A Marcha das Mulheres Negras 2015 aconteceu dia 18 de novembro em Brasília, com mais de 20 mil pessoas presentes reivindicando as condições socioeconômicas, trabalhistas, sistema de saúde, entre outros assuntos que estão presentes na vida das mulheres negras que são maioria demográfica, porém são vistas e tratadas como minoria.

A proposta é um retorno à unicidade da luta negra com a reunião da negra médica, doutora, advogada, empresária, veterinária, professora, diarista, frentista, dona de casa, DJ, bailarina, mãe, avó, católica, evangélica, do candomblé, que perdeu parentes no Carandiru, na Candelária, na violência nas periferias que mata jovens negros diariamente, ou seja, é uma união de todas essas mulheres, que antes de qualquer coisa, são mulheres negras.

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Os motivos da Marcha são a luta diária contra o machismo, o feminicídio negro, a erotização das crianças para preservação da infância, a homofobia, a pedofilia e a cultura do estupro.

Somos 49 milhões de mulheres negras no Brasil, maior população negra fora da África, entretanto a cada 1 hora e 50 minutos uma mulher negra morre. Houve um aumento de 54% de assassinato de mulheres negras.

A chance de sermos estupradas é três vezes maior do que mulheres brancas. Sobre a violência doméstica somos as maiores vítimas, sem falar da violência midiática racista que exclui e invisibiliza a mulher negra, e quando retratadas somos a empregada doméstica, mulher de bandido, prostituta, nunca a advogada, a empresária, modelo, médica, entre tantas outras possibilidades.

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A representatividade é essencial para construção da autoestima das crianças e jovens adolescentes. Como irão acreditar que podem ser algo que não veem?

 

“Marchamos por igualdade, não por que somos iguais (pois não queremos) e sim, por que somos equivalentes.”

* Thaís Renata de Lima professora e integrante da Uneafro.”

 

Ao expormos que temos uma história, que nossas ancestrais lutaram com garra nesse chão brasileiro e que a resistência feminina está em nossas veias, damos força às jovens que estão lutando hoje por melhores condições de vida, que lutam por respeito. Lembrar de mulheres como Aqualtune, Acotirene, Luisa Mahin, Dandara, Maria Firmino dos Reis, Carolina de Jesus, Maria Brandão dos Reis, Antonieta de Barros, Lélia Gonzales, Beatriz Nascimento, Laudelina Campos, Theresa Santos, Azoilda Loretto da Trindade, entre tantas outras que fizeram e fazem a diferença é dar visibilidade e sentido à nossa história, à nossa luta, para nos fortalecer ao combate à sociedade racista que vivemos.

Uma mulher negra ganha quatro vezes menos que um homem branco. Um homem negro ganha duas vezes menos que uma mulher branca. Impossível não concordar com a grande Elza Soares “a carne mais barata do mercado é a carne feminina negra”.

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Somos vistas nacional e internacionalmente como objeto sexual, um produto a ser consumido e largado. Nós mulheres negras não somos a mulata exportação, somos mulheres fortes e guerreiras, donas do nosso destino e capazes de ditarmos nossa história.

A Marcha visa a igualdade de oportunidades, pois não nos contentamos com a exceção. Não queremos mais histórias como a da Claudia Silva (mulher assassinada por policiais – os quais já voltaram ao trabalho normalmente. Eles afirmam que acharam que ela era ajudante dos bandidos – cultura de atirar e depois averiguar –, porém ela estava indo comprar pão para a família.

Também não queremos ouvir em mais de 500 anos de Brasil que tivemos pela primeira vez uma desembargadora negra, como aconteceu em 2014 quando a juíza Ivone Caetano foi a primeira negra a ocupar o cargo. E o que ocupava anteriormente, como juíza do Tribunal de Justiça do Rio, também tinha sido a primeira negra a chegar em tal posto.

Não nos satisfaz ouvir algumas poucas histórias de mulheres que saíram do caminho que lhes é pré-determinado quando nasce como mulher e negra no Brasil e afirmar que está tudo bem.

Se estivesse tudo bem não precisaria de uma Marcha reivindicando direitos. Eu não estaria aqui dizendo isto.

Mas não está tudo bem, porque somos muitas. Porque somos 49 milhões!

“Eu fui formada para ser crítica. Aprendi a ser crítica. Quero progredir transformando isso.”

* Azoilda Loretto da Trindade

 

Zo, Gratidão.

 

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