Samille Sousa é pesquisadora e consultora de projetos de inovação e design de serviços. Pós-graduada em Design de Interação e graduada em Comunicação e Hipermídia. Viajar é a grande paixão da sua vida, já morou em diferentes lugares no Brasil, e também nos EUA, Argentina, Alemanha e Sudeste Asiático.

Trabalhou com os temas de inovação e design para o Itaú, BBVA Francés, HSBC, AMBEV, Estée Lauder, Porto Seguro, Tecnisa, Johnson & Johnson, Ford e Magazine Luiza, uma mulher cheia de planos, histórias pra contar e que gosta de refletir sobre a vida.

Samille nasceu no sul da Bahia, numa cidade chamada Itabuna, cidade do cacau, do shopping center, lojas comerciais, 30 minutos das belas praias da cidade Ilhéus e cheia de igrejas. Diz que sempre foi tagarela, contadora de histórias e sonhava em ser atriz.

Sua primeira viagem sozinha foi com a escola para conhecer Salvador, a capital de Bahia, e foi o primeiro gatilho de que existiam outros mundos. Aos 17 anos, foi para Salvador, fazer faculdade. “Tinha tentado vestibular para diferentes coisas como Direito, Comunicação e Línguas Estrangeiras, o que mostrava claramente que não sabia o que fazer da vida”, diz aos risos.

Cursou Comunicação e Hipermídia, fez estágios, morou nos EUA por quatro meses e essa viagem foi o primeiro ponto de virada da sua vida itinerante. “Apesar de nunca ter voltado nos EUA de novo, morar lá abriu minha cabeça, me despertou uma sede, uma curiosidade, uma vontade de conhecer o mundo.”

Quando voltou dos EUA, Samille decidiu criar um blog e escrever sobre webwriting e dicas para melhorar textos. Foi aí que uma pessoa em São Paulo viu seu blog, gostou, entrou em contato com a Samille e pouco tempo depois ela saiu de Salvador pra morar em São Paulo e trabalhar.

Algum tempo depois, foi pra Curitiba passar um fim de semana e logo se mudou pra lá. Trabalhou em uma agência onde começou como redatora, passou pela área de planejamento e depois foi pra UX, focando em pesquisa, teste de usabilidade e construção de conceitos.

Como Samille é uma mulher que está sempre em busca de coisas novas, de desafios, mais uma vez saiu de Curitiba e voltou a São Paulo com um convite de trabalho, que infelizmente não foi como ela esperava. Depois que saiu da empresa, decidiu criar uma apresentação contando quem ela era, seus conhecimentos e o que gostaria de fazer profissionalmente.

“Perguntei para ex-colegas o que eu era realmente boa e o que eles achavam que eu deveria explorar mais, isso acabou virando um ritual para mim que a cada x anos refaço esse documento de um jeito diferente para entender minha própria história. Os slides aumentaram bastante.”

De 2012 a 2015 trabalhou no Banco Itaú, liderando projetos de inovação. Depois, passou por um retiro em Piracanga (uma comunidade no sul da Bahia) de 10 dias, em jejum, sem celular, com atividades que a ajudaram a observar várias coisas. “Morei em Piracanga seis meses, lá trabalhei como babá e contadora de histórias para crianças, além de ter me dado de presente uma série de trabalhos terapêuticos.”

Depois dessa experiência, Samille conquistou o mundo! Foi morar sozinha em Buenos Aires, passou pela Tailândia, Indonésia e Singapura e ela diz que foi na Ásia que se encontrou e descobriu o seu papel como mulher.

“De repente eu comecei a conhecer várias mulheres que trabalhavam em coisas grandes e viajavam sozinhas, esse mundo no meu imaginário era representado por homens, pela história que eu tinha. Aquilo mexeu comigo, achei foda!”

Acha que Samille ia parar por aí? Depois disso ainda foi pra Argentina, Berlin, Bahia, e, desde abril está morando em São Paulo. Até quando? Só o tempo vai dizer o momento de criar raízes para uma mulher com asas pra voar.

“Quero agora sossegar um pouco e definir ter lentes claras de trabalho: a pesquisa, as histórias de vida e o social. Até novembro quero ter uma casa virtual (vulgo meu site e conteúdos digitais) organizada para ter mais clientes fora do Brasil.”

