Quando eu tinha 15 anos eu não sabia o que era feminismo, ou pelo menos não o termo certinho. Sabia que minha mãe e suas amigas lutavam por igualdade de gêneros, por salários melhores e, principalmente, pela forma como a mulher negra era (e ainda é) vista/ tratada/ inserida na sociedade.
Com o passar dos anos descobri o termo para aquilo que sempre vi minha mãe fazer, e entendi o porquê era tão importante compreender plenamente o contexto em que nós mulheres vivemos.
Passei boa parte da minha adolescência morando no subúrbio do Rio de Janeiro, num sub-bairro de Jacarepaguá chamado Praça Seca. Tinha uma locadora de vídeo perto da minha casa, e eu passava lá na volta da escola. Sempre gostei muito de cinema, então escolhia ver um lançamento e outro antigo.
Não consigo pensar em uma capa de DVD que não era uma mulher branca, loira, com corpo perfeito (pelos padrões atuais de beleza), sorrindo e em sua maioria com homens a sua volta como se a desejassem de alguma forma.
Algumas vezes a capa não tinha nada a ver com o enredo do filme, mas a capa chamava atenção e somente isso parecia interessar. Como os nomes eram traduzidos, eu não conheço o título em inglês de nenhum deles, mas em português era sempre na linha da “ex-namorada doida”, “lutando pela gostosona”, “ela é o cara”, “amigos à parte porque por mulheres podemos nos matar”, “ele não te ama”, “ele não tá a fim de você”, e daí pra pior.
E eu estava bem acostumada com isso, e podia até me incomodar, mas nada que eu não esqueceria depois de 5/10 minutos.
Acontece que isso hoje me dá repulsa demais. E fico muito feliz em ver essa mudança, e, além disso, fico extremamente feliz em ver meninas hoje em dia com a mesma idade que eu tinha na época sentindo-se enojadas com isso também.
Eis que descubro algo GENIAL, pois não existe termo melhor para descrever o que é o Teste de Bechdel.
Alison Bechdel é uma cartunista norte-americana, que assim como eu e milhões de mulheres ao redor do mundo, estava cansada da forma como as mulheres são retratadas em filmes. Em 1985, uma personagem de Dykes to Watch Out For, sua série de tirinhas, expressa a crítica na forma que acontecem os relacionamentos entre as mulheres nos longas metragens.
A partir deste fato criou-se o conhecido Teste de Bechdel, onde há três critérios que dirão se o filme (ou qualquer forma de audiovisual) passa no teste ou não.
1 – A existência de pelo menos duas mulheres com nomes.
2 – As mulheres conversam uma com a outra.
3 – O motivo da conversa deve ser algo que não seja um homem.
Pode até parecer fácil, mas juro que não é.
De acordo com pesquisa feita neste ano pela Universidade da Califórnia do Sul, em parceria com a ONU Mulheres, Fundação Rockefeller, Instituto de Mídia e Gênero Geena Davis, de todos personagens com falas em filmes pelo mundo, somente 30,9% são mulheres.
Não é à toa que Meryl Streep, Cate Blanchett reivindicaram o lugar da mulher no último Oscar; Viola Davis fala além da mulher, mas a mulher negra no Emmy; Taís Araújo, Cris Viana falam abertamente nas redes sociais.
Mas, como nem tudo está perdido, temos a prova de alguns filmes que passaram no teste:
– Histórias Cruzadas
– Azul é a cor mais quente
– Cisne Negro
– Pequena Miss Sunshine
– Juno
– O sorriso de Mona Lisa
Ainda é uma porcentagem pequena comparada aos filmes que não passaram, mas dia após dia ganhamos mais voz e mais espaço para sermos não objetos sexuais, entretenimento barato, mas sim mulheres fortes e competentes que somos.