma disponibiliza recursos para a segurança de seus usuários. Você pode mudar suas configurações de privacidade e segurança e também denunciar mensagens inapropriadas.
O assédio pelo LinkedIn pode custar caro para profissionais e para a plataforma. Tanto pode manchar a reputação de empresas que tiverem assediadores na rede quanto afastar as mulheres que não vão ver nessa uma plataforma séria – afinal, o objetivo é fortalecer contatos de trabalho, não mensagens sobre seu lindo sorriso.