Como mulher, Samille diz que para ocuparmos cada vez mais espaços, precisamos continuar falando sobre o assunto sempre que pudermos para ver cada vez mais mulheres poderosas na liderança.

 

“Precisamos não ter medo das descrições de vagas de trabalho, precisamos que muitos homens que ocupam cargos de liderança em grandes empresas parem de achar que dá muito trabalho contratar mulher hoje em dia pois, segundo muitos deles, tudo pode virar um mimimi atualmente. Precisamos ocupar espaços e mais espaços de níveis mais altos, mexer realmente nas peças do sistema.

 

Ainda participo de reuniões onde sou a única mulher que fala algo e as outras ficam em silêncio. A gente precisa falar o que pensa em nossos trabalhos, deixar claro nosso lugar e se algum homem me interrompe, às vezes sou até irônica, dou um sorriso e falo: – meu bem, se eu terminar de falar, você vai entender o que eu quero te dizer.

Ou, como já aconteceu na Argentina, que eu disse para um colega de trabalho: – Você vai me deixar falar ou não? Caso contrário vai ser impossível a gente continuar trabalhando.

No mercado de Design e Inovação mais especificamente, temos agora um grupo que nos ajudamos bastante, um movimento iniciado pela Carla Link. Trocamos informações, dicas e até mesmo orientações sobre como cobrar pelos nossos trabalhos. Quem quiser conhecer, fica aí a lista das mulheres do grupo.”

Ela diz que um dos motivos que a levou se tornar uma profissional itinerante é a paixão por viajar, pelo desconhecido e pelo movimento. Por isso, pra onde chamarem a Samille, ela simplesmente vai! Hoje, por exemplo, ela está morando em São Paulo, mas está realizando um trabalho na Argentina, e acredita que este é o seu momento de ancorar seu modelo de vida e trabalho.

“A diferença é que agora quero planejar melhor. Às vezes, sair muito sem rumo me confundiu internamente e emocionalmente. Acredito que viajar ajuda na construção do repertório do meu trabalho de pesquisadora.”

 

Fotos Elisandro Dalcin.

 

Samille falou ainda sobre os desafios de viver sozinha em vários países diferentes. Ela diz que é uma mistura de sensações: “É sobre solidão e solitude. Sobre acolher nossas contradições e viver a vida. Às vezes fico megafeliz que estou descobrindo um lugar novo e logo depois posso chorar numa estação de metrô me perguntando por quê raios eu decidi ir para aquele lugar.  

Eu sinto medo o tempo inteiro, inclusive tem vezes que eu sinto dor de barriga de tanto medo, principalmente, quando são coisas que eu desejo muito. Já cheguei a passar em aeroporto. Só que eu aprendi a acolher meus medos, a escrever e dar nome a eles. Fazer análise, ter um autoconhecimento é importante para dar ferramentas para lidar melhor com a vida.”

Passando por vários países diferentes ao redor do mundo, Samille teve a oportunidade de conhecer as mais variadas culturas. Algumas delas onde mulheres têm melhores oportunidades e qualidade de vida, em outras onde são submissas e com poucos direitos.

 

“Em alguns lugares eu vi muita submissão, em outros muita independência, ou muita luta e, em outros, mulheres que pouco se importam com tudo o que está acontecendo. Não enxergam valor nos movimentos. E essas perspectivas se cruzam entre todas as partes da sociedade.”

 

Na Tailândia foi onde ela sentiu que as mulheres eram menos valorizadas, já na Alemanha, a percepção é de que há uma clareza maior em relação ao papel da mulher e seus pontos de vista, fazendo com que ela tenha essa sensação de que a mulher possui seu espaço, sua liberdade garantida.

Já na Argentina, Samille diz que esse é o país onde os movimentos das mulheres mais chamam a atenção. “É uma força e coragem impressionantes que elas possuem em um país tão machista.”

Passando por tantos lugares e sabendo da cultura machista muito forte ainda no mundo todo, Samille já passou por situações de preconceito e diz que uma das situações mais comuns era duvidarem de sua capacidade ou acreditarem que fosse um homem que havia feito o seu trabalho.

“Algo muito marcante foi em um projeto na Argentina em que o cliente tentou testar meu conhecimento dos slides que eu tinha preparado. Respirei fundo e, em espanhol muito educado, eu disse: ‘Você tem alguma dúvida especifica sobre o conteúdo ou sobre quem fez?’ Ele desconversou, ficou sem graça, disse que estava em dúvidas e claramente não era sobre o conteúdo. O combo mulher e estrangeira é bizarro em alguns países.”

Como Samille, a gente vê cada vez mais mulheres que estão em busca de oportunidades em outros países e, para quem está procurando seu espaço no mundo, ela dá algumas dicas pra pensar na melhor opção para que cada mulher crie sua história e conquiste seu espaço:

“É importante primeiro ter claro qual o modelo de vida você quer e quais são as habilidades que você tem. O quanto você está disposto a abrir mão de algumas coisas também e a se redescobrir profissionalmente. Pesquise sobre os lugares que você gostaria de trabalhar e mande uma mensagem na cara dura mesmo. Muitas vezes a oportunidade vem da iniciativa.”

Esta mulher poderosa, que tem o mundo como sua casa, também possui outros tantos planos audaciosos. Como mulher, Samille quer focar no autocuidado, no emocional, sexualidade, relacionamentos e ser coerente.

Como profissional, ela quer encorajar as pessoas que cruzam seu caminho e os lugares onde trabalha a darem o melhor deles nesse modelo de parceria. “Assim, poderei circular em diferentes ambientes e espalhar isso. Além disso, também quero trabalhar com mais mulheres e nos fortalecer cada vez mais.

Estou em um momento que até novembro quero lançar meu site novo e ter um projeto mais sólido de trabalho. A ideia é continuar sendo independente e ter parcerias claras de trabalhos com tarefas e objetivos definidos. Quero especialmente ocupar lugares liderados por homens, a gente tem que se infiltrar e ocupar.

Tem que chamar os homens para o diálogo também. Não adianta a gente ficar nas rodas de sagrado feminino se abraçando (sendo exagerada aqui) e os diretores das empresas e líderes de projetos famosos continuarem sendo homens.

Nesse projeto quero tangibilizar melhor meios para que eu possa e outras mulheres também possam confiar mais nelas mesmas e no que fazem. O processo é conjunto. É sobre confiança. É sobre nossas emoções.

No Brasil, a gente fala pouco do emocional e o índice de suicídio só cresce. Acredito que aprender a lidar com as nossas emoções, em épocas tão difíceis vai nos ajudar a discernir melhor o que queremos fazer, já que o mundo não foi construído a favor das mulheres.

 

Dói acordar e saber que mataram Marielle, que jogaram a mulher do andar do prédio, que sua amiga foi demitida na volta da licença maternidade, que você vai numa reunião e cliente faz piada cretina com você por ser mulher. E cada dia vai doer mais, vamos ter vontade de chorar, mas precisamos continuar lutando para honrar a nossa história.”

 

Para as mulheres que querem tirar seus planos do papel e ocupar cada vez mais espaços, ela deixa uma dica valiosa. “Tem uma vaga de trabalho que você deseja, vai lá e se candidata, não importa se tem 300 coisas na lista, os homens sempre se candidatam e ainda mentem, a gente ainda tem medo.

Recentemente, eu fiz uma entrevista para um projeto que eu disse para o entrevistador: – olha só, meu inglês é okay, meu espanhol é muito melhor. Quando ele terminou, me disse: – todos os homens que vieram aqui falaram que o inglês era fluente e seu inglês é melhor do que todos eles. Eu me senti uma IDIOTA nesse momento. Saí de lá me xingando, tanto trabalho como mulher para isso, Samille? Ainda está enraizado sabe? É uma luta diária!”

Samille é uma mulher cheia de força e garra que quer ver outras tantas mulheres ocupando espaços e saber que podem ser o que quiserem. Queremos inspirar e mostrar que todas podem realizar seus planos. Vamos em frente!

Tem uma história de uma mulher incrível pra contar? Compartilha com a gente por e-mail no [email protected] que queremos compartilhar os planos de todas as mulheres poderosas.

 

